CAPÍTULO TRÊS

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ANNE

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ANNE

Não havia mais ninguém, somente o medo e nós dois naquela enorme floresta. Ninguém podia ouvir o meu choro ou o som que os seus punhos faziam.

Eu quis matá-lo, sim eu estava com raiva, eu quis bater e xingá-lo, eu quis que ele pagasse pelo que tinha feito a mim, mas ele estava certo, eu não podia fazer nada.

Meus olhos estavam pesados e todas as partes do meu corpo doíam, já me faltava ar e eu sabia que desmaiaria ali mesmo.

Foi então que um par de olhos brilhantes surgiu em meio à baixa claridade do local. Era uma criatura que aparentava ter dois metros de altura, talvez mais. Seu corpo era coberto por pelos escuros, sua boca tinha afiados dentes e seu rosnado alto era assustador. O temido lobisomem estava bem ali na minha frente, encarando-me assim como eu o encarava.

A fera nos rondou ameaçador e Joseph caiu ao meu lado, pude sentir o pânico nos seus olhos. Puxei a capa sobre o corpo e me encolhi como uma criança indefesa, chorando baixinho dessa vez. Eu pisquei e então o lobo avançou sobre o homem que tremia ao meu lado, ele já não parecia tão confiante a esse ponto e gritava alto como eu tinha gritado. Meu corpo tremia tanto que eu só conseguia cambalear de um lado para o outro.

Eu estava apavorada e me sentia minúscula, tão perto de quase três metros de puro terror. Com suas unhas afiadas ele começou a rabiscar símbolos na carne do meu padrasto, e o sangue jorrava do seu corpo de uma forma impressionante. Ele gritava enquanto o lobo parecia ainda maior e mais feroz, seus gritos eram tão altos que ecoavam por toda a extensão das árvores. Eu não conseguia correr, não podia nem mesmo mexer um músculo, eu estava paralisada de medo e fui obrigada a presenciar tudo.

Depois de um tempo desenhando na pele de Joseph, com sua pata ele acertou o rosto do meu padrasto e com a boca puxou seu dedo indicador, arrancando-o, fazendo-o gritar em agonia. Ele continuou o seu trabalho ali, até que não sobrasse mais nenhum de seus dedos.

Eu desviava o olhar, enquanto uma poça enorme de sangue se formava aos seus pés, mas algo me fazia voltar a fitá-lo. Algum tempo se passou, o lobo parecia cansado da fraqueza de meu padrasto e o empurrou para a frente. Ele deveria correr, eu suponho, no entanto eu duvidava de que o lobo estivesse lhe dando a chance de salvar a vida, pois o homem mal havia dado três passos quando o lobo avançou friamente sobre ele. Dessa vez eu não fiquei para ver, pois sabia que assim que ele terminasse com Joseph, seria a minha vez.

Enrolei meu corpo machucado com a capa vermelha e tentei cobrir o máximo que podia, correndo o mais rápido que minhas pernas ainda podiam permitir. Eu estava correndo para salvar a vida com o pouco de coragem que ainda me restava.

Eu já sentia meus pulmões queimando por falta de ar, mas os gritos e súplicas do meu padrasto me fizeram continuar.

Ainda podia ouvir o som de algo se quebrando, ossos ou galhos, não sabia exatamente do que se travava e sinceramente eu não queria ficar para saber.

Eu já não aguentava mais correr, estava esperando o momento em que eu desabaria sobre os joelhos quando avistei uma pequena casa a minha frente. Suspirei aliviada, trancas, portas e janelas estavam a poucos metros de mim. Lá, eu estaria segura.

— Vovó! — gritei quando meus pés doeram nas pequenas pedras perto da entrada. — Por favor, me deixe entrar! — Batia na porta desesperadamente.

Ela estaria ali, não é mesmo?! Ela tinha que estar.

A porta aos poucos se abriu e uma senhora de meia-idade sorria, mas logo seu sorriso desapareceu quando ela pôde dar uma boa olhada em mim.

Em choque eu tentava controlar a respiração, o coração errando as batidas.

— O que houve, querida? Por que está nesse estado? — Ela perguntou. — Oh, meu Deus!

Eu a abracei forte, não conseguia falar direito. Meus soluços me impediam de formular palavras lúcidas, como iria dizer a ela o que aconteceu na floresta?! Como dizer que sua neta foi violentada e espancada pelo marido da sua filha, ou dizer que presenciei sua terrível e cruel morte? Como ainda dizer a ela que senti uma pontada prazerosa de alívio e vingança ao vê-lo tornando irreconhecível o corpo do ser desprezível que arruinou minha vida?

Ela me levou para dentro e me pôs sentada em uma cadeira.

Vovó Marie sempre foi uma mulher forte, carinhosa e extremamente religiosa. Sempre lutou para criar a minha mãe sozinha após a morte do meu avô. Apesar de não falar muito sobre ele, sei que o amava e que havia sido um belíssimo homem, gentil e prestativo. Minha mãe ainda tinha poucos meses de vida quando ele morreu, tristemente assassinado pela besta.

Em suas mãos trêmulas e enrugadas, ela trazia água e um cobertor grande. Com cuidado, ela me envolveu com aquele tecido pesado e levei o copo de água aos lábios.

Sobre mim, os olhos questionadores da minha avó me lançavam inúmeras perguntas silenciosas, eu me perguntava o que estaria pensando, como se fosse tão difícil assim imaginar. Sua neta havia chegado em casa aos prantos, seminua, machucada e em pânico. Não havia muito o que supor a respeito.

A dor que eu sentia ainda era insuportável, e por Deus! Eu não sabia se um dia ela teria fim.

— Minha querida, está mais calma? — Vovó Marie perguntou um tempo depois.

Eu não podia responder, meu queixo tremia e os dentes batiam uns nos outros com força.

— O que houve com você, minha pequena?! — Acariciou meus cabelos bagunçados.

Fitei o chão em silêncio, seria ainda mais doloroso falar sobre isso e eu não sabia se seria capaz de continuar.

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Chapeuzinho Vermelho - [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora