Capítulo 2

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-Daniel. Certo. -O rapaz continua me encarando, inexpressivo.

-Você vai me entrevistar ou olhar para mim? -Ele questiona. Foco. O primeiro contato é sempre complicado.

-Bem, queria perguntar se essa pesquisa te deixa inconfortável de alguma forma. -Era importante sempre perguntar a opinião do candidato.

-Tem algo bem inconfortável acontecendo nas minhas calças, mas nós podemos resolver bem rapidinho. -Daniel sorri, malicioso. A técnica de intimidar com insinuações sexuais ocupava um capítulo enorme da minha pesquisa. Era só continuar.

-O que você acha que essa autorização vinda da sua familiar mais próxima significa? -Lembro claramente das palavras que a tia dele disse: 'Quero que todo mundo entenda o monstro que ele é, se possível, faça ele perceber que vai arder no fogo do inferno'.

-Pergunta ruim para um primeiro encontro, amor. -Daniel morde os lábios. Uma das técnicas que mais funcionam nesses casos onde o criminoso utiliza de frases com duplo sentido é responder o mais asperamente possível. Nunca mostrar que aquilo incomoda, pois isso será gratificante para condenado.

-Sr. Walter, isso não é um encontro. Talvez quando você voltar para sua cela minúscula e suja, você sonhe com um encontro. Nesse momento, estamos em uma entrevista e acredite, se não responder as perguntas, faço sua vida virar um inferno.

Tudo bem, eu exagerei. No máximo eu manteria ele nessa sala comigo por horas e horas. Daniel mordeu os lábios e sorriu.

-Docinho, minha vida já é um inferno. -Hora de começar.

-Então, Daniel. Se pudesse sair desse inferno, o que faria? -Ele me olha surpreso.

-Está me chamando para sair?

-Jamais. Gosto de homens que não foram presos. -Ele ri. Por fora eu parecia super confiante mas estava quase morrendo de nervoso. Na minha cabeça a única coisa que ecoava era 'Não me estrangula'.

-Se eu não tivesse sido preso, teríamos uma chance?

-O que você provavelmente estaria fazendo se não estivesse preso? -Melhor parte do jogo de perguntas é por minhas perguntas reais no meio.

-Estaria morto.

-Por que acha isso?

Ele sorriu. Percebi que Daniel Walter sorria bastante, sempre chamando atenção para seus lábios. Provavelmente precisou usar a apelação desde cedo para conseguir algo.

-Você leu minha ficha, claro. -Ele se encosta distraidamente na cadeira. -Então sabe que meu pai era uma alcoólatra e minha mãe apostava compulsivamente. Acha mesmo que eu estaria vivo?

-Seus pais representavam alguma ameaça física para você?

-Eles não. Eu sim. Provavelmente teria enfiado uma bala na boca antes de terminar o fundamental.

-O senhor costuma ter muitos pensamentos suicidas?

-Daniel. Não sou mais novo que você. Senhor...é para velhos ou idiotas.

-A figura paterna te incomoda? -Ele fica sério.

-Você acha que se não me incomodasse, eu teria enfiado uma faca no meu querido pai? -Falar do crime não o incomodava tanto quando pronunciar a palavra pai.

-O que você sente ao falar do seu pai? -Sua expressão muda completamente para pura raiva.

-Abra a merda da porta antes que eu mate você.

Lentamente, sem demonstrar que eu estava nervosa, toquei o botão na mesa.

Rapidamente, Cameron e outro policial entraram.

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