1- Acabou!

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Após sete anos, foi só o que Manu ouviu:

"Não dá mais"!

Nenhuma outra palavra, explicação, desculpa...
Ela estava acostumada com a mudança repentina de comportamento, com a nítida falta de interesse e com a desconfiança sobre haver algo errado. Geralmente assim, nesta ordem, até que o temido e inevitável "acabou" finalmente chegasse. Mas com o Beto foi diferente. Ele nunca foi muito de fazer média, e para terminar o namoro levou isso bem a sério!

Na hora Manu pensou que tivesse escutado errado ou que Beto fosse voltar atrás. Mas não, ele foi bem claro - teoricamente devido a mais uma discussão por causa dos ciúmes​ dela. E após deixá-la em casa ele ligou o carro e foi embora.

Manu entrou e subiu para o seu quarto sem falar com os pais e o irmão que estavam na sala. Deitou-se na cama, ficou alguns minutos olhando para o teto, depois pegou o celular e escreveu várias mensagens para Beto, que por sua vez nem as recebia. Aparentemente o número dela havia sido bloqueado. E para confirmar, ela pegou um outro chip que tinha guardado numa gaveta, mandou um singelo "oi" e este foi recebido imediatamente com sucesso.

Ela ficou irritada, sentiu muita raiva do agora ex-namorado. E enquanto tirava do guarda-roupa as coisas dele, incluindo fotos, camisas e presentes, foi interrompida por sua mãe:

"Manuela, está tudo bem, filha?
Abra aqui para conversarmos um pouco!"

"Está tudo bem sim, mãe. Eu... eu só estou com um pouco de dor de cabeça, mas já já passa!"

"Manuela, eu sou sua mãe e sei que há algo errado. Abra, filha!" - insistiu a Sra. Inês.

Mas Manu continuava ocupada separando tudo de Beto e tentando disfarçar o choro. Ela não se conformava com um sutil "não dá mais" após fazer planos de casamento, filhos e tudo que um casal normal idealiza. Estava certa sobre Beto ser o homem da sua vida e não conseguia imaginá-lo sequer longe da sua rotina, dirá fora da sua história.

A Sra. Inês desistiu de convencer a filha a abrir a porta. Mas já deduzia se tratar de algo envolvendo o relacionamento dela. A insegurança de Manu fazia com que ela tivesse mais do que uma imaginação fértil, mas também atitudes constrangedoras.

Tinha ciúme demais envolvido e por diversas vezes o namoro teve mais estresse do que momentos bons e descontraídos. Era enorme o medo de Manu perder Beto. Até que esse dia chegou e ela não pôde evitá-lo, restando apenas a obrigação de aprender a lidar com a nova condição e a recomeçar.

Então pensou:

"Eu não vou ficar sofrendo pelo Beto, não mesmo! Ele está muito enganado se espera que a minha vida pare porque ele resolveu sair dela. Vou dar a volta por cima e ele irá se arrepender de ter terminado comigo. Ele vai ver só!"

Após o momento "vou superar isso tão rápido quanto quem faz um miojo", Manu olhou para um cartão que tinha recebido do amado no último Dia dos Namorados, e chorou mais do que antes. E enquanto chorava, olhava o celular sem aceitar o fato de ter tido o número bloqueado por aquele que até semana passada havia dito que a amava. A mensagem enviada pelo outro número foi ignorada. E o desespero só aumentava.

Então ela decidiu ser radical: foi correndo para as redes sociais bloquear o ex. E fez isso com muito gosto! Ao terminar, aproveitou para bloquear o número dele - aquele que ela sabe até de trás para frente. Mas a publicitária estava obstinada a tirar definitivamente Beto de sua vida. E assim, de repente, exatamente como ele fez com ela.

Enxugou as lágrimas, sentiu-se aliviada e prometeu para si mesma que jamais o procuraria. Até que o celular emite um som de mensagem recebida e ela olha imediatamente para ver do que se trata. Com o coração acelerado, espera ser Beto mudando de ideia sobre eles. Mas na verdade era Laura, sua amiga desde a adolescência que trabalhava com ela e que mais parecia ler seus pensamentos, pois sempre a procurava nas horas mais difíceis:

"Manu, está tudo bem?
Estava aqui pensando em você."

Manu desanimou, pois esperava que fosse o ex - isso após jurar que não queria saber mais dele... mas, quem nunca?

Então ela decidiu ligar para a amiga. E após um "boa noite" bem rápido, começou a falar:

"Eu e o Beto fomos a uma festa. Lá ele não largava aquela porcaria daquele telefone. Certamente deveria estar falando com alguma mulher​... reclamei e brigamos. Aí ele veio me trazer em casa, e do nada disse que não dava mais. Mal me deixou falar e me acusou até de atitudes do início do relacionamento, coisas que antes nem eram um problema, mas que agora ele jogou na minha cara me deixando péssima e com a certeza de ser a culpada por ele ter decidido me deixar.

E agora, Laura, o que eu faço? Estou mandando mensagens e ele nem recebe."

"Manu, será que não foi só mais uma daquelas brigas que vocês costumam ter? Vai ver ele só não quer papo agora, depois tudo pode voltar ao normal. Por que você não espera um pouco?"

"Não sei, Laura. Acho que dessa vez foi diferente. Tomara que você esteja certa, mas sinto que perdi o Beto de vez. Ainda assim te agradeço, amiga! Vou desligar. Qualquer novidade eu te aviso. Vá descansar e amanhã na agência nos falamos melhor."

"Fique tranquila, Manu. Tudo vai se ajeitar. E se quiser conversar mais eu estou aqui."

Só depois que se despediu de Laura que Manu lembrou que havia bloqueado Beto, sendo improvável se tratar de uma mensagem dele naquele momento.

Continuou mexendo no telefone enquanto apagava fotos de Beto, com Beto... era foto que não acabava mais! E de tanto olhar para Beto, adivinhe só o que ela foi fazer?

Acertou se você pensou "procurar Beto"!

E desconfio até que nem Nemo tenha sido tão caçado!

Agora ela resolveu ligar do próprio número. Certa de que seria ignorada, foi surpreendida com um atendimento estilo interesse em vender um novo produto: no primeiro toque!

E ficou perdida, pois não houve tempo hábil para que ela pensasse em tudo o que queria ou poderia dizer. Aí ela simplesmente disse:

"Eu não vou tomar muito o seu tempo. Só acho engraçado que..."

Uma pausa para o longo monólogo que viria pela frente. Pois se começasse com "acho engraçado", Manu não parava mais de falar.

Gente, é sério! E Beto se sentia como aqueles personagens do desenho "Caverna do Dragão", pois sempre que pensava ter encontrado uma saída para que Manu parasse de falar ela só faltava dizer que era "pegadinha". E continuava, continuava... mas também, quem nunca, né?

Após falar que "achava engraçado", Manu refrescou a memória do ex sobre dizer que a amava, que queria ter dois filhos, que se sentia completo ao lado dela... e ele só ouvia. Passando uns trinta minutos (isso mesmo, meia-hora!), ele a interrompe e sugere que ela não piore as coisas, que cansou de avisar que estava exausto e que uma hora a deixaria de vez. E pediu que ela não ligasse mais.

E pasme-se: disse que se ela não o deixasse em paz ele a bloquearia "também" para ligar para ele!

Dá para acreditar?

Manu ouviu, e voltou a chorar. E Beto ignorou, despediu-se, desejou que ela ficasse bem (após esse fora) e... desligou.

Assim, bem simples, como quem recusa um produto desinteressante oferecido por um telemarketing.

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Que situação a da Manu, hein, gente?
Alguém já passou por algo parecido?

Espero que continuem por aqui. Beijo meu 😘

Acabou! E Agora? Onde histórias criam vida. Descubra agora