Duas semanas de repouso total foi o bastante para minha recuperação. Minha torção não foi tão grave, então só precisei de alguns anti-inflamatórios e agora estou pronta para recomeçar.
Devido ao "incidente", a data do teste foi remarcada para essa sexta e dessa vez vou manter minhas sapatilhas diante dos meus olhos o tempo todo, Ranna não vai tentar nada contra mim de novo. Não vou deixar.
Will não apareceu por aqui e nem ligou para saber do seu pagamento pelo serviço de motorista. Acho que o fim do namoro com Maby pode ter mesmo lhe deixado magoado. Ele nem ao menos atende minhas ligações ou responde minhas mensagens. E para chegar ao ponto de não vir atrás do dinheiro, Will deve estar mesmo muito mal.
Prendo a bicicleta com uma corrente no poste da calçada da loja de Will antes de entrar na "Casa do Rock" e logo dou de cara com o manequim que tenta imitar a morte. Vou até o balcão, onde o garoto com cabelo branco arruma umas camisetas, e sorrio para cumprimentá-lo.
- Oi - diz Tomás.
- Oi. Tudo bem? - olho em volta. Como alguém consegue trabalhar em um lugar desses? E que música é essa que está tocando? Parece um tipo de ritual satânico.
- Tudo na boa. - ele dobra uma camisa preta repleta de caveiras. - Veio comprar alguma coisa?
- Não. - nego com um movimento de cabeça. - Preciso falar com Will. Ele está?
- Está lá dentro. - aponta com o polegar por cima do ombro. - Will, vem aqui!
- O que é? - ele empurra porta do seu "escritório" e me olha esquisito. Com certeza não imaginava que eu viesse procurá-lo. - Emily? Maby te mandou vir aqui? - se aproxima. Agora o balcão é a única coisa entre nós.
- Não. Mabel nem toca no seu nome. Sou eu quem precisa falar com você.
- Tomás, vai fazer aquelas entregas. Pode ser?
- Tá legal. -Tomás pega uma caixa e sorri para mim ao sair.
- O que foi? - Will pergunta quando já estamos sozinhos.
- Bom, você não atendeu minhas ligações e não apareceu para pegar seu pagamento. - abro minha bolsa e tiro de lá o envelope com o dinheiro. - Acabou o mês, é hora de te pagar. - ponho o envelope sobre o balcão.
Ele o abre e conta o dinheiro. Apenas o bastante para a gasolina e um pouco a mais.
- Ainda preciso dos seus serviços de motorista. - digo. - Sei que você e Maby não estão mais juntos, mas ainda preciso que alguém me leve para o balé.
- E o seu tornozelo? Você pode dançar?
- Foi só uma torção leve. O médico me liberou para continuar dançando.
Will não diz nada e continuo:
- Você ainda quer fazer isso? - não há respostas. - Ou posso começar a procurar outro motorista?
- Ainda preciso do dinheiro. - ele coloca seu pagamento de volta no envelope e o enfia no bolso. - Hoje, às seis, não é?
- Isso mesmo. - confirmo. - Você decorou mesmo os horários.
- Tive que decorar, senão ia receber menos por atraso.
Rio e balanço a cabeça. Seria loucura se dissesse que senti saudades dessas piadas cheias de sarcasmos?
- Te vejo mais tarde, então? - dou as costas para sair e abro a porta de vidro.
- Sim. Até mais tarde.
Podemos até não ter tocado no assunto "Mabel" agora, mas mais tarde, quando estivermos na sua camionete, sei que falaremos sobre isso. Não vai dar para evitar.
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Opostamente Atraídos
DragosteEmily, uma bailarina que sonha alto e tem o futuro todo planejado, precisa aturar Will, o namorado roqueiro de sua irmã mais velha. Os dois não se suportam e mal conseguem ficar cinco minutos sem brigar, porém, ao ter seu adorável fusca amarelo dest...