⠀ ㅤ capítulo quinze.

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Na primeira meia hora que fiquei com Perry, descobri muitas coisas sobre ela. Como o fato de que ela era brasilo-estadunidense, e que foi criada pelo pai em maior parte nos Estados Unidos, mas que morou quase sete anos no Brasil, mais especificamente no litoral do Paraná. Ela conseguia falar português mas reclamou que ainda tinha muito sotaque e que tinha dificuldade em pronunciar palavras maiores. Fiquei maravilhada com o que ela contou sobre o seu tempo fora, em como era sempre muito quente mas que as praias eram de tirar o fôlego. Nos entendemos logo de cara, o que me espantou um pouco, porque o jeito com que Perry se dirigia era quase como se fossemos amigas há muito tempo. Entre conversar e me apresentar cada canto do Acampamento, Perry me introduziu a alguns de seus amigos e seu irmão, Butch, que certamente não tinha nada a ver com a garota.

Ela também me explicou o sistema de chalés, que cada um era destinado a um deus e que seus filhos ficavam em seus designados alojamentos. Os de Hermes, Apolo e Afrodite eram os mais cheios, segundo Perry, e eu pude confirmar isso somente pelo tamanho dos chalés e quantidade de pessoas que transitavam de dentro para fora deles. Ela apontou para os maiores, encontrados em meio ao círculo em meia lua que era o conjunto de chalés principais, ladeados por vários outros um tanto menores. Alguns eram pintados de cores vivas e chamativas, enquanto outros pareciam irradiar uma aura mais pesada e menos alegre, especialmente o chalé 13. Esse parecia ter a decoração inspirada em um daqueles filmes clássicos do  Conde Drácula. 

Prestando mais atenção, pude perceber que todos os chalés eram numerados, ímpares para esquerda e pares para a direita, e os mais próximos ao centro pareciam aumentar gradativamente de tamanho até os dois maiores, tão majestosos e ridiculamente brancos que passavam um ar de superioridade exagerada se você os encarasse por tempo demais. 

— Esses são os primeiros chalés que tivemos no acampamento. Pode não parecer, mas os outros foram construídos bem recentemente.

— E onde ficavam os filhos desses outros deuses?

Perry fez um careta, como se desaprovasse o que aquilo significava.

— Geralmente, assim que chegam ao acampamento, os semideuses são reclamados por seu parente divino logo na primeira semana. Pelo menos, é isso que acontece agora. Antigamente, havia muitos de nós que ficavam anos sem saber de quem eram filhos e eles ficavam ali, — ela apontou para um chalé pintado com um marrom maçante, e com um caduceu pendurado na porta e o número 11 escrito logo acima. — no Chalé de Hermes. Mas agora, todos têm um chalé dedicado ao seu pai ou mãe, então é difícil ter qualquer outra pessoa lá sem serem os filhos de Hermes. Aliás, tenha muito cuidado com eles, eles têm o costume de furtar as suas coisas sem que você nem perceba.

Assenti, um tanto perdida. Ainda era muito estranho como Perry falava dos deuses e seus filhos como se não fosse nada demais. Eu ainda tinha dificuldade de ver aquilo como algo real.

— A questão é: o chalé 1, 3 e 13 teoricamente não deveriam ter qualquer campista alojado neles, mas que importância tem uma promessa para seres imortais, certo?

Um trovão ressoou ao longe.

— Enfim, aquele é o meu chalé, o Chalé de Íris. Bonito, não é? Eu ajudei a construí-lo, tentando descobrir o que agradaria mais a nossa mãe. — ela falava com entusiasmo e um certo tom de orgulho, mas era possível notar o ressentimento em sua voz, como se o fato de que construíram o chalé somente agora a incomodasse mais do que deixava transparecer.

Observei o chalé, que parecia ser decorado com as próprias cores do arco-íris, como se tivessem as tirado de um de verdade, e se você olhasse de um certo ângulo até parecia que havia um arco-íris sendo formado no vidro das janelas. Ele me trazia a sensação de que um unicórnio poderia saltar de trás dele a qualquer instante, mas ainda assim possuía sua beleza.

a tempestade de ouro ━ hdoOnde histórias criam vida. Descubra agora