Eu não sei nada sobre a mente humana. Mas talvez eu acerte certas coisas incertas certas vezes. Ou simplesmente use palavras para enganar a mente humana e fazê-la retornar na última frase redigida, procurando algum erro de sintaxe ou gramatical. Talvez sim, talvez não. A verdadeira certeza é oculta para muitos, que julgam tudo como algo fictício. Mas, chega de filosofias, vamos comentar sobre a situação atual dessa nossa querida companheira.
Michelle estava em "um beco sem saída", como dizem alguns por aí. Ela não sabia se correr era melhor do que ficar. Com a liberdade tão almejada, ela daria adeus àquele lugar tão amargurado e deprimente, que tomou uma pequena parte de sua vida.
Algum leitor talvez tenha gostado da ambientação do Hospital Psiquiátrico, e sinta-se nostálgico em retornar para conferir cada detalhe do grande complexo. Porém, como não posso agradar a todos, agradarei a ninguém se não a mim mesmo.
Em vez de dizer sobre a entidade em si, falarei das pessoas que ali estão; quem sabe alguma empatia surja pela bela Gabriela, com os cabelos louros tingidos, que pela sua forma evidenciavam um grande cansaço e estresse matutino. Não ouso dizer que as olheiras são causa apenas do seu cedíssimo acordar, mas sim que parte da felicidade jovial dela, com certeza, foi sugada pelo labor incessante.
Quem sabe eu fale também do homem misterioso, que acalmava os calores de Michelle. Talvez a barba malfeita traziam uma paz para a garota, que imaginava alguém de seu passado naquela figura tão amigável.
E é nesse ponto que vou me focar. Provavelmente não é o principal, mas não quer dizer que o motivo da abordagem seja esse. A razão da escolha está nas entrelinhas entrelaçadas do enredo. E, você, meu leitor, é convidado a participar.
A criancice da garota fora tranquila. Com alguns arranhões aqui e outros machucados ali, Michelle aprendeu logo sobre a importância do aprendizado. Soube que nem tudo é possível e ninguém é para sempre. Mas, esse último veio mais intenso que um simples hematoma juvenil.
Tinha os treze anos. A mocidade chegara na sua pele, e até no seu interior. Os dias não eram incomuns. A rotina tediosa tomava conta do tempo de Michelle, que estudava e tentava manter sua família unida.
"Tentar" pode ser uma ação muito forte para uma garota de treze anos, que apenas implorava dentro de si mesma um auxílio divino, para a salvação da união de seus pais.
Em relação a isso, ela só se lembrava de algumas frases soltas, como: "quem é ela?", "se não fosse pelo que você fez, seria diferente", e muitas outras.... Entretanto, o que vale comentar nesse instante do enredo, são os próximos breves parágrafos.
Michelle estimava muito seu avô, que vivia quase todo seu tempo na antiga casa da rua cinco. Provavelmente pelo caos domiciliar em que sua casa se encontrava, a menina não sentia vontade de sair dos braços de Antônio; o qual contava histórias lindas e empolgantes, sobre um passado que parecia tão distante, que, em certos momentos, ela não sabia diferenciar os fatos da ficção.
Com cabelos grisalhos, possuindo apenas alguns fios escuros, seu avô vivia sozinho na grande casa velha. Por esse motivo, talvez, adorava o sorriso infantil de Michelle, ao rir pela décima vez do mesmo tombo de 1954.
Em alguns breves instantes recordava da sua avó, mas logo tudo isso se desvanecia em uma lembrança rasa, sem emoção ou significado.
Enfim, vamos ao fim desse pequeno conto.
Em uma quarta feira, Antônio cedeu ao enfisema pulmonar, sem nem mesmo ter fumado um cigarro sequer em todos os seus setenta e dois anos. Era "injustiça", bradava Michelle ao ver o caixão de madeira ser enterrado no pequeno cemitério da cidade.
E foi nessa parte, que nossa querida protagonista virou a mulher que conhecemos.
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Os segundos passavam lentamente. Cada minuto parecia refletir em cada parede, transformando o tiquetaquear do relógio em um som cada vez mais alto. O tempo realmente não avançava, e aqueles momentos pareceram uma eternidade para mim.
Era bom estar em casa, mas não parecia, de fato, que eu estava. Meus pensamentos acolhidos em minha mente sintonizavam uma única conclusão: eu precisava fazer alguma coisa. Não digo que eu já parti para a escolha mais extrema, mas eu reconhecia que ficar sem fazer nada era loucura. Loucura? O que era isso? Eu vivi cerca de duas semanas em um hospital psiquiátrico e não consegui absorver o sentido da sandice. Era difícil acreditar na credibilidade de um local que abrigou a mim. Não estou diminuindo a minha pessoa, mas eu não deveria estar em um hospício. E não era só isso. Havia outras pessoas que jaziam confinadas por pura falta de sorte, ou ironia do destino.
Douglas. Aquele homem certamente me cativara. Não em um sentido romântico, mas sim, pessoal. Eu o vira poucas vezes no Hospital Rufford, e em todas as conversas ele soube lidar comigo. Suas palavras não eram maliciosas, muito menos com segundas intenções. Quando ele perguntava como eu estava, eu conseguia sentir que ele estava realmente se importando comigo. Na noite anterior, eu havia conversado com Douglas pela última vez.
Um dia havia se passado desde o encontro com Carlos. Eu estava sentada no Salão, com o pé direito sobre a cadeira, dispondo meu joelho à frente dos meus olhos. Minha mente matutava cada segundo da conversa que eu tivera no dia anterior. As palavras de escárnio do psiquiatra me atingiam como pontadas no coração. Eu estava com medo. Por um lado eu desejava mais que tudo sair dali; por outro, eu queria ficar ali, "semiprotegida" pelas paredes do complexo hospitalar. E, no meio de todos esses pensamentos, ele chegou.
Diferente das outras vezes, ele chegou e apenas sentou-se à frente de mim, na cadeira que se dispunha no salão. Não pronunciou nenhuma palavra, mas seus olhos me devoravam por inteira, de cima à baixo. Cada segundo me sufocava, e eu não sabia se gritava, corria ou apenas ficava ali. E, no meio de tantas sensações, eu chorei. Abracei minhas pernas e deixei as lágrimas escorrerem no meu rosto, enquanto ele me fitava.
Eu não sabia o que fazer, eu não sabia o que falar. Eu somente chorei.
Quando percebi, talvez pelo choque de emoção, já estava sentada dentro do meu quarto, entre as paredes brancas e sobre o colchão macio. Mesmo estando em um local seguro e confortável, o desespero prendia minha garganta, ainda com a imagem daquele sujeito me encarando de modo aterrorizante.
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O tempo logo depois
Misteri / Thriller"Mantenha a sanidade. Apenas tente." Ela esteve frente à frente com o seu pior pesadelo. Olhou-o nos olhos até seu coração se dilacerar. E, no fim, sua mente já tão perturbada perdeu a única coisa que ela achava que seria intocável: ela chegou...