18- O mal-entendido

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Quando Laura passou para ir até a sala de Manu, todos ficaram cochichando. Ela já sabia o que estava acontecendo, mas optou por não se manifestar. Chegou muito chateada até Manu e contou o que houve, incluindo a parte onde Nanda já sabe sobre a sua gravidez, bem como os demais colegas já minuciosamente informados por ela.

Durante a conversa, Lucas chegou, cumprimentou secamente as amigas, trouxe alguns materiais de escritório para Manu, entregou um comprovante de recebimento para que ela assinasse e pediu licença para sair. Manu tentou disfarçar, mas Laura percebeu e perguntou:

"Ué, o que aconteceu nessa viagem? Sei que esse rapaz é novo aqui, mas já vi vocês conversando e... sei lá, achei o clima esquisito."

"Não tem clima nenhum. E não aconteceu nada. O que poderia ter acontecido? Eu mal o conheço. E ele tem basicamente a idade do meu irmão caçula." - declarou Manu, visivelmente incomodada pelo fato de ter sido tratada de forma indiferente pelo assistente.

"Que exagero comparar o rapaz com o seu irmão! E no fundo você não consegue é admitir que o achou interessante, então fica criando desculpas até com relação a idade dele." - declarou Laura fazendo com que Manu refletisse sobre isso e sobre a possibilidade de estar vendo um homem com outros olhos em tão pouco tempo após romper com Beto.

"Não diz bobagem, Laura. E vamos trabalhar porque hoje será tenso aqui. Ainda mais sem o Sr. Castro. Ouvi o pessoal comentando que ele foi embora correndo para​ ver a esposa no hospital. Aposto que de novo a coitada teve aqueles problemas com a pressão, tadinha." - disse Manu enquanto ajeitava sua mesa e organizava suas gavetas.

Laura percebeu que a amiga não queria mais falar sobre o assistente e resolveu voltar para a sua mesa.

Manu ficou inquieta pensando no modo como Lucas a tratou. Então ligou para o ramal dele e o chamou. E ele foi:

"Oi, Manu, tudo bem? Está precisando de alguma coisa?"

"Não, Lucas, não estou precisando de nada... na verdade eu só queria saber se você está bem. Eu tive a impressão de você estar diferente comigo e... não sei, de repente por algum mal-entendido​ na viagem."

"Não, Manu, imagina! Está tudo bem. Eu tive um probleminha aqui hoje, mas não foi nada com você. E eu que peço desculpas por qualquer coisa. Desde que a conheci te achei muito bacana e... de repente fiz alguma confusão. Com isso posso até ter causado má impressão, não sei... mas pode ficar tranquila que vou me comportar daqui para frente." - declarou o rapaz sorrindo e encarando Manu. Que olhava para ele lembrando do sonho na praia e já nem o escutava.

Ele percebeu que ela ficou pensativa e disse que iria voltar para a mesa dele.

"Estou indo então, tá, Manu? Manu?"

"Ah, tá... ok... então tá, Lucas. Desculpe! Eu estava me lembrando do... da... da campanha do dia 12. Preciso logo terminar isso."

"Fique tranquila! Até lá você resolveu tudo. E falando nisso, acredita que a Guilou me ligou mesmo querendo combinar um encontro para que eu conheça o amigo modelo dela? Nem me lembro de ter passado o meu número... expliquei que não sei nada sobre esse lance aí. Mas ela insistiu e parece que virá para o Rio em breve. E ficou de me procurar. Agora vou indo. Depois nos falamos."

Manu iria comentar, mas Lucas saiu. Ela ficou lembrando da cara de pau de Guilou. Mas depois concluiu que a empresária é mais livre que ela, pois agiu como gostaria sem se importar com a opinião alheia. E enquanto pensava sobre isso, seu telefone tocou. Era a sua mãe:

"Oi, mãe!"

"Oi filha, tudo bem por aí?" - perguntou a Sra. Inês.

"Sim, está. E por aí?"

"Tudo sim. É para avisar que a sua prima Mariana casa mês que vem. E a sua tia nos ligou para nos convidar. Como sei que você gosta de se programar muito para tudo, já estou me antecipando. Sabe como a sua tia Aimée é, né? E ela faz questão da nossa presença."

"Nossa, a Mariana vai casar já? Está namorando há tão pouco tempo... quando o cara quer algo sério é outra história, né? Mas tá bom, mãe. Nós vamos sim!"

"O que você disse antes, filha? Falou muito baixo e não ouvi direito."

"Nada, mãe! Só pensei alto."

"Tá bom. Vai lá trabalhar. À noite a gente conversa melhor. E almoce direitinho, hein, Manuela. Beijo."

"Outro, mãe!"

Manu desligou o telefone e ficou pensando no casamento da prima:

"Já estou até vendo! Todos vão me comparar com a Mariana... mais nova, casou logo e com pouco tempo de namoro... vão ficar perguntando pelo Beto... não acredito nisso! E ainda por cima eu não tenho ninguém para me fazer companhia..."

Enquanto ainda falava sozinha, Lucas bateu na porta e entrou. Disse que precisaria ir na rua. E que se precisasse de algo Manu poderia falar com a secretária do Sr. Castro, a Sandra, mas que ele voltará logo.

"Lucas! Antes de você sair eu posso te fazer um pedido? Na verdade seria um convite, mas vou entender se você não puder ir. É porque é coisa de família e eu não gostaria de ir sozinha. A Laura eu sei que mesmo se puder não vai concordar e... não tenho tanta gente para chamar porque meus amigos são quase todos em comum com o Beto..."

Manu não falava de jeito nenhum o que queria. Então Lucas a interrompeu:

"Manu, eu realmente preciso descer agora. É para resolver uma questão aqui da agência. Você pode só falar logo do que se trata ou esperar que eu retorne? Me desculpe!"

"Não, claro! É que eu gostaria de saber se você pode ir comigo ao casamento da minha prima no mês que vem." - disparou Manu. Fazendo caras e bocas e esperando a reação do colega.

"Sério? Você quer a minha companhia para ir a um casamento? Que máximo! Mas é claro que eu vou! Acredita que nunca fui a um? Mas agora vou sair. Depois você me fala mais sobre isso. Pode ser?" - disse o assistente todo empolgado e já saindo.

Manu ficou aliviada. Apesar de desconfiar que o rapaz tivesse mostrado interesse por ela durante a viagem, ela não sabia se ele aceitaria o convite. Por outro lado ficou pensando nos motivos que a levaram a chamar justo ele. E ficou apreensiva com receio dele confundir as coisas - embora ela mesma já estivesse confusa.



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