Capítulo Um

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~ LOUÍSE ~

Naquela manhã estava fazendo muito calor, então eu e Clair decidimos ir para o parque aquático.

— Já peguei as minhas coisas, podemos ir? — Ela disse enquanto amarrava o cabelo em um rabo de cavalo.

— Claro, já peguei tudo também.

Pegamos nossas bolsas e fomos para o carro dela. Eu com meus 14 anos na época ainda não podia dirigir, enquanto ela mais velha do que eu, com seus 19 anos podia. Entramos no carro e pegamos a estrada. Não havia trânsito aquele dia, então poderiamos ir sossegadas.
Clair era minha melhor amiga desde que me conheço por gente. Ela é filha de um amigo do meu pai, então considero ela como uma irmã mais velha.

— Não acredito que vou ser obrigada a ouvir isso! — Eu disse enquanto tirava o cd de rock que ela acabara de colocar no rádio.

— Desculpa, mas até você ter 18 anos e ter seu próprio carro vai ser obrigada sim. Meu carro, minhas regras, minhas músicas. — Ela sorriu e bateu em minha mão para que eu parasse, que por minha vez continuei na tentativa de tirar aquele cd horrível dali. — Lô, não adianta! Tire a mão dai ou vamos ter que brigar aqui. — Ela me olhou de um modo desafiador.

Levantei as mãos para o alto como se tivesse me rendido, mas logo avancei e comecei a fazer cócegas em sua barriga.

— Para! — Ela tentava dizer entre gargalhadas. — Eu estou dirigindo, socorro, é sério!
Parei e sentei quieta em meu lugar.

— Desculpa. — Eu disse ajeitando meu cinto.

— Tudo bem. Mas... — Ela fez uma pausa — tudo que vai volta!

Ela tirou uma mão do volante e começou a fazer cócegas em mim de um jeito desajeitado. Não foram nem 10 segundos, mas foi tempo suficiente para eu ver que estávamos entrando na contra-mão.

— CLAIR! — Eu gritei e virei o rosto dela para que ela visse o que estava acontecendo.

Ela então rapidamente nos fez voltar para a estrada. Suspiramos aliviadas. Meu coração estava acelerado, então abri um pouco a janela para pegar um ar. — Estamos quase chegando. — Ela disse sorridente.

— Ainda b.. — Fui interrompida com um impacto forte.

Foi tudo muito rápido, em um segundo estávamos na estrada, e no outro tudo estava rodando, inclusive nós dentro do carro. Quando o carro parou por causa do pequeno muro do acostamento da estrada eu olhei em minha volta com dificuldade, meu pescoço doia muito. Havia fumaça no local, vidro quebrado e sangue. Olhei rapidamente para Clair que estava de olhos fechados. Tentei me soltar do cinto de segurança para ajudá-la, mas não consegui. Procurei sua mão e a segurei, estava fria e sem movimento. Senti minha respiração diminuir. Não entendi o que aconteceu, pois minha visão estava ficando embaçada; mas senti um forte aperto em minha mão como se Clair tivesse a apertado. Havia alguém ali! Escutei alguém dizer em meu ouvido "vai ficar tudo bem". E então tudo ficou escuro.

— Os sinais vitais estão voltando, vamos entubá-la!

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— Os sinais vitais estão voltando, vamos entubá-la!

Abri os olhos devagar e vi aquele teto branco. Meu corpo doia muito conforme a ambulância andava.

— Bem-vinda de volta. — O paramédico disse para mim.

— Cadê a Clair? — Falei ao me dar conta do que estava acontecendo.

— Moça, qual o seu nome?

— Cadê a Clair? — Repeti.

Minha voz estava abafada por causa do aparelho respiratório.

— Precisamos mesmo saber qual o seu nome garota.

— Onde está a Clair? — Repeti novamente, insistente. Nenhuma resposta. — Eu não posso deixar a Clair! SALVEM ELA, SALVEM ELA POR FAVOR! — Eu gritava enquanto me debatia dolorida naquela maca.

Sim, a Clair havia morrido durante a capotagem do carro e não havia como salvá-la mais, infelizmente.
O velório dela aconteceu pela manhã, e o enterro no final da tarde, quase ao anoitecer. Toda a família e amigos dela estavam lá, inclusive eu. Foi tudo muito triste, havia choro e lamentações por todas as partes, o que me incomodou um pouco porque Clair não gostaria que as coisas fossem assim. Não tive coragem de ir vê-la no caixão, a dor seria muito grande. Chegou aos meus ouvidos que ela estava sorrindo, ou seja, acredito que ela partiu em paz.
A todo momento eu tinha vontade de ir até a pequena sala onde o caixão dela estava e dizer: "Anda sua louca, levanta daí e para de graça!" Mas infelizmente não é assim que as coisas funcionam. Minha ficha ainda não havia caido, apenas na hora do enterro. Aos prantos joquei uma rosa branca em cima do caixão para ser enterrada com ela.
Tentei me esconder para que ninguém me visse chorando. A mãe dela se aproximou de mim, colocou uma não no meu ombro e disse: "Pode chorar, ou até rir... não há uma reação certa."
Aquela madeugada chorei horrores. Passei a noite todinha acordada pensando no quanto seria bom se tudo fosse apenas um sonho.

Meu Querido AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora