Camudongos Saltadores

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Acordo animada, mas vejo que estou na minha casa, minha antiga casa, já não havia mais ursinhos falando, nem o quarto era da minha cor preferida, tudo aquilo, não passou de um sonho.
Coço minha mão e a olho, me assusto, afinal, era pra ter uma queimadura ali, mas ela havia sumido.
Já não sabia se aquilo tinha sido só um sonho ou não, tinha uma possibilidade daquilo ser real.
Corro para a sala onde havia a tal passagem para meus outros pais, mas ao abrir a porta, só me deparo com tijolos novamente.
Um pouco depois, na cozinha...
- Aí você, não era você, mas sim uma outra mãe, com olhos de botões, e desceu do teto um monte de milkshake pra poder tomar, e lá eles adoravam a lama, a lama que curou minha queimadura! - conto entusiasmada.
- Botões no lugar dos olhos? - Pergunta minha mãe - Você só sonhou que se entupiu de frango Coraline!
- O papai também estava lá, com os chinelos laranja! - lembro-me bem do sonho.
- Laranja? Meu chinelo é azul! Psiu? - ele me chama e começa a sussurrar, como se não quisesse que a mamãe ouvisse - Tem um pouco daquela lama ainda? Estou ficando muito tempo sentado e estou com uma queimadura bem na minha bun...
-Ran ran! - minha mãe dá uma tossida interrompendo o papai, pra minha sorte - Se Charles Jones quer uma boa reportagem na sua coluna, tem que se arrumar logo!
Meu pai logo sai da cozinha, deixando apenas minha mãe e eu.
- Coraline, vai dar uma volta lá em baixo, aposto que aquelas atrizes vão adorar saber do seu sonho! - enquanto ela falava, pegava uma xícara de café e vai até a porta.
- As senhoritas Spink e Forcible? - pergunto espantada, afinal, elas não tinham boas indicações para serem amigas - Mas você disse que elas não batiam bem!
Minha mãe olha para trás, e ergue suas sobrancelhas. Óbvio, como não imaginei isso antes, minha mãe acha que estou indo pelo mesmo caminho que elas...
Saio da minha casa com as galochas amarelas e minha capa de chuva combinando, levo comigo um alicate também, encosto as portas e vejo que logo na entrada, havia muitas entregas do correio. Mas eram entregas diferentes, não eram cartas, era algo estufado.
Cravo o alicate ao chão de madeira e pego as entregas, começo a ver para quem eram esses produtos.
- Bobinsky, Bobinsky, Bobinsky! - passo uma por uma, ok, eram todas do tal Mr. Bobinsky.
Coloco uma sobre a outra é sinto um cheiro muito forte e estranho, aproximo os produtos ao meu rosto para ver se eram eles que tinham o forte odor e vejo que eram deles mesmo.
-Aaaaaaaaarg! Que nojo!
Olho ao meu lado, havia uma placa com uma seta apontando para as escadas, escrita "Bobinsky aqui".
Subo as escadas e chego à frente da casa do tal Bobinsky.
Bato a porta e ninguém se manifesta.
- Olá, acho que entregaram suas cartas errado! - encosto meu rosto na porta para ver se ouvia algum som - Eu posso deixar suas cartas aqui fora ou...
A porta se abre de repente, dou um mini grito e quase derrubo todas as entregas do Mr. Bobinsky ao chão.
Olho para dentro e ouço uma galinha, o típico som do "Có Có Có", havia fios por toda a casa e roupas penduradas sobre eles. Tinha também uma mesa com um abajur, e um pano sobre os dois, formando uma mini tenda.
No canto, um fogão, com uma panela de água que já estava fervendo a um bom tempo, pelo jeito que a tampa se mexia pela pressão da água, dava pra perceber isso.
Havia barris por todo canto, até mesmo um daqueles volantes de navios, que agora, não me recordo o nome.
- Hum - serro meus olhos e observo atentamente dentro da casa, estava tão concentrada, que não sinto um ser enorme se aproximando de mim.
- É SEGREDO! - uma voz grossa e velha grita.
Viro assustada, e vejo o grande ser, com uma blusa regata amarela, e um shorts azul, ele era estranho demais, ainda mais por estar de ponta cabeça, se segurando com as pernas em um pedaço de ferro que havia sobre sua porta, já percebi que ele era um ótimo acrobata.
Ele fecha a porta, e agachada, olho para ele, que estava com uma cebola roxa nas mãos. Sim, uma cebola roxa.
- O famoso circo dos camundongos saltadores ainda não está pronto! - ele da uma pausa e morde a cebola roxa, como se comer cebola assim fosse normal.
- Circo? - ainda amedrontada, questiono - Ah, é, eu - me embaralho toda - Trouxe isso aqui pro senhor! - mostro as cartas do mesmo.
Ele que estava olhando fixamente para a cebola, redireciona o olhar a mim, agora sorrindo, solta sua cebola, que vai ao chão. Pega as cartas dele de minhas mãos, as abraça, e cheira profundamente todas elas, dando um suspiro de como se fosse algo prazeroso.
- Hummmmmmm! Novsir!
- Han? - o que ele estava falando.
- Novas amostras de queijo! - ele solta os pacotes ao chão, se pendura na grade que havia para se proteger e não correr o risco de cair lá de cima e salta atras de mim.
Dou um passo à frente e me viro, para olhar o enorme Mr. Bobinsky.
- Muito astuta, se aproveitando dessa confusão para entrar na minha casa e espiar os meus muscas! - enquanto ele falava, se alongava, estalando cada parte do seu corpo.
- Muscas? - pergunto, afinal, o que seria isso.
- OS CAMUNDONGOS! - ele dá um salto no ar, e volta a segurar-se nas grades, se alongando de ponta cabeça.
- Ah, eu - falo assustada - sou Coraline Jones!
Ele olha para mim, e começa a fazer manobras.
- E eu sou o incrível Bobinsky! - termina se segurando com uma mão só, fazendo uma pose.
Ele dá um salto e fica em pé sobre a grade.
- Mas você, pode me chamar de Mr. B! - ele dobra as pernas, e deita sua cabeça sobre o próprio ombro - Porque incrível, eu já sei que sou! - fazendo mais uma manobra, ele se joga pra trás das grades, desaparecendo completamente.
- AH! - fico nervosa e corro ao fim das grades, me curvo olhando para o chão, e não, não havia nada lá, nem ele espatifado ao chão.
- Rá! - ouço alguém batendo os pés atras de mim, era ele novamente.
Olho para ele, que sorri logo em seguida.
- Viu Caroline, o problema é que, as minhas musicas novas fazem Umpa Umpa - fala batendo em seu peito, começando a saltar para frente assim que termina  - Mas os camundongos saltadores gostam do Tchu Tchu Tchu, assim, é bonitinho, mas não é tão incrível! - ele pega os pacotes com queijo do chão e se recompõe - Agora vou experimentar esses queijos, e logo, o mundo conhecerá o circo dos camundongos saltadores.
Ele da meia volta e começa a ir em direção a porta da sua casa, porém, para logo em seguida, e da uma meia volta, olhando para mim.
- Aqui, prove! - ele estende a mão, com uma cebola roxa - Vai fazer você ficar mais forte! - ele levanta sua perna esquerda, batendo na maçaneta, fazendo a porta abrir, dá um sorriso assustador, com aquele bigode falhado dele, e se despede - Adios, Caroline!
Entra em sua casa rapidamente e fecha a porta, fazendo um pequeno barulho. Olho para a porta, ainda com a cebola de presente em minhas mãos, indignada.
- Coooooooraline! - falo levemente.
Jogo a cebola para trás, que vai ao chão, e desço as escadas, pego meu alicate, que ainda estava cravado ao chão de madeira e dou a volta pela casa.
"Umpa Umpa, Tchu Tchu Tchu" não paravam de ser pronunciados por mim espontaneamente, ótimo, aquele cara estranho já estava me infectando com sua loucura psíquica, estava tão distraída, que me assusto ao ouvir alguém gritando por mim.
- EI, CAROLINE, ESPERE!
Olho para cima rapidamente, que era de onde vinha o som, e lá estava ele, o Mr. B, que salta lá de cima, caindo quase sobre mim, que me protejo desesperada com o alicate. Se o alicate iria me proteger eu já não sei, mas...
- Não! - falo amedrontada, me preparando para o impacto, o que não ocorre.
- Hum! - ele sai de cima de mim, se abaixa, e sussurra, como se fosse um segredo - Os camundongos me pediram para te dar um recado!
- Ah, é... Os saltadores? - pergunto, eu estava realmente com medo dele.
- Eles disseram... - ele olha para esquerda a para a direita, coloca a mão esquerda ao lado da boca, e sussurra mais baixo ainda - Não passe pela porta!
Tá, agora sim eu me espanto de verdade, como eles iriam falar sobre a porta mágica.
- Sabe do que eles estão falando? - pergunta o Mr. B.
- Aquela porta atras do papel de parede? - me aproximo mais dele, afinal, de espantada, passei rapidamente para curiosa - Mas, a passagem, foi murada.
- Ah, desculpa, esquece! - ele se levanta e da de ombros para mim - As vezes esses camundongos fazem confusão! - saltando, se segura na cerca do andar de cima, e volta ao seu andar - Eles até falam seu nome errado, eles falam Coraline ao invés de Caroline, nem o seu nome eles falam direito! Talvez estejam trabalhando demais!
Ele desaparece novamente, talvez já havia entrado em sua casa.
Seguro forte o alicate e parto para meu antigo destino, que havia sido mudado pelo Mr. Bobinsky, vou direto ao carro dos meus pais.

Coraline e o Mundo SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora