Zelda e Madeline conversaram por bastante tempo sobre trivialidades até que a visitante decidiu finalmente ver o irmão. Passou com ele pouco mais de uma hora e saiu caricatamente transtornada.
- Eu não sei por que eu ainda insisto em visitar Julian. Escorraçou a todos nós de sua vida e nunca vai mudar, NUNCA! - à soleira da porta lançou um último conselho a Zelda - Esqueça o que eu lhe disse. Se afaste o máximo dele. Julian não faz bem a ninguém e contamina a todos com sua infelicidade. Gostei muito de você, Srta. Hudson e lhe desejo tudo de bom nessa casa dos horrores. Até a próxima.
- Até a próxima, Lady Madeline...
Zelda fechou a porta e foi se encarregar de preparar Coraline para o jantar.
Aproximadamente pelas nove da noite a governanta finalmente se viu livre de seus afazeres e conversas com os demais empregados da casa.
Estava exausta, mas não conseguia parar de pensar em tudo o que ouvira de Madeline.
Aliás, a própria requisitara que a sobrinha fosse enviada a ela no domingo pela manhã, dia e hora em que os empregados podiam ir a missa. Sendo assim ficaria livre durante toda a manhã para tentar se reconciliar com o teimoso patrão.
Após formular seu plano de reconciliação foi dormir um sono tranquilo, carregado com as expectativas de que certamente se entenderiam.
O domingo começou cedo para a governanta. O céu nublado e o vento frio exigiram que Coraline fosse muito bem agasalhada, o que demorava um tempo considerável dada a quantidade de roupas que deviam ser vestidas. Após despedir-se do pai a menina saiu, ainda muito sonolenta, na carruagem pertencente a família Lawrance. O primeiro passo estava concluído, executaria agora o segundo: sra. Barden.
Zelda desceu até a cozinha, onde a velha senhora ainda acertava o desjejum de seu patrão.
- Sra. Barden, pode deixar que eu termino tudo e sirvo a lorde Peterson. - A moça tentava fingir falta de interesse.
A chefe das empregadas parou de cortar as frutas e olhou para Zelda, com uma expressão de descrença.
- Você, Zelda? Tem certeza? Tem certeza de que não vai provocar novamente a fúria de nosso senhor?
- De forma alguma, sra. Barden! Aprendi a minha lição, sei onde é meu lugar. Prometo não me meter em confusão, nunca mais!
A velha senhora lançou mais um longo olhar de desconfiança a mais nova, que logo suavizou-se enquanto ela retirava o avental, apressada.
- Bem, eu preciso ter uma conversa com padre Benton antes da missa mesmo. Menina, apenas monte as frutas picadas com açúcar, ponha tudo junto na bandeja, sirva a lorde Peterson e só volte lá quando ele requisitar, puxando a corda que aciona aquela sineta ali - a sra. Barden indicou um sino com uma placa onde se lia "quarto principal".
- Sim, entendi perfeitamente! - Zelda amarrou o avental na cintura e começou a cortar as frutas, com um olhar angelical.
A empregada assentiu e saiu apressada para seu quarto, para aprontar-se.
Antes mesmo de todos saírem o café já estava arrumado, mas Zelda esperou que todos já estivessem bem longe para começar a arrumar a bandeja no carrinho. Junto também levava uma ânfora com água, toalha, navalha e a tesoura. Tentaria livrar-se de todo aquele pelo que recobria o rosto do homem.
Empurrou o carrinho pela rampa de serviço, através da sala e pelo corredor até a porta dos aposentos mais tristes da casa. Deus duas batidas suaves na porta.
- Pode entrar - lorde Peterson respondeu lá de dentro.
Zelda abriu a porta e a empurrou, passando com o carrinho. Em silêncio atravessou o quarto que ainda estava naquela penumbra horrorosa que parecia ser rotineira, estava cansada daquilo.
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A Megera (Degustação)
RomanceZelda Hudson era uma solteirona assumida. De temperamento forte e língua afiada a jovem possuía uma qualidade muito pouco apreciada nas mulheres em sua época: astúcia. Contratada como tutora da pequena filha de um conde recluso, a moça simples e de...