CAPÍTULO QUATRO

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ANNE

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ANNE

Ergui minha cabeça e encarei a senhora de cabelos grisalhos a minha frente. Ela ainda me fitava com curiosidade, a testa franzida indicava sua preocupação enquanto seus olhos grandes e brilhantes esperavam ansiosos por minha fala.

Eu não sabia como ou por onde começar, eu havia desonrado o nome de nossa família, mesmo que tivesse sido contra a minha vontade. As pessoas da região costumavam ser extremamente severas com quem burlasse as leis divinas e os conselhos do padre. Mesmo eu sem culpa alguma da desgraça que me ocorreu, estava a mercê dos mais cruéis julgamentos.

— Vovó… — murmurei em um fio de voz, quase como um sussurro. — Algo terrível me aconteceu. — De repente a sala estava tão gélida que senti meus ossos doerem.

— Oh, querida! Está me preocupando. — Ela se aconchegou ao meu lado.

Respirei fundo algumas vezes, apertando o cobertor sobre o corpo até os nós dos meus dedos ficarem brancos.

Então eu contei tudo a ela, da forma que pude. Entre um soluço e outro expus os detalhes daquele terrível dia.

Vovó me encarou, o rosto em puro horror, ela deu alguns passos para trás e se apoiou na parede que levava à cozinha. Não havia nenhum vestígio de sangue em seu rosto, pois estava branca como jamais a vi antes. Eu precisava continuar.

— Quando achei que não sairia dali, a fera apareceu e o atacou. Eu não conseguia me mexer então vi aquele monstro torturá-lo e depois matá-lo sem nenhuma piedade, eu sabia que seria a próxima, e finalmente consegui me levantar e fugir.

Minha avó soluçou e eu não pude encará-la.

— Eu não sei como consegui sair de lá, estava em estado de choque, mas de uma coisa eu sei. — Levantei os olhos para fitá-la. — Vovó, eu jamais conseguiria escapar do lobo, ele simplesmente me deixou ir.

Minha avó arregalou os olhos e murmurou algo baixinho. Eu me encolhi na cadeira e afundei o rosto entre os joelhos. Ela continuava a repetir algo que eu não podia decifrar, então correu e me amparou em seus braços. Ela não disse mais nada, apenas me abraçou forte e murmurou uma linda canção de ninar.

Eu chorava copiosamente no seu colo, buscando de certa forma um consolo para o que havia acontecido.

***

Eu estava novamente na floresta, tudo estava absurdamente escuro e muito quieto, o que me deixava ainda mais assustada. Eu não sabia como tinha ido parar ali novamente, um arrepio percorreu a minha espinha e eu me encolhi.

Ouvi o som de passos, e a imagem do meu padrasto me perseguindo preencheu minha mente. Comecei a correr, eu precisava me esconder, precisava estar o mais longe possível daquele homem.

Foi aí que percebi que quanto mais eu corria, mais perto o barulho de passos parecia estar, na verdade, eu não estava saindo do lugar.

Já estava desesperada, suava frio e minha cabeça latejava em alguns pontos. Eu sabia que não aguentaria viver tudo aquilo novamente. Perguntei-me onde vovó estaria, por que ela havia me deixado sair, ela não ouviu tudo o que eu contei?

No auge do meu desespero vi uma figura assustadora sair das sombras, ela se aproximou muito rápido e tentei me proteger como podia. Dei alguns passos vacilantes para trás e quando me preparava para correr, senti algo duro se chocar contra as minhas costas. De repente eu estava cercada de árvores, eu mal podia me mexer e soube que estava encurralada novamente.

Entre as sombras eu o vi de novo, olhos grandes e garras amedrontadoras, ele estava maior, sim, muito maior do que eu havia reparado da última vez. Tratava-se de um imenso lobo, o lobo que por pouco não tomara minha vida.

Meu coração deu um salto, errando algumas batidas e quase me engasguei com a minha própria saliva. Eu estava com medo, temi que me atacasse dessa vez, pois não poderia fugir dele novamente.

Eu me encolhia o máximo que o tronco atrás de mim me permitia, eu apertava os olhos, mas logo em seguida os abria de novo. A ideia de ser atacada era assustadora, porém a possibilidade de um ataque surpresa me impedia de sequer desviar o olhar.

Na pouca claridade da noite os seus pelos pareciam brilhar, a boca estava semiaberta e eu podia ouvir um rugido baixo do seu peito. Como se quisesse me dizer algo, ele permaneceu lá me encarando. Eu não sabia decifrar o que aqueles olhos grandes queriam dizer, mas afinal eu era o seu alvo e logo ele trucidaria meu corpo sem piedade alguma.

Covarde, não suportei o peso do seu olhar e com meu corpo a poucos centímetros do seu, forcei meus olhos a se fecharem e esperei pelo pior.

Minha respiração estava a um fio e não sei como meu coração ainda não havia parado de bater. Eu esperei, esperei sentir o gosto de sangue na boca e ouvir minha pele sendo rasgada. Eu esperei ouvir seu rugido e sentir a dor dilacerante. Esperei, esperei e nada.

Abri os olhos de súbito e a fera que me encarava, agora havia sumido na floresta. Eu caí com o rosto no chão e um grito agudo cortou minha garganta.

***

— Foi apenas um pesadelo, querida. — Vovó me abraçava.

— Ele estava lá! —balbuciei. — O lobo estava!

— Do que está falando, Anne? — Minha avó perguntava, aflita.

— O lobo estava no meu sonho, estávamos cercados pela floresta e a escuridão. — Eu disse. — Ele estava bem na minha frente e eu sabia que era meu fim. Foi aí que eu me entreguei a ele, não tinha por que resistir e então algo aconteceu… Ele foi embora, ele se foi, simplesmente me deixou lá, poupando mais uma vez a minha vida.

Minha vó apertou os olhos e chorou de novo.

— Por quê?! — perguntava para o alto. —Por que, mais uma vez, tem sido cruel comigo?

 —Por que, mais uma vez, tem sido cruel comigo?

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Chapeuzinho Vermelho - [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora