Capítulo Cinco

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Hospitais são feitos para ajudar. Quando se está doente, os médicos te auxiliam e encontram uma solução para sua doença, com medicamentos, cirurgias e diagnósticos precisos. É uma lei do universo: se você está doente, vá ao hospital. Hospitais são feitos para ajudar.... Quer dizer, quase todos.

Os hospitais psiquiátricos, ou mais comumente conhecidos como manicômios, são extremamente diferentes de qualquer outro tipo. É óbvio que existem doentes naquele local, mas é um lugar que te faz doente.

Sua atmosfera hostil já começa te afetar na entrada, quando os enfermeiros e médicos te observam com um pesar quase mórbido. Eu até conseguia sentir os seus pensamentos. "Mais uma louca", "Puxa, coitada, nunca vai sair daqui". Parece que quanto mais tempo você fica ali, mais malucos seus pensamentos se tornam.

Meu rosto estava pálido, o encontro com meus pais e aqueles outros dois homens ainda me atormentava. O olhar inocente do doutor Maciel me desgraçava as entranhas, nunca vira pessoa tão dissimulada quanto aquele monstro.

Eu havia corrido à polícia, a fim de entregar um criminoso, e ao invés de me ajudarem, eu fora taxada de louca. Não restava mais nada a se fazer, além de morrer com aqueles loucos. Eu não era maluca, eu estava perfeitamente sã e sabia que aquele psicólogo era um estuprador. Porém minhas forças haviam se acabado, eu nem sequer pude falar com Cássia, ela somente me fitou com seu olhar de surpresa quando me viu saindo da delegacia presa.

O hall de entrada do Hospital Psiquiátrico Rufford era ornado com mármore branco, contendo alguns desenhos geométricos pretos no chão. Com um pé direito um pouco maior de que uma casa convencional, o teto do salão era incrivelmente branco, com uma luminária central fixada. Não era muito grande, mas sobrava espaço para alguns bustos esculpidos e vários quadros. O balcão de atendimento abrigava um sino de atenção sobreposto na frente de uma secretária com uma roupa inteiramente branca. Ela era bonita e em seu crachá estava estampado seu nome, "Gabriela". Seus olhos castanhos não pareciam surpresos ao me ver acompanhada de dois enfermeiros, que me buscaram na delegacia.

-Bom dia, senhorita Michelle. - O seu sorriso era terrivelmente simpático para aquele local. - O seu psicólogo nos trouxe sua ficha e a ordem judicial. Estávamos esperando por você. Poderia assinar seu pedido de entrada? - A bela moça depositou no balcão à minha frente um papel com meu nome e meus dados, com um espaço para a assinatura no fim.

De início eu me contive e continuei olhando com indiferença para Gabriela. Porém com uma grande motivação dos meus fiéis enfermeiros, eu assinei.

-Os cavalheiros te acompanharão para seu quarto. - Seu sorriso me perturbava de um modo estarrecedor.



Meu quarto era o último de um grande corredor de cômodos idênticos ao meu. Uma cama com um lençol branco jazia na parede à esquerda, bem à frente da porta. Uma mesa e uma cadeira enfeitavam a parede do outro lado, também em cores frias. O banheiro com chuveiro se localizava logo após uma porta que ficava entre a cama e a mesa.

Entrei e fiquei de pé, olhando para os enfermeiros parados na entrada. Depois de alguns segundos, Gabriela entrou no quarto com uma camisola branca em mãos.

-Você precisa usar isso, senhorita Albuquerque. - A mulher com cabelos loiros tingidos sorriu mais uma vez, fazendo-me colocar aquela roupa horrorosa. - E também, tem que tomar isso. - sua mão trazia um copo plástico com alguns comprimidos brancos dentro.

-Eu não vou tomar essa merda. - Minha voz saiu surpreendentemente alta. Eu não queria ser drogada, eu não era louca!

Com aquele "grito", minha primeira dose do medicamento foi tomada com a gentil ajuda dos extremamente fortes enfermeiros.

O tempo logo depoisOnde histórias criam vida. Descubra agora