Carlos...
Havia andado com muita gente estranha ultimamente, mas tinha ficado feliz e muito satisfeito comigo mesmo de conseguir resultados. Quando disseram que ele queria me ver, não acreditei de imediato e até tive medo de ser morto, Porém suas palavras me acalmaram. O problema tinha sido despistar aqueles góticos e adoradores do mal, mas tinha feito isso muito bem armando uma arapuca para eles num ninho de recém-vampiros.
Sem corpos, sem pista. Mas o alivio foi momentâneo .
Quando o vi vindo do céu meu corpo todo tremeu e quase borrei as calças. Ninguém havia me dito que vampiros voavam e muito menos que tinham asas negras... e isso não era o pior, a presença dele era poderosa o suficiente para fazer o mais forte dos homens tremer dentro de suas calças.
Mas eu tinha algo que ele queria e daria a ele sem me importar, desde que ele me desse o que eu queria em troca.
─ Então ... é você?! ─Ele zombou arrogantemente, me olhando de baixo a cima, como se ele fosse deus e eu uma barata.
Ele vestia roupas negras um pouco chiques demais, quase como se ele tivesse mandado fazer sob medida, seu rosto mantinha sua face neutra e ele estava fazendo questão de olhar sempre para mim, e esse não era o único motivo para teme -lo, ele poderia ter arrancado minha cabeça assim que cruzei o cemitério.
O fato de estar de noite , num cemitério com um cara que cheira a morte, deixaria qualquer um pronto para correr, embora tivesse certeza que seria inútil.
Olhei diretamente em seus olhos e me arrependi de tê-lo feito, pois seus olhos mudaram da cor negra para um vermelho florescente como se fosse brasa em chamas. Quando pensei no nosso encontro de negócios nunca pensei que ele faria tanta questão de me amedrontar, mas o que mais poderia se esperar de um demônio?! Mal me contendo não pude controlar meu medo e acabei sentando, mesmo lembrando uns segundos depois que eu estava sobre uma lapide.
─ S... soube que tenho algo que você quer ─ Falei do modo mais másculo e sem medo que pude. O segredo dos negócios é nunca demonstrar medo por mais demoníaco que seja seu cliente.
Ele deu de ombros e sorriu revelando suas presas.
─Não ─ Disse ele e medo passou por mim e minhas mãos ficaram tremulas ─ Você tem algo que já é meu a muito tempo.
Tentei não gaguejar, mas tomou todas as minhas forças.
─ Me transforme e dou o que quer ─ Finalmente disse, mas ele sorriu como se tivesse contado uma piada.
─ Te transformar seria somente um prêmio de consolação e pena, posso ter o que quero sem precisar de ninguém ─ Uma dor no estomago me acertou e tive vontade de correr, mas minha vontade de ser imortal era maior que meu medo.
O homem me agarrou pelos ombros e chacoalhou forte o suficiente para minhas pernas ficarem moles como gelatina.
─ Você será meu escravo. Quero que me informe se ela esta bem e quando ela for sair para algum lugar, me diga onde. ─ Disse antes de me arremessar para longe , fazendo com que meu corpo batesse numa lápide. Uma dor horrível penetrou pelo meu ombro esquerdo e tinha certeza que o filho da mãe tinha deslocado meu ombro e que não dava a mínima. Me levantei segurando meu braço e permaneci afastado e imóvel para evitar mais algum perigo.
─A partir de hoje... você não poderá tocar nela, entendeu?! Espero que sim ou mato você . ─ Respondi que sim com a cabeça, pois apenas minha respiração fazia com que meu ombro doesse e talvez não conseguisse controlar minha vontade de dizer uns palavrões.
Se ele queria a garota, daria a ele. Não faria falta, o que seria uma garota para mim. Comparado a uma imensidão delas me esperando através dos tempos imortalmente.
Não sabia o que ele tinha visto nela, ela é normal. Bonita . Mas não era a única da cidade. Era virgem, então duvidava que fosse por sua competência na cama, tentei durante semanas fazê-la transar comigo, mas me negou todas as vezes, alegando não ter certeza se era O Cara. A garota não sabia de nada da vida. Sexo tem que ser bom, não especial. Só. Não tinha nada de especial.
Ele deu meia volta e ficou andando sobre as lapides como se fosse um jogo.
─ Que bom que entendeu, entro em contato com você. E ... lembre -se, posso te matar a qualquer momento se me desobedecer vou mandar seus pedaços pelo correio para sua mamãezinha e da próxima vez nos falaremos de outro modo.─ Ele sorriu ─ Odeio cheiro de medo . Você cheira como uma galinha morta . ─ E desapareceu numa nuvem negra.
Andei em direção a saída pensando no que tinha me metido. Tinha acabado de negociar minha vida ao demo e não tinha como voltar atrás. Se ele queria Katheryne, ele teria. Não importa quantas pessoas eu tenha que por nessa para ter minha imortalidade. Eu ia ter. Se não fosse com ele ia ser com outros... Ele não era o único vampiro que eu faria negócios... se esse furar, tenho muitos mais para fazer uma oferta. Além do mais, sangue de virgem nessa idade era quase uma raridade.
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Recebi uma mensagem de Carlos ( Meu atualmente ex) bem na hora em que meus olhos estavam se fechando para um sono profundo e provavelmente um sexo vampiro. Nessas alturas eu não me importaria com um sonho desses depois de passar a semana vendo filmes de vampiros e um sonho erótico era bem vindo desde que não fosse com nenhum dos personagens de crepúsculo .
“Onde você está?” ─ Perguntou ele e quis socar sua cara. Onde raios ele pensava que eu estaria? Fora minha cama quentinha e meu amante vampiro?! Não era a toa que nosso relacionamento deu errado. Carlos tinha me traído com diversas mulheres e se afastado de mim , nem sequer se importando com meus sentimentos. Eu tive minha dose de culpa também, me negando a satisfazer suas necessidades, mas eu não podia me trair dessa forma. Quando Carlos tentava ... eu broxava. Não sentia nada a não ser vontade de correr para bem longe dele. E ele estava agindo estranho até o ponto de eu chegar a pensar que ele estava usando drogas. E esse tipo de comportamento e essas mensagens sem nexo só concretizava minhas duvidas.
“ Sendo mordida por um vampiro. I.D.I.O.T.A!” Respondi de volta e comecei a receber montes e montes de mensagens e chamadas. Revirei os olhos e pensei que amanhã eu trocaria de numero de celular, sem falta.
“ Não brinque com isso “, “ Por favor, me diga se você saiu “ , “ Tem alguém ai com você ?”
Enquanto eu não respondi ele não parou de me encher e quase joguei o celular pela janela, somente não fiz por que precisava dele para acordar para a escola.
“Não sou sua namorada. Não me enche, estou morrendo de sono aqui.”
Finalmente ele parou de me mandar e pude descansar. Mesmo querendo continuar meu sonho louco. Era estranho mais eu tinha até gostado daquela cena misteriosa e daquele homem sem rosto. Eu tinha sentido algo ali, como se pertencêssemos um ao outro e cada parte de nosso corpo soubesse disso. A parte engraçada era que senti o que nunca havia sentido com Carlos.
O homem sem rosto dos meus sonhos me fez sentir como Carlos nunca conseguiu . Mesmo ele sendo um homem de verdade ( fisicamente) enquanto o outro era apenas um fruto dos meus desejos adolescente.
─ Droga de filmes de vampiros. ─ Disse a mim mesma.
Esses filmes e livros de hoje em dia nos fazia querer o imaginável . Como querer uma criatura misteriosa e mortífera da noite que sofre com seus próprios demônios e ainda são capazes de morrer por nós. Definitivamente eu teria que mudar o tema das minhas próximas leituras...ou filmes. Talvez algo medieval, com cavaleiros e armaduras, mas mesmo assim chegar a ter a ousadia de pensar que o homem sem rosto ficaria uma tentação vestido como um cavaleiro e vindo ao meu resgate.
─ Você deveria ter vergonha na cara Katheryne . Muita vergonha.
E mesmo quando estava de volta aos meus sonhos eu continuei a sonhar com o homem misterioso.