Capítulo Dois

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~ ANDREW ~

Ser um anjo nem sempre é tão legal. Sim, nós temos nossas vantagens podendo voar, mas também é algo muito solitário! Muitas vezes eu quero poder falar com alguém, mas não posso! Ninguém me vê, ninguém me escuta, eu sou basicamente como o vento. Eu passo pelas pessoas, as vezes até toco nelas, mas nunca sou visto. Ser um anjo da guarda é proteger e não ser protegido. Minha vida é assim, eu protejo alguém 24 horas por dia e, bom, sou feliz por isso. Tenho 23 anos e não me lembro da minha vida antes de me tornar um anjo. A única coisa que sei é que me tornei anjo aos 23 anos. Nós anjos nos tornamos tais quando morremos, mas apenas os escolhidos viram anjos da guarda. Eu em particular não lembro quando e nem como eu morri. Nós também não envelhecemos. Existem anjos de todas as idades, mas podem se passar mil anos sem que nós tenhamos uma se quer ruga nova no rosto, ou seja, eu nunca vou envelhecer e terei 23 anos para sempre! A parte ruim disso é que nós vemos a vida de outra maneira. Já fui anjo de guarda de muita gente, sempre me apego, e vejo a pessoa se deteriorando. Geralmente começo a ser anjo da guarda de uma vida desde o seu nascimento, então eu vejo ela crescendo, indo para a faculdade, formando uma família, ficando velho e morrendo. É bem triste. Eu não queria que isso acontecesse com Louíse também, por mim ela poderia ter a mesma idade para sempre, assim como eu. Mas eu não posso deixar que ela se torne um anjo, por mais que esse seja o maior desejo dela.
Eu gostaria muito que Louíse pudesse me ver, assim seria bem mais fácil conseguir ajudar ela!
Uma estrela cadente correu no céu, cortando aquela imensidão de um azul escuro, quase preto. Então fiz um pedido: "Eu desejo que alguém consiga me enchergar, já não aguento essa solidão." E então fiquei a observar as estrelas.

💫

Pela janela vi o sol nascendo em meio à todos aqueles prédios. Após dar a conferida rotineira para ver se Louíse estava dormindo bem, voltei para a República dos Anjos e sentei em minha cama. Passei o resto da madrugada todinha olhando pela janela e pensando nas coisas da vida. E agora estou aqui, com o sol me dando bom dia e uma vontade enorme de voar pela cidade.
Gabriel entrou no quarto sem bater na porta, o que me fez olhar rapidamente para a porta assustado.

— E aí cara? — Ele andou em minha direção rápido com um sorriso de orelha à orelha.

— Bom dia senhor mal educado. Quantas vezes vou ter que te lembrar de sempre bater na porta antes de entrar? Você me assustou!

— Nossa, desculpa senhor super educado. Só lembrando que o quarto também é meu!

Sorri ironicamente para ele, que logo prosseguiu.

— E ai, como está Louíse?

— Está bem, eu acho. Ela não tira essa idéia de suicídio da cabeça por nada, e isso é muito angustiante para um anjo da guarda. Sinceramente, eu queria muito que ela pudesse me ver para eu poder conversar com ela e tentar fazer ela se sentir melhor.

— Imagino como deve se sentir, mas infelizmente ninguém pode nos ver.

— Droga! — Olhei para baixo, e então me levantei da cama. — Então eu já vou indo porque o dia só está começando!

Acenei com a mão e sai do quarto. Fui dar uma volta pela cidade e observar a vida agitada das vidas andando pela cidade.

Gabriel era meu melhor amigo, um homem moreno de olhos castanhos. Virou anjo com 25 anos e como nós não sabemos como viramos anjos, não fazemos a mínima idéia de como ele veio parar aqui.
Ele é anjo de uma vida chamada Maria, uma senhora de 62 anos, viúva e que mora com a filha mais velha. Gabriel é o anjo dela desde que veio para o lado dos anjos. Ele vive me contando sobre ela, e eu sei que ele tem um afeto muito grande por ela.

Sobrevoei a cidade por alguns minutos, olhando as vidas agitadas indo até os seus respectivos trabalhos. Observei um homem quase sendo atropelado porque estava prestando mais atenção no celular do que na rua. Uma mulher corria com um bebê nos braços enquanto gritava com o telefone, provavelmente falava com a sua babá, porque dizia "Eu não tenho com quem deixar ele!"
Quando cansei, fui até a casa de Louíse, que estava acordando para ir à escola. Como sempre o mal humor exalava no quarto dela. Toda manhã era assim, eu já estava acostumado. Me certifiquei de que ela estava bem e fui dar mais uma volta pela cidade. A cidade aparentemente estava mais calma, já que mais da metade das vidas já haviam ido para seus trabalhos. Vi Louíse correndo para ir pegar o ônibus, que logo passou. A acompanhei até a entrada da escola. Depois voltei para a república dos anjos e fiquei no terraço...

Meu Querido AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora