CINCO

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Levanto da cama e vejo as horas na tela do meu celular. Droga. Estou atrasada.

Cutuco Maby e chamo seu nome, mas ela apenas resmunga algo e não dou atenção enquanto corro para o banheiro e tiro meu pijama com tanta pressa que quase caio no chão de azulejo.

Minutos depois, saio do banho enrolada em uma toalha e Maby ainda está sentando na cama, bocejando e esfregando os olhos.

- Estamos atrasadas! - digo pegando qualquer roupa no armário.

- E daí? - diz sonolenta. - A gente entra na segunda aula.

- Não! Eu tenho que encontrar com Douglas na biblioteca antes das aulas. - visto uma calça jeans e coloco uma camiseta estranha.

- Então sinto muito. - levanta e se arrasta para o banheiro. - Não vai chegar a tempo.

Isso é o que nós vamos ver.

Desço as escadas, passo pela cozinha ainda colocando a mochila nas costas e pego uma maçã.

- Você não vai comer? - minha mãe pergunta.

- Não. - falo já saindo. - Estou muito atrasada. Tchau!

Monto na minha bicicleta, mas antes de sair da garagem, meu celular toca e o pego no bolso de trás da calça.

- Alô.

- Emily, onde você está? - Marília grita do outro lado da linha.

- Estou saindo de casa agora.

- Então vem logo. Vi Douglas indo pra biblioteca. Ele deve estar te esperando.

Ela desliga e começo a pedalar como se minha vida dependesse disso.

Quando finalmente chego à escola, prendo a bicicleta com uma corrente e corro para dentro. Estou com o cabelo todo embaraçado e tenho certeza de que há bolas de suor debaixo dos meus braços, mas pelo menos não esqueci de escovar os dentes. Paro de repente no meio do pátio e ponho a mão contra a boca para sentir meu bafo. Esqueci de escovar os dentes.

Com pressa, vou até a cantina procurando umas moedas na mochila para comprar uns chicletes de menta e enfio uns quatro de uma só vez na boca. Enquanto masco os chicletes, sigo até a biblioteca, mas antes que consiga empurrar a porta, ela se abre e Douglas aparece no corredor com sua mochila nas costas e uma pasta cheia de papéis nas mãos.

- Você se atrasou. - ele coça a nuca.

- Eu sei. - passo a mão pelos cabelos e tento desembaraçá-los. - Meu celular não despertou e eu dormi demais. Ontem cheguei em casa tarde e...

- Tudo bem. - ele sorri. - Eu sei como é.

- Olha, será que não dá tempo da gente resolver alguns assuntos...

O sinal toca para informar que as aulas vão começar.

- Agora tenho aula de artes. - ele olha as horas no relógio. - Pode ser mais tarde no intervalo?

- No intervalo. Certo. Não vou me atrasar dessa vez. Prometo.

- Ótimo. No intervalo. Aqui na biblioteca. - assente com um sorriso e se vira para sair.

Quando já estou longe do seu campo de visão, encosto a testa contra a porta da biblioteca e solto um gemido de frustração. Esse galo ainda dói pra caramba.

***

Na aula de português, bato o lápis contra a página do meu caderno impacientemente. Eu adoro as aulas da professora Estela, ela é de longe uma das minhas professoras preferidas de toda a escola, mas tudo que mais quero nesse momento é que o tempo passe mais rápido e que a aula chegue ao fim.

Opostamente AtraídosOnde histórias criam vida. Descubra agora