Capítulo Seis

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Os dias seguintes foram monótonos, nada que valha a pena contar. Entretanto, descobri, com o decorrer da semana, a rotina do hospital psiquiátrico. Normalmente, os pacientes ficavam bastante tempo no Salão, "livres".

Na parte da noite, lá pelas sete horas, frequentemente havia uma atividade coletiva. Eram sempre no máximo dez pessoas. Acho que eles não conseguiriam "controlar" tantos loucos ao mesmo tempo; então eles limitavam à uma dezena.

Eu sinto que devia contar sobre o que aconteceu na primeira terapia coletiva, que ocorria às terças e quintas.

**

O salão, outrora cheio e movimentado, respirava um silêncio sufocante. Um círculo era formado por cadeiras de plástico branco, afastado da TV e do corredor. Quando entrei no local e observei tudo aquilo, todos já haviam se sentado e jaziam olhando para a mesma mulher de sempre.

Gabriela era uma moça bonita, apesar de ser muito irritante às vezes. O cabelo tingido não tirava nem um pouco da beleza dela. Talvez porque, fisicamente, ela não era linda; o que chamava atenção nela era o empenho para ser boa. Mesmo com seu sorriso fictício, ela irradiava uma simpatia fraterna. Não é possível dizer exatamente o que a garota tinha dentro de si, mas, sinceramente, para mim, aquilo não interessava; todo mundo tem problemas, o que nos diferencia é como lidamos com eles.

O que importa é que Gabriela se esforçava, mesmo sendo um pé no saco.

Um lugar ainda não estava ocupado, então me sentei com uma demora quase proposital. Eu estava ali por obrigação, era óbvio a todos. Os olhos caídos sobre mim demonstravam a hostilidade desconhecida do local.

Eu não tinha certeza do que aconteceria ali, mas era bem provável que fosse uma terapia coletiva normal, sem nenhuma surpresa. Felizmente, eu estava certa.

—Boa noite, pessoal! — Com a mesma animação de sempre, Gabriela soltou a voz e rompeu o silêncio — Hoje temos uma nova amiga se juntando à roda. Digam "oi" para a Michelle!

Nesse momento, eu senti um peso em mim. Não pela responsabilidade, mas sim pela atenção. Nunca fora acostumada com atenção de várias pessoas, o que me fez desviar o olhar para o chão de piso branco.

Todos disseram "Oi, Michelle" em uníssono, em uma fala terrivelmente mórbida. Eu não respondi, não era minha obrigação ali e não faria a mínima diferença me importar com aquilo. O que me deixou mais calma foi que o psicólogo Maciel não estava ali.

Depois de um caloroso cumprimento, a terapia se iniciou. Cada um, em ordem aleatória, se apresentou e falou um pouco mais de si. Em alguns casos, foram nítidos os motivos de estarem em um manicômio; em outros, quase imperceptíveis.

Porém, um homem me chamou atenção. Primeiro, eu, aparentemente, ganhei o olhar dele, por algum motivo desconhecido. Aqueles olhos azuis não paravam de me fitar, de um modo perturbador e analítico. Os cabelos grisalhos nas laterais denotavam um provável estresse. A barba malfeita sintonizava com seu rosto robusto e intenso, demonstrando um ardor duvidoso.

Finalmente, a vez do homem chegou.

—Boa noite, pessoal — sua voz grave soou por todo Salão, parecendo-me familiar. — Me chamo Douglas e estou há pouco tempo aqui.

A simples frase foi suficiente para que a minha vez chegasse, que recusei sem titubear.

O olhar sinistro de Douglas continuou pairado sobre mim, assustando-me cada segundo mais. Eu não gostava que homens me observassem. Meu coração começou a bater descompassado, assumindo um ritmo que poucas vezes havia notado. Levantei-me rapidamente e rumei para meu quarto, desobedecendo uma das regras da terapia coletiva.

O tempo logo depoisOnde histórias criam vida. Descubra agora