SINOPSE:
Quando um coração é partido em pedaços, dizem as regras que só restam a pessoa catar esses pedaços e tentar se curar. Mas quando dois corações são quebrados ao mesmo tempo, em uma mesma noite? Dois corações que tiveram tantas decepções, ma...
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Damien
É estranho você tentar entender a relação da vida e morte, da realidade para o sonho ou no que quer e precisa acreditar. É difícil ter que seguir uma rotina. E o estranho de tudo isso é que eu, Miguel e Seth entramos em uma sincronia doméstica até que digamos tranquila, desde do dia em que recebi a guarda deles, desde a minha alta no hospital. Eles acordam as seis horas, vão tomar banho, enquanto eu faço o café da manhã para leva-los a escola, depois nas sessões para um acompanhamento psicológico. Em meio a tudo isso eles estão se adaptando a essa nova vida comigo, assim como eu com eles. Mesmo tendo que seguir em frente aos trancos e barranco, no meu egoísmo quando vejo aqueles pais, aquela família que parece ser feliz eu fico perguntando a Deus o porquê de tudo isso. O quanto mais eu preciso apanhar para aprender?
Não que hoje eu seja um homem muito religioso, mas depois de três domingos levando Miguel a igreja para tentar manter ele na rotina que vivia, me faz ter perguntas. Tem me feito criar um vínculo, nem sei se posso chamar assim. Mas me faz ter perguntas, me faz lembrar os meus erros, me faz me tornar mais paciente e menos hiperativo.
Muitas vezes eu me despeço deles na porta da escola até com um sorriso, não que não seja verdadeiro, sim ele é, mas não é um sorriso completo. Na verdade é até um conforto que eu quero passar para eles, um que eu estava longe de sentir; um que eles entendiam, porque esses garotos apesar de tudo o que passaram estavam me apoiando, cada um do seu jeito. E mais uma vez estaciono o carro no hospital, pego as petúnias brancas e saio do carro.
Enquanto caminho pelo corredor algumas enfermeiras me cumprimentam, como seu eu já fosse um velho conhecido. O cheiro de antisséptico não me incomodam mais, assim como o barulho de algumas máquinas. Alguns médicos correndo pelo corredor, trazendo carrinhos de ressuscitação, não me faz mais virar para olhar. Mas toda vez que entro nesse hospital ainda sinto a culpa, desde a noite que vi Natalie ir embora, a noite em que entendi que promessas muitas vezes não valem nada. Mas eu fiz uma escolha de seguir em frente, mesmo que tudo de ruim pudesse acontecer, tentar fazer as coisas darem certo; mesmo que tudo esteja tão ruim.
— São lindas, ela vai gostar — A enfermeira chefe do turno da noite passa por mim.
Respiro fundo, olhando para a senhora Selma, hoje eu acredito que médicos e enfermeiros são quase iguais aos policiais. Você faz tudo para salva-los, mas quando não se tem mais nada a fazer a única coisa que você pode é dar um conforto para a família, para o doente. E muitas vezes não se trata nem em ser um bom profissional, mas ter humanidade.