SETE

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Nessa madrugada tive o mesmo sonho das últimas semanas e acordei 5 horas da manhã sem conseguir pregar os olhos novamente. Esperei dar pelo menos umas 7h00 para levantar e dar tempo de chegar no colégio no horário certo.

7h03

Com preguiça me sento na cama e esfrego os olhos. Sigo para o banheiro e ao olhar no espelho noto minhas olheiras profundas. Suspiro. É hoje. Penso.

Faço um coque no cabelo e deixo a água fria do chuveiro de manhã cedo cair sobre mim. Após uns 40 minutos já havia me banhado entre outras higienes pessoais e vestido o uniforme que haviam me mandado. Até que a calça caiu bem em mim mas a camisa ficou folgada demais... sorte que eu não gosto de nada colado no corpo.

Devo ter ficado uns 5 minutos olhando fixamente para mim no espelho e noto minhas cochas um pouco mais grossas.

- Laís - meu pai entra no quarto. - Se apresse, já vai dar 8 horas!

- Mas eu ainda nem fiz o café!

- Sei disso, hoje foi eu que fiz - ele sorri fraco e sai do quarto. - E não demore!

Uau.

Dou uma última olhada no espelho, treino o sorriso mais uma vez e saio em seguida.

- Que carro é esse? - pergunto ao passarmos pela porta da frente.

- Um amigo me emprestou - ele abre a porta e eu continuo encarando o automóvel. - Já deixo você entrar - diz em tom sarcástico.

Ao entrar ligo meu mp3 e a primeira música que toca é Melanie Martinez - Pacify Her. Fico cantarolando o ritmo da música enquanto olho a cidade que cresci passando pela janela. Passo a mão no vidro meio embaçado a fim de conseguir enxergar melhor.

Engulo Seco.

Avisto Molly sentada em um dos bancos da praça durante uns 5 segundos enquanto o carro passava pela mesma. Seus cabelos não parecem mais brilhar tanto e seus ombros estão pra baixo. Não vi seu rosto.

Rapidamente sento-me ereta no banco do carro e tento me convencer de que estou bem, que está tudo bem.

Depois de um certo tempo, presumo que mais ou menos uma hora, consigo avistar no final da rua um edifício de três andares com paredes cor branco acinzentado e algo do tipo cor de vinho aparentemente pintado recentemente. Em cima tem uma janelinha e logo acima uma cruz.

Quanto mais íamos nos aproximando maior ficava o Colégio Interno Nossa Senhora da Anunciação. Minha vontade era de pular pela janela do carro e correr o mais distante possível daquele lugar, mas apenas respiro fundo tentando colocar na cabeça que provavelmente logo irei poder sair desse lugar e que sairei mudada pra, quem sabe, reencontrar todos do C.E.A.R. que me destrataram e fizeram eu me sentir um lixo pelo meu corpo.

Fala sério, sei que muitos falam isso mas é a mais puríssima realidade: se você é magro te julgam, se você é gordo te julgam, se você é alto ou magro também te julgam. O fato então é: não podemos e nem devemos agradar a todos, não precisamos mudar quem somos porque alguém acha que tem que ser assim, a única pessoa no mundo que devemos agradar é à nós mesmos. Ninguém mais e ninguém menos do que nós.

Paramos em frente ao colégio e, depois de uns segundos observando, temos permissão para entrar. Meu pai fica conversando com uma moça aparentemente simpática e depois me pede para segui-los e apenas o faço.

Depois de um tempo andando de sala em sala meu pai vai embora e pede pra eu ir "melhorar" para, dessa forma, poder sair desse lugar. Estou gostando do pai que ele está tentando de formar.

A moça me deixa em frente a uma porta que diz ser a do meu quarto. Entro e observo o lugar: uma cama simples de madeira, um guarda-roupa igualmente simples, paredes cinzas, um criado-mudo e uma mesinha com uma cadeira e um abajur perto da porta. Tolerável. Penso.

Coloquei o pedaço de papel com os horários de aulas em cima da mesinha, ponho minhas malas no chão e me jogo de primeira da cama.

- Olha o que você fez! Olha o que você fez! - Molly grita com as mãos no rosto tentando conter o sangue que sai do mesmo.

- Eu... Eu não...

- Olha o que você fez! Olha o que você fez! - ela me olha com uma expressão séria no rosto, de repente.

Pisco e, no lugar que antes estava Molly Sabino, estava Leonardo Berti.

- Não me viu aqui? - ele se levanta ficando frente-a-frente comigo. - Você está bem, Lala?

Acordo soando e coloco a mão no bolso procurando meu celular para ver as horas, mas lembrei que "celulares e demais aparelhos eletrônicos somente finais de semana ou em casos de extrema urgência".

Respiro fundo me sentando na cama com as mãos no rosto esfregando a região dos olhos ainda pensando no meu último sonho.

Eu estou bem.

Está tudo bem.

Lembra de Mim?Onde histórias criam vida. Descubra agora