Capítulo 1

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Capítulo 1

Eu não sabia mais o que fazer, olho para o retrato na minha parede, uma fotografia do filme bonequinha de luxo, e me sento ainda mais envergonhada, não pela imagem, mais pelos caminhos que meus pensamentos insistem em percorrer. Volto minha atenção para a tela apagada de meu celular.

"Como fui tola" penso.

Volto a encarar a foto do João Victor, que agora está ao meu lado na cama. Um cara incrivelmente lindo e charmoso com quem esbarrarei na faculdade, meses atrás. Desde esse primeiro momento eu soube que não poderia haver nada entre a gente, afinal era a lei do universo. Garotos como ele não ficam com garotas como eu, mas isso não impediu esse meu coração malandro de bater mais forte sempre que eu estava na mesma sala que ele.

Tentei me aproximar, mas sempre agia de forma estranha e idiota quando estava perto dele, não sabia como ou o que me fazia agir de forma tão estupida, mas parecia inevitável, como se meu cérebro simplesmente perdesse o seu funcionamento, e eu me odiava por isso.

Agora que tudo tinha acabado de forma tão trágica, eu me sentia ainda pior por achar que precisava mudar para agradar alguém como ele. Ele era lindo, e esperto, tinha um "que" intelectual que me deixava louca, tinha uma ótima conversa, e aquele forma dele passar a mão pelo cabelo?

Oh Deus, como eu aguentaria aquilo?

Havia sonhado com ele tantas noites, imaginando como seria o dia em que ele perceberia que éramos perfeitos um para o outro. Mas esse dia nunca chegou, e a realidade bateu na minha porta, como um tijolo caído do céu bem em cima da minha cabeça.

Eu sei que sou uma garota incrível, apesar do meu péssimo gosto para homens. Eu sei como sou inteligente e engraçada, apesar de possuir aquele tipo de humor ácido, que nem todos sabem apreciar, e que quase sempre deixa as pessoas confusas, mas sempre achei que essa era a melhor parte de mim.

Eu busquei, mesmo que sendo da maneira errada, mostrar minhas qualidades para ele, ser eu mesma. A gente tinha tanto em comum, ambos adorávamos desenhos, quadrinhos e claro não podiam faltar os filmes do Tarantino. Mas tudo isso não adiantou de nada quando todas essas qualidades foram ofuscadas pela chegada dela. Ah claro, ela tinha que ser tudo aquilo que eu não era. Linda, extrovertida, e incrivelmente sexy, até eu poderia me sentir atraída por ela, caso gostasse de garotas, o que não era o caso, enquanto eu, Melissa, muito mal tinha chegado a viver um relacionamento de verdade. Eu não podia contar com aqueles carinhas com quem eu tinha o mal hábito de flertar, afinal eu estava apenas praticando.

"Oh Céus!" resmungo fazendo de tudo para não começar a chorar. Encaro mais uma vez a tela apagada do celular buscando, e pedindo a Deus, que me dê um pouco de coragem para que eu continue com aquilo. Mas acho que Deus não é a favor dos aplicativos para relacionamentos... Deixa para lá.

Muitos dos meus amigos disseram que eu não tinha nada a perder, na verdade minha amiga Andreza que havia me dito isso, o que poderia ser uma super verdade. Outros me encorajavam a ser mais ousada e aproveitar a minha vida, afinal eu nunca tinha feito nada parecido e para tudo existia uma primeira vez.

Todas aquelas coisas eram verdades, e ao mesmo tempo não eram. Eu não era tão inocente quando parecia, afinal tenho 23 anos.

Eu odeio a forma como tenho que ficar listando as minhas qualidades para não ficar mais deprimida do que já estou.

Passo o que me parece uma eternidade encarando o vazio de meu quarto, e por fim, sem pensar duas vezes, pego o celular e toco na tela duas vezes esperando que a mesma acenda e solicite a senha de acesso. Digito a senha rapidamente e logo clico no botão para o aplicativo, esperando, impaciente, que o mesmo carregue as opções de pretendentes.

Deu Match, e agora? {DEGUSTAÇÃO}Onde histórias criam vida. Descubra agora