Capítulo 10

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Dinah e Camila acomodaram-se na proa do barco que as levaria de volta a Santo Antão e desta vez cientes do que iriam encontrar. Ambas tinham sorrisos no rosto e alguma expectativa. Dinah não via a hora de se embrenhar pelo interior daquela terra abençoada e fotografar cada pequeno detalhe de beleza inquestionável. Sabia que havia muita coisa a ser vista e fotografada pelas suas lentes. Tinha saudades do povo da Quinta, da comida da Ally, da simplicidade com que lidavam com a vida, das festas regadas a uma música que dava vontade de dançar até não aguentar mais, saudades daquelas vistas estonteantes que muitas vezes tiravam o fôlego, do frio na barriga que as montanhas causavam, queria viver tudo à exaustão e dessa vez com mais tempo, não perderia um único momento.


Camila olhava o Monte Cara perdendo os contornos claros de um homem dormindo com a cara para o céu, ao mesmo tempo em que do outro lado via a ilha mágica ganhando cada vez mais as cores que já conhecia e que por mais que não entendesse muito bem a razão, morria de saudades. Suspirou ao lembrar daquela subida que levava rumo ao norte, a deslumbrante estrada de Corda, daquela cratera que escondia um vale magnífico, do luar que faria qualquer coração por mais frio que fosse sonhar. Sorriu ao lembrar da Allycat, uma senhora que encantava com seus gestos de mãe de todos, uma bondade nata. Embora não tivesse muita paciência com crianças, também queria muito rever aquelas meninas que cativavam com seu jeito meigo.

Lauren...tinha tanta vontade de revê-la que precisaria controlar-se para não exceder nas suas atitudes. Estava certa que no tempo que ficaria na ilha, ao mínimo sinal de abertura que ela desse, não pensaria duas vezes antes de tentar conhecê-la melhor e isso incluiria sim momentos de intimidade com a branquinha de pele dourada. Agiria com o que tinha de melhor, uma forma leve de seduzir mas de eficácia irrefutável. Tinha pensado bastante nela, naquele jeito que era uma mistura de meiguice e alguma agressividade ou seriedade excessiva, não sabia ao certo definir, mas simplesmente a encantava e impelia a saber mais. Apesar de ter uma postura quase sempre muito profissional, ela tinha momentos que mais parecia uma criança.


Sorriu ao lembrar do dia em que pulara nas suas costas e saíram correndo pelo campo como duas crianças brincando e rindo. Era difícil não desejar uma mulher assim e ela queria sim ultrapassar todas as barreiras de Lauren.


Seu charme natural era irresistível, pelo menos até então tinha sempre conseguido quase tudo...se Lauren ficasse levemente interessada, o caminho para o prazer estaria traçado. Contudo, sabia que não seria uma tarefa das mais fáceis, longe disso, e era exactamente aí que residia o encanto, quanto mais difícil melhor. Estava cansada de não ter que lutar muito por coisa alguma. Quase esfregou as mãos de pura euforia, mas controlou-se para não chamar a atenção da amiga e colega, não diria nada de concreto a Dinah, ela não tinha muito controle sobre a língua...sorriu ao imaginar a amiga falando mais do que devia ou a deixando embaraçada com algum comentário inoportuno. Não, ficaria calada e agiria quando estivesse sozinha com Lauren. Para todos os efeitos o único objectivo da viagem de volta ao encanto daquela ilha era fazer mais um trabalho impecável.


--Camila, já estou ansiosa para desembarcar logo e voar para Chã de Igreja, mais concretamente para aquela Quinta maravilhosa e devorar as delícias da Allycat.


--Gulosa! -- Disse Camila rindo.

--Ah, só eu? Vai me dizer que não sentiu saudades daquela comida maravilhosa?

--Claro que sim. Mas vê lá se controla essa boca, eu não estou disposta a ouvir aquela célebre frase no meu ouvido: Mila, estou gorda, não sei o que faço e bla bla bla.

--Sei como balancear a gula, correr contigo todas as manhãs...só não vale exagerar demais e levantar com o cantar do galo. Por favor, ajude a tua amiga a controlar a gula. -- Risos.

No Encanto da Ilha (Camren) Primeira ParteOnde histórias criam vida. Descubra agora