E a porta se abre

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Em meio à noite, ouço um barulho estranho que me desperta do sono. Ouvia uns ruídos e sons que faziam "squick, squick", bem baixinhos, mas ouvia.
Levanto da cama e vejo um ratinho, que vai correndo em direção ao corredor. Corro atrás dele em disparada. Ele continua fugindo de mim, mas não desisto, ele desce as escadas e vai na sala de estar. Vou atrás dele e vejo que ele entra no vão da porta que dava de frente com os tijolos, afinal, minha mãe a deixou aberta.
Vou atras, abrindo a porta, me deparo com algo assustador. Não havia mais paredes de tijolo, e sim um mini corredor colorido, que dava em algum lugar que eu não conseguia enxergar o final.
Logicamente que vou engatinhando por ele, adoro uma aventura, mesmo achando que tudo não passaria de um sonho.
Não sabia o que teria do outro lado, Nárnia talvez. Podia ser tudo imaginação, mas eu estava adorando.
Mal podia esperar para ver onde aquele caminho daria, em que parte da casa eu iria parar, até que...
- Han? - fiquei sem reação mesmo. Sem reação não, desapontada, imaginei outros lugares, não minha própria sala novamente.
Ando um pouco e vejo o mesmo quadro do menino, que agora estava mais feliz. Paro e sinto um cheiro agradável, não de perfume, nem de coisa limpa, mas sim de comida.
- Que cheirinho bom! - pensei comigo mesma, então, fui atras também, para saber o que estava cheirando tão bem assim.
Vou caminhando atras do cheiro sensacional, passo pelos corredores e ouço alguém a cantarolar, era minha mãe, na cozinha.
- Mãe? - o que ela estava fazendo - O que esta fazendo aí nessa hora da madrugada? - tudo bem que o cheiro da comida estava ótimo, mas, cozinhar de madrugada, essa é nova.
- Chegou bem na hora do jantar meu amor! - ela vira para mim toda sorridente, me assusto por um leve momento, afinal, tinha o corpo da minha mãe, a voz da minha mãe, mas os olhos, eram botões.
Dou dois passos para trás e fixo meu olhar para os botões em seu rosto.
- Você não é a minha mãe! - crio coragem e começo a me aproximar - Minha mãe não tem esses bo... bo... bo... - droga, travei.
- Bo, botões? Você gostou? - ela dá um sorriso irônico e forçado, sério que ela acabou de perguntar se eu gostava dos botões... - Sou sua outra mãe bobinha! Agora vai lá dizer ao seu pai que o jantar está pronto! - diz a mesma abrindo o forno e tirando o enorme e maravilhoso frango assado lá de dentro.
Fico Ainda sem reação, como havia uma outra mãe com botões nos olhos? Mãe é só uma, não duas.
- Vá chamá-lo! - ela olha para mim novamente, que desperto do meu transe em seus olhos - Ele está trabalhando!
Bom, saio sem recusar e subo as escadas atras de meu pai, chego no mini escritório dele e me surpreendo, lá não havia mais computadores e caixas, mas sim, um piano, no qual ele tocava algumas notas aleatórias.
- Pai? - entro sorrateiramente e até mesmo com medo.
- Olá Coraline! - diz o mesmo se virando em minha direção, é, aquele mundo era realmente estranho, ele também tinha botões no lugar dos olhos - Fiz uma canção, quer ouvir?
- O meu pai não sabe tocar piano...
- Isso não é preciso! - dois brações de ferro com duas luvas nas pontas se levantar - Ele que toca para mim!
As luvas se encaixam nas mãos de meu pai, e puxam ele rapidamente, o virando de frente ao piano, onde começa a tocar, arrasando nas notas.
- Essa é uma canção sobre a Coralineeeee! Ela é uma amor, uma bonequinha! A beleza de um botão nos olhos tem, como aqueles que olharam muito bem, pra Coralineeeeee! Quando chega escorando, a mamãe e eu logo vamos animando com os nossos olhos na Coralineeeee!
- Olha, me desculpe, mas ela, me pediu pra dizer que o jantar está pronto! - interrompo a cantoria dele, afinal, não sabia o tamanho que aquela música teria.
Ele olha para mim, com um sorriso no rosto, era estranho, ver meu pai sorrindo, apesar de saber que ele não era meu pai.
- Quem está com fome, levanta a mão! - assim que ele levanta suas mãos, acaba batendo em seu rosto e um sorriso escapa novamente.
Acabo sorrindo também, era uma coisa tão estranha para mim, sorrir, com meu pai ainda.
A mesa de jantar estava linda, frango, frutas e talheres enfeitavam-na. A outra mãe a o outro pai estavam sentados na mesa, prontos para fazer o agradecimento pela comida.
- Danos graças ao Senhor nessa oração, porque a mamãe assou esse frangão! - fala o outro pai dando uma gargalhada gostosa no final, até eu acabou sorrindo, ao ver a felicidade dele e da minha outra mãe.
Era estranho demais ver como os dois eram felizes, e como os dois estavam me dando atenção, não me conformo com isso.
O outro pai balança o pequeno sino que havia ao seu lado, percebo que já posso comer. Vou logo na coxa de frango, o cheiro estava ótimo, o gosto também.
- Hum, tá uma delicia! - falo em meio a mordidas.
- Estava com fome, não estava? - pergunta minha mãe, opa, outra mãe.
- Por acaso tem molho? - fazer o que, estava mesmo com fome, meu prato já estava com um pedaço a mais de frango, e eu o enchia com arroz.
- O trenzinho com molho já está a caminho! - ela não falou na brincadeira, como se eu fosse um bebê, era mesmo um trenzinho em cima da mesa, que rodeou ela, até chegar ao meu prato, com o molho sobre ele, que logo é esparramado em meu prato.
- Quer outro pão? Espiga de milho? Ervilhas? - minha outra mãe pergunta enquanto a mesa central girava conforme ela falava.
- Eu tô é com muita cede! - falo em de boca cheia novamente, fazer o que né.
- Mas é claro, algum pedido especial? - O candelabro que ficava ao teto, baixa, e entre ele, várias jarras com bebidas, prontas para tomar.
- Tem milkshake de manga? - pergunto, logo vendo um jarro parar a minha frente, aproximo meu copo na boca da jarra, e despejo o líquido sobre ele, o tomando logo em seguida, que milkshake maravilhoso.
Enquanto tomo, minha outra mãe tira meu prato de cima da mesa, e coloca outro com um bolo enorme, que assim que olho, velas crescem magicamente sobre ele e algo escrito surge em seu meio, a frase era "Bem vinda ao lar".
- Lar? - pergunto a mim mesma.
- Estávamos esperando por você Coraline - fala minha outra mãe enquanto o outro pai se aproxima Dela.
- Por mim? - do que eles estão falando.
- É, isso aqui não é a mesma coisa sem você Coraline! - meu outro pai fala sorrindo.
- Mas eu nem sabia que tinha uma outra mãe! - conto.
- É evidente que tem! Todo mundo tem!
- É sério? - pergunto desconfiada.
- Aham, e quando terminar de comer, estou louca pra gente brincar! - fala a outra mãe, encerando com um sinal estranho, seus dedos batiam um por um sobre a mesa, sequencialmente e rapidamente.
- Quer dizer, tipo esconde-esconde? - não acredito.
- Perfeito! Esconde-esconde, e não chuva! - confirma a outra mãe.
- Que chuva? - assim que pergunto, um trovão cai lá fora, e os chuviscos se iniciam rapidamente, devo admitir que isso foi assustador - Mas e a lama?
- Aqui nós adoramos lama! - afirma o outro pai.
- Máscaras de lama, banho de lama, bolinho de lama! - a outra mãe fala levantando de seu lugar e vindo próxima a mim - Lama cura queimadura de solaste venenoso!
- Como é que sabe do meu... - tá, agora a bizarrice aumentou demais, me levanto da cadeira e me afasto Dela - Tá, não, é melhor eu voltar para minha outra mãe!
- Mas eu sou sua outra mãe! - Continua.
- Quero dizer, minha outra, outra mãe! - dou um passo para trás - Minha mãe número um! Está na hora de eu ir pra cama!
- Claro meu amor, eu já preparei tudo pra você! - Fala a outra mãe me puxando.
- Mas...
- Vem ver dorminhoca! - meu outro pai me empurra e começamos a subir juntos a escada, até chegar ao meu quarto.
O que havia acontecido com meu quarto, era o que eu mais queria entender, estava tudo em um tom roxo, e todos meus brinquedos falavam comigo, me cumprimentavam, e se movimentavam, até o casco da minha antiga tartaruga, a Honey, corria pelo meu quarto.
Íamos incrível, foi quando ouvi a voz da minha amiga.
- Oi, como é que está tudo aí menina? - a voz da Hemily sobrevoa meu quarto.
- Cara, cadê sua capa e suas galochas? - era impossível não reconhecer a voz do Raphael.
- Cara, que legal, não acredito! - fico em choque e me lanço em cima da cama para me aproximar do quadro de foto, o pegando e colocando sobre meu colo - São meus melhores amigos! Eu to loca pro verão chegar logo, vocês vem me visitar, não vem?
- Já estamos aqui Coraline! - Hemily sorri, enquanto recebe uma bola de neve na cabeça, jogada por Raphael.
Olho para o lado, minha outra mãe se aproxima de mim.
- Ah, a lama! - percebo enquanto ela passa em minha mão.
Dou uma espreguiçada e me deito, abraçada com o quadro.
Fecho meus olhos e ouço o barulho de lampas se apagando, depois disso, só escuto uma frase dos meus dois outros pais.
- Até logo! - cantarolam em harmonia.

Coraline e o Mundo SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora