Capítulo 4

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Estávamos em silêncio pelo que parecia uma eternidade. 

Daniel não olhava diretamente para mim, só estava o mais distante possível, encarando os próprios pés. 

-Senhor Walter, eu acho que seria melhor encerrarmos a pesquisa. Sinto...que essa situação não será boa para sua...O que quero dizer, é que irei falar com o Diretor assim que sair desta sala para cancelar sua participação no projeto. 

O nó estava em minha garganta. Os olhos do rapaz me fitaram, com raiva.

-Você vai embora? Como pode fazer isso?! -Percebi que ele pressionava as costas contra a parede, como se isso o afastasse de mim.

-Eu vim fazer uma pesquisa e você acaba de me dizer...aquilo. -Não consegui repetir as palavras de Daniel pois não queria crer que aquilo havia acontecido.

-Eu não disse que queria casar com você e ter doze filhos, ta? Eu só falei que...você me dá esperança. Não é o fim do mundo...eu acho.  Eu não queria me apaixonar, ok? Não queria precisar de ninguém, na verdade eu não queria nada. Mas ai você apareceu... E olha eu quis tudo. Me sinto cada dia mais envolvido em seu sorriso e a cada vez que entramos em contato é como se nenhuma preocupação parecesse existir 

-Isso não é certo. 

-Nunca fiz nada certo. Eu matei minha família, bati em policiais e agora estou apaixonado por uma médica que me vê como um projeto. Mereço o diploma de maior trouxa do mundo. -Daniel solta uma risada seca, debochando de sua própria dor. 

-Preciso ir. -Sussurrei. Toquei no botão que chamava os guardas. Daniel parecia miserável. Quando Cameron entrou, o medo que me consumiu mais cedo, voltou. 

-Por que ele está de pé? Aconteceu algo? Ele te atacou? -O policial perguntava com raiva. 

-Não. Ele foi ótimo. Só estávamos esticando as pernas. -Minha voz cheia de falsa confiança, mas o suficiente para convencer o agente.

-Até amanhã, Lizzie. -Daniel diz, recebendo um olhar repleto de fúria vindo de Cameron. 

Só sai daquela sala, andando o mais rápido que a normalidade permitia, pensando o que deveria fazer.  

                                                   ***

Haviam exatamente 24 chamadas perdidas do Cameron. 

Eu havia trancado a porta com medo dele aparecer. Inclusive, apaguei todas as luzes para ele pensar que não estou em casa. 

Como a pequena luz do meu celular, lia e relia o arquivo de Daniel Walter. 

Já sabia cada palavra decorada, mas eu precisava achar uma brecha naquilo. Algo que pudesse liberta-lo. 

Precisava tirar-lo de lá. 

                                                   ***

Quando cheguei ao estacionamento, Cameron me esperava. Havia um grande hematoma em seu queixo.

-Eu te liguei muito! -Ele diz, preocupado. Continuei andando em direção ao prédio, ignorando o rapaz. -Lisa! 

-Estou atrasada para a entrevista de hoje. Walter já está na sala? -Digo, indiferente. 

-Er...vou pedir para buscarem ele. Podemos conversar? -Já estávamos em frente a sala de entrevistas. Haviam policiais perto, o que tornava aquela conversa segura. 

-Não. -Entrei e fechei a porta, me deliciando o vazio da sala. 

Sentei, ansiosa. 

Foi quando a porta se abriu e eu desejei nunca ter visto aquilo.

Prisioneiro 407Onde histórias criam vida. Descubra agora