Capítulo 2 - Como tudo começou

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— Eu não queria viajar com os meus pais para o Camping do Siri no Espírito Santo de jeito nenhum, mas eles me obrigaram a ir sob a pena de ficar na casa da tia Solange durante o mês inteiro ajudando na reforma do seu quarto de solteira. Eu não aguentaria os peidos fedorentos e o cheiro de palmito azedo que a tia exalava toda manhã após o banho. Não sei se ela tomava banho com uma lata de conserva, só sei que o cheiro era insuportável e eu detestava ficar na casa dela por muito tempo. Foi por isso que me rendi à viagem para o camping e deixei de passar o melhor verão de todos os tempos com vocês. Eu queria ficar na casa da Mari para curtir as praias e os gatinhos cariocas, meninas, mas minha mãe queria porque queria que eu ficasse espremida em uma barraca apertada por 15 dias.


Um mês antes...

— Filha, você vai adorar acampar! Quando eu tinha a sua idade, eu viajava duas vezes por ano com o seu avô para o Camping do Siri e fazia muitas amizades. Foi numa dessas viagens que conheci o seu pai. Lembro-me como se fosse hoje...

— Mãe! Eu não quero ir com vocês! Por favor, me deixa ficar na casa da Mari. A mãe dela já disse que toma conta de mim e eu sou muito responsável. Já tenho 14 anos e sei cozinhar ovo, miojo com salsicha e faço um arroz muito gostoso.

— Ai, minha filha! Eu adoro o seu arroz, mas você vai conosco e pronto! Eu quero que a senhorita conheça outras pessoas e faça muitas amizades!

— Vai ser um tédio! Eu tenho certeza.

— Você ainda vai me agradecer por ter te levado nesta viagem.

As mães têm poderes sobrenaturais. Sempre quando a minha fala alguma coisa olhando para mim e com cara de cigana brava eu já sei que vai acontecer do jeitinho que ela disse. Hoje eu não sei o que seria da minha vida se não tivesse viajado e encontrado o Yuri tocando violão sozinho no lago, no canto mais afastado do camping.

Eu tinha acabado de chegar e estava muito cansada da viagem. Tudo bem que fiquei cinco horas ouvindo música e os vídeos novos e antigos do Yuri no Youtube, sentada, mas sacolejar dentro de um carro por muito tempo é muito chato. Por isso, fiz cara de preguiça quando mamãe me pediu para dar uma volta para procurar um local bacana para montarmos a nossa barraca enquanto ela fazia o check-in na recepção do camping.

Eu detesto acampar e ainda teria que procurar um lugar sossegado porque a parte mais próxima da praia estava lotada de pessoas fazendo churrasco com música bem alta. Tudo que meus pais odeiam e eu adoro. Eu gosto de agitação, de festa e de gente animada, mas eles querem descansar e me obrigaram a ir até o final do camping atrás de um canto reservado. Era só o que me faltava! Vou acampar longe de todo mundo com pássaros e bichos peçonhentos como vizinhos. Ninguém merece mesmo! Eu já estava longe das minhas amigas e agora teria que ficar isolada. Penitência, seu nome é Rayssa!

Segui o caminho da placa que dizia "Para os que querem curtir o silêncio" chutando pedras e reclamando de tudo que via pela frente. As pessoas se empolgam quando acampam. Umas compram barracas coloridas e levam de tudo. Tipo, tudo mesmo! Vi uma família, com televisão, videogame, fogão, máquina de lavar e até micro-ondas dentro da barraca. Outras vão com motorhome e tem as que são mais simples e só levam um saco de dormir com uma lona pequena para se proteger da chuva e do sol.

A minha sorte é que mamãe me deixou comprar um bom colchão inflável e levar o meu ventilador para não morrer picada por mosquitos e nem de calor. Eu já estava sofrendo por antecipação só de imaginar passar o verão sem ar-condicionado em um local de praia. Estas férias de verão seriam as piores de toda a minha vida. Eu tinha certeza de que odiaria me isolar no meio do nada com um monte de gente esquisita, mas de repente uma voz forte e doce invadiu meus ouvidos e meu coração disparou. Um garoto estava sentado com os pés dentro do lago tocando violão de olhos fechados.

Clube dos segredos - O  garoto do YoutubeOnde histórias criam vida. Descubra agora