Rotina de uma lésbica!

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Ela acordou com o barulho da chuva batendo na sua janela de vidro, o som parecia uma canção de ninar, que fazia os olhos quererem descansar, e adormecer mais um pouco, mas o seu despertador gritava que era hora de ir, com chuva ou não, com sol ou temporal, tudo continuaria igual, nada mudaria e o tempo não iria parar. Uma pena até, pq dormir é uma das melhores sensações, e fugir do mundo é a razão de agradecer todos os dias pela noite, e pelos lençóis quentes. Viver o pesadelo das pessoas, vestir a pele de uma garota lésbica secretária em um escritório onde os homens são a maioria, e onde as piadas rolam soltas. Talvez pensar que sou idiota por ainda está presa aquele ambiente é o primeiro pensamento de todos, mas minhas condições financeiras, não permitem que eu tenha o luxo de ficar desempregada, e já são 2 anos seguidos no mesmo trabalho. Eu contava as horas para meu horário de almoço, e a maioria das vezes eu nunca comia, usava o tempo para atualizar os capítulos de algum novo livro, que eu queria e achava necessário encaixar na minha vida. E assim levava o dia, contando os segundos para cada pausa feita, para que assim eu pudesse respirar longe, onde o ar sem dúvidas era mais leve, pelo menos meu psicológico acreditava nisso, e isso para mim era suficiente. No final do dia, eu voltava para a calmaria do meu apartamento, que era a minha paixão, dividir meu ar apenas com meus pensamentos. E meus fins de semana eram dedicados as minhas redes sociais, a filmes, e pipoca, muita gordura, e nem um pouco de bateria para o cérebro. Sou meio chata, meio nerd, meio quieta, meio solitária, meio sombria. Talvez por esse fato estou com meus 23 anos, solteira, e apaixonada pela garota da contabilidade a cerca de um ano, e nem se quer tive coragem de falar com ela, que ela era o único ser naquele lugar que eu não me importava de dividir meu ar. Somos diferentes, mas quando falamos algum assunto, é como se fôssemos totalmente ligadas, as nossas conversas são bateria para o cérebro, ela sabe como ter um ótimo papo cabeça, sem ser forçado. Fisicamente parecemos totalmente opostas, eu tenho olhos azuis, ela pretos, tenho cabelos longos loiros, os dela são mais curtos e pretos, ela é tatuada, e a sua mãe é tatuadora, a minha mãe é florista, e acha ridículo tudo que ficar sobre o corpo quando estamos totalmente despidos, eu por outro lado, acho sexy. Ela tem 24 anos, nunca falamos sobre a orientação dela, mas provavelmente o assunto "eu" já chegou aos seus ouvidos. Tem tantos momentos na vida, que nos pegamos pensando, como a sociedade insiste em falar que é escolha, por mais que eu me ame igual sou, me pergunto se alguém por escolha própria, escolheria viver uma vida onde os olhares te dominam a cada corredor, onde as piadas rolam a solta e onde a conversa acaba quando vc chega, onde o cara casado não aceita ou não gosta que sua mulher vá ao banheiro quando você está lá, como se você fosse contaminar ela com um vírus mortal, no qual fará ela enxergar que o pênis do seu marido, por maior que seja, nunca vai se comparar a língua e ao dedo de uma lésbica, até pq sabemos muito bem o que fazer, e como fazer. Talvez eu seja uma tola de saber como enfrentar todos os dias as pessoas, e os seus olhos maldosos, mas não saber muito bem lidar com o requisito garota bonita a minha esquerda no corredor do serviço, ou ao seu sorriso tão lindo, e a sua voz que são músicas, e que sempre saem o melhor assunto, sobre o melhor livro ou sobre o melhor filme. Talvez um dia a mesma força de vontade que uso para continuar firme em meio a um mundo duro, que acha que eu deveria usar tênis, ao invés de sandálias, ou calça moletom ao invés dos meus jeans, ou que não posso usar salto, por ser lésbica, e que simplesmente tenho que ter o estilo que eles ditam, sei que essa mesma força que uso para suportar tudo isso, vai ser a mesma que vou usar para  chamar uma garota para sair, mas até lá, vou tomar uma xícara de café na melhor companhia, e no melhor papo, com a garota de sorriso mais lindo, e o melhor motivo para deixar uma chuva de manhã cedo para pegar o mesmo ônibus que ela.

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