Capítulo 2

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Capítulo 2

- Não acredito que você fez isso, Mel? - diz Andreza que é minha melhor amiga desde o colégio.

- Mas foi você mesma que estava insistindo para que eu começasse a usar – respondo na defensiva, enquanto recolho os pratos do almoço e os coloco na pia.

- Mas não achei que você fosse fazer isso - ela responde ainda rindo de mim - afinal você nunca faz o que eu digo.

Augusto, que também é meu amigo desde o colégio, está sentado no meu sofá, rindo tanto que mal consegue respirar direito.

Volto para a sala e dou uma tapa na cabeça dele. Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando falei para eles o que tinha feito. Na verdade, acho que tinha perdido a cabeça quando resolvi aceitar qualquer conselho que a Andreza tenha me dado.

- Pare de rir seu idiota – Andreza rebate jogando algo no Augusto. Ele desvia do objeto. - Você sabe que isso é importante pra ela.

E de fato é.

Eu sei que não deveria ser. Às vezes eu queria ser mais como a Andreza que apesar de temos a mesma idade, ela já pegou mais caras do que ela consegue lembrar. Mas eu quase nunca consigo bancar a casual. A menos que eu esteja muito bêbada, o que raramente acontece. Até tenho vontade, mas na hora toda a minha coragem saia correndo ladeira abaixo.

Augusto finalmente para de rir, e vai até a cozinha para assaltar o meu pote de sorvete. Poucos minutos depois ele está voltando para a sala, com um pote de sorvete, um de nutella, uma colher enfiada na boca, e pelo menos três tipos de caldas, e se joga novamente no sofá.

- Então - começa ele - já recebeu algum Match? – pergunta por fim.

Sinto meu rosto ficar vermelho.

- Recebi alguns - eu digo tentando não olhar para Andreza - Mas não foi para um deles que mandei a mensagem - murmuro.

- Melissa... - Augusto começa a falar, mas Andreza o interrompe apenas com um gesto de mão. E conhecendo-os tão bem como eu os conheço, quando um deles me chama por "Melissa" e não por Mel, é porque o bicho ia pegar.

Faço cara de inocente.

- Melissa Albuquerque – Andreza fala com uma voz bem séria - como assim não foi para um deles que você mandou a mensagem? – ela completa me fuzilando com o seu olhar carregado de delineador.

Acabo contando tudo para eles, e Augusto novamente começa a rir, até que eu ameaço tirar o pote de sorvete dele, e ele para. Andreza fica apenas me encarando como se não acreditasse nas palavras que sairam da minha boca. Ela balança a cabeça para cima e para baixo, bem lentamente, enquanto franze os lábios formando um biquinho.

- E ai? - pergunta ela quando eu finalmente acabo de falar.

- E ai, o que? - pergunto de volta. Ela rola os olhos, como se a pergunta fosse obvia e eu fosse idiota, e talvez eu seja.

- Ele te respondeu? – Augusto se intromete já impaciente. Olho para ele, e ele sorrir em resposta. - isso é tão empolgante – ele diz dando pulinhos no meu sofá.

- Não sei – respondo, minha voz quase sumindo de tamanha vergonha que sinto.

- Não sabe o que, mulher? – Andreza pergunta jogando as mãos no ar num sinal de impaciência.

- Não sei se ele respondeu – confesso por fim - eu não vi.

- Mandei a mensagem e larguei o celular embaixo do travesseiro – falo depois de alguns segundos. Como se isso pudesse explicar o fato de eu ser lesada.

- Ai meu Deus – Andreza se levanta, ela caminha até onde eu estou e me sacude de leve - você não absorveu nada do que eu disse? - pergunta ela, arregalando aquele olhões para mim.

Dou de ombros.

- Viada - diz Augusto - o que você está esperando? Corre lá e vai pegar esse celular.

Andreza gira meu corpo em direção ao corredor que dá para o meu quarto, e dá uma tapa na minha bunda, me fazendo dar um pulinho.

Sigo pelo corredor, meio andando meio correndo, com o coração aos pulos.

Idiota! - resmungo- foi apenas uma mensagem. Se ele responder não vai ser pra te pedir em namoro ou algo assim.

Hesitante, entro no quarto, tateio a cama a procura do aparelho que eu tinha colocado embaixo do travesseiro entre os lençóis. Pego o telefone e volto para a sala.

Sem coragem de verificar o aparelho, o entrego a Andreza, que está sentada no sofá ao lado do Augusto, e que também está atacando o meu pote de sorvete.

Ela pega o celular e eu me sento na mesinha de centro, de frente para eles.

Ela aperta o botão lateral e a tela acende, estende o parelho para que eu coloque a senha e depois o recolhe novamente.

Augusto se chegou para mais perto dela, os dois se espremendo para conseguir compartilhar a tela pequenina do meu celular.

E eu apenas espero, olhando para as minhas mãos, que estão entrelaçadas no meu colo, com vergonha de encara-los.

Levanto o olhar quando vejo Augusto levar uma mão a boca e depois ele começa a bater palmas e dar pulinhos no sofá. Andreza arregala os olhos, e continua a mexer o meu celular. Percebo que ela não está digitando, o que para mim é um alivio.

Ela provavelmente está verificando o perfil dele – penso aliviada.

Augusto se levanta e começa a dançar ao meu redor, ainda batendo palmas. Levando em conta sua reação, o carinha, foi aprovado. Acho que o nome dele é Cristiano.

- Bicha, que boy lindo é esse? – Augusto comenta ainda eufórico - se eu pegasse partia ele em dois.

Augusto é o melhor amigo que alguém pode ter. Chegamos a ficar algumas vezes durante o ensino médio, até ele finalmente revelar que até sua alma era gay, e coberta por purpurina cor de rosa. Ele as vezes pode exagerar um pouco, mas é inofensivo.

Andreza finalmente para de mexer no meu celular e o joga no meu colo. Ela se levanta, e caminha até onde Augusto continua fazendo sua dancinha engraçada.

Pego o celular do meu colo, e toco na tela, uma, duas, e uma terceira vez, até ela acender. Coloco a senha e abro o Whats App. O aparelho carrega antes de mostrar os nomes dos contatos, e quando finalmente acaba de atualizar, é que vejo a notificação.

6 mensagens não lidas.

Meu coração erra uma batida, e depois dá um pulinho estranho no meu peito.

Clico no novo contato e espero abrir, carregando as novas mensagens.

Cristiano: Oi, tudo bem sim.

Não tem problema nenhum.

Claro que podemos conversar ;)

Como você está?

Oie?

?????

Nesse momento eu posso jurar que morro mil mortes.

Deu Match, e agora? {DEGUSTAÇÃO}Onde histórias criam vida. Descubra agora