Eu não queria ir ao colégio. Por vários motivos e o principal deles estava vindo ao meu encontro .
─ Katheryne! ─ Suzanna gritava por todo colégio, balançando seu cabelo multicolorido recém-pintado e chacoalhando seu traseiro como se tivesse algo fora do lugar ali. Era difícil de aguentar a garota, sempre fui a escolhida para cuidar da decoração dos dias das bruxas e sempre tive um resultado magnifico. Porém esse ano a escolhida foi, nada mais, nada menos, que a FILHA do diretor. - Nossa! Você acha que AQUILO esta de acordo com que eu te ordenei? ─ Ela gritou apontando para os pilares que sustentavam o salão principal. Ela queria que os pilares fossem enfeitados com enormes fitas cor de rosa manchadas de sangue falso com "S " estampado envolta deles. Ela tinha que perceber que era um baile de dia das bruxas e não uma festa de debutante macabra, ela até tentou inventar uma desculpa esfarrapada que o “S” era de sangue e não de Suzanna, mas até parece que eu ia cair.
Revirei os olhos e olhei para ela como se estivesse louca. Respirei fundo e tentei pensar em coisas boas, como por exemplo: Meu vampiro arrancando a cabeça dela e tornando aquelas manchas de sangue mais reais.
─ O que você ordenou não combina com as cores dominantes da escola. ─ Falei sabendo que as cores dominantes são : preto e vermelho que inclusive fazem parte do uniforme do time de futebol da escola, também as cores branco e amarelo.
Tinha desobedecido ela. Eu havia colocado tecidos vermelhos no topo dos pilares e prendi a parte do meio com enfeites em forma de morcegos de plástico. Os tecidos pareciam cortinas . Minha ideia era fazer um baile de máscaras gótico. Afinal, Suzanna tinha proibido a casa fantasma, a noite do terror e a melhor das melhores partes, caças aos doces. Ela foi a única pessoa da minha vida inteira que odiei em menos de três dias.
Ela bufou e pude jurar que vi uma fumacinha saindo do ouvido dela. Garota do capeta essa. Pensei rindo da cara dela.
Ela cruzou os braços sobre o peito e me deu um olhar mortal, mas para mim... cão que ladra não morde.
─ Vou falar com meu pai. ─ Disse e saiu andando, mas não antes de um olhar maléfico para mim e bufar de novo.
Que se foda! Esse era meu ultimo ano e ninguém ia estragar a minha felicidade.
Fiquei sozinha depois desse episodio e mal me dei conta que havia se passado horas e que estava anoitecendo. Não que alguém se preocupasse, meu pai pediu o divórcio e minha mãe por algum motivo me culpa, talvez seja por que fiquei doente esses tempos e ela tinha usado o dinheiro do remédio em perfumes. Meu pai ficou doido. Talvez ele estivesse cansado dela ser egoísta, mesmo assim... ele me prometeu que quando a nossa nova casa estivesse pronta por causa de reforma e ele conseguisse arrumar bons empregados para a fazenda, me levaria com ele. Minha mãe arranjou... algo para se distrair. Ou ficante.
Ela queria me juntar com o filho do cara, mais ela tinha que entender que tenho namorado. Ou tinha, mas ela não precisava saber dessa parte. Faz um tempo que ela não me via com Carlos, mas sempre arranjei uma boa desculpa como treinos, trabalhos e etc... Eu só não conseguia gostar de nenhum dos dois como pessoa. Eu tinha dó de um gatinho jogado na rua, mas aqueles dois... me dava nos nervos só de olhar para eles. Sempre achei que eu era um tipo de médium ou algo assim. Como se eu visse a alma das pessoas ou algo que elas estivessem pensando .
Depois de terminar a faixa de boas-vindas escritas com letras que pareciam derramar sangue ( que levou horas e tinha certeza que me daria dor nas costas amanhã) olhei para mim vendo meu corpo manchado cor tinta vermelha, parecendo uma colegial acidentada. Então eu segui em direção ao banheiro passando pelos corredores já escuros e percebendo que o zelador não estava mais por perto e que eu teria que usar a chave especial para fechar o lugar e entregar amanha de manha na diretoria . Pensei em tomar banho, mas mudei de ideia , pois Suzanna podia tentar filmar ou algo parecido e espalhar pela escola. Eu não a conhecia muito bem , mas sabia o suficiente para saber que ela não sentiria nem um pingo de remorso . Então lavei o rosto e tranquei o lugar para ir embora não querendo arriscar.