DOIS

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- Ei, Lala! - Molly me chama.

Molly? Molly Sabino? Ex-namorada de Leonardo Berti, miss dos jogos internos desde o 3° ano e "bunda de nós todos"? Eu devo estar ficando louca.

Fui ao encontro da mesma que me esperava junto com seu cachorrinho, a Gaby.

- Eu?

- Tá vendo outra Lala magrela aqui? - Gaby cospe as palavras na minha cara.

- Tá louca, Gaby? Peça desculpas.

Silêncio de ambas as partes.

- Ham, desculpa, acho - ela diz se encolhendo.

Uau, eu realmente devo ter acordado no mundo errado hoje.

- Ótimo - Molly diz sorrindo pra mim de uma maneira que nunca tinha visto antes. Estranho. - Daqui á dois dias é a festa de aniversário do Léo e ele pediu pra eu te chamar. Vamos, vai ser bem legal!

Fiquei paralisada. O Leonardo me chamou pra festa dele, sério? Mas eu sempre achei que...

- Não pense muito, só confirme. - Gaby revirou os olhos de uma forma nojenta, como sempre.

- Tudo bem, acho que posso ir - falei sem certeza. Ainda precisava da autorização do meu pai.

- Top! - ela saiu sorrindo.

Sorri. Eu não acredito que fui chamada pra festa de aniversário de Leonardo Berti. Sorri mais ainda.

Coloquei os fones de ouvido e fui cantando até em casa. Ainda precisava procurar uma roupa pra essa ocasião. Acho que não tenho, já que essas coisas nunca acontecem comigo.

- Pai? - falo abrindo a porta de casa.

Nada.

- Ô, pai! - grito pela última vez e ouço um barulho no corredor.

Corro e encontro ele jogado no chão com uma um monte de latinha de cerveja barata em volta e cheirando super mal.

Eu sabia que meu pai bebia, aliás, todo pai bebe, né? Mas essa cena é a primeira vez que vejo.

Cutuco ele devagar com o pé fazendo o mesmo balbuciar alguma coisa que não entendi.

Ótimo, vivo.

- Sai daqui. - disse ele tentando se levantar mas em vão. Ignoro seu comentário e o ajudo a ficar em pé. Ele anda com dificuldade(mesmo apoiado em meus ombros) até a sala onde se joga no sofá. - O que você quer?

Não sei o que fazer então vou pegar um copo de água na cozinha.

- Primeiro quero que você fique bem. Deita aqui por favor. - com dificuldade o deito no sofá e o cubro tentando ignorar o cheiro horrível de bebida.

Acho que já vi isso na televisão alguma vez.

Deixei meu pai adormecido lá e fui tomar um banho também pra pensar um pouco. Tipo a festa do Léo(sim, já me permiti chamá-lo dessa maneira), o que vou vestir? Não tenho roupa pra isso, como eu já disse, essas coisas nunca acontecem na minha vida mesmo. E do nada estão acontecendo, isso não é estranho? Ah, para de paranoia. Você sempre quis ser legal e agora que está sendo tá desconfiando? Digo á mim mesma pra parar de pensar nisso.

Ao ficar completamente despida percebo os cortes ainda inchados em meu. Passo o dedo indicador levemente por cada marca e então simplesmente deixo a água fria cair sobre meu corpo quente.

As coisas precisam dar certo dessa vez. Eles têm que gostar de mim. É a minha chance agora de ser aceita. É o que eu quero, deixar de ser a garotinha fraca e solitária que ninguém nota e que corta os pulsos quando se sente um lixo. Não quero mais me sentir um lixo e essa festa é a minha chance de mostrar que também ser sei "Top!".

Lembra de Mim?Onde histórias criam vida. Descubra agora