XXVI - O Mau Cheiro da Sorte

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No calabouço, os gritos de morte foram ouvidos. Os prisioneiros sabiam que era questão de tempo até que chegasse a hora das suas execuções, ainda mais para o vidente que estava tão debilitado.

A bruxa Janda preocupada então comentou:

— E eu pensava que Klaus queria a nossa morte. Ele queria mesmo era ser o único bruxo vivo deste mundo e meus venenos nunca falham.

— Então nós, por sermos também seres mágicos, também corremos perigo, a não ser que consigamos escapar daqui — concluiu Juan.

Dias se passaram e era como se Klaus houvesse se esquecido deles. Juan, em um lampejo, teve uma ideia. Ele disse a Janda:

— Preciso que nos ajude a escapar daqui.

— Mas como? É impossível... Ainda mais agora que estamos acorrentados e o Doppelgänger de Klaus vigia todo o castelo.

— Ouça bem o meu plano. Vai dar certo.

Ela prestou atenção a tudo o que Juan disse e concordou que a ideia era boa. No dia seguinte, preparou uma poção mágica. Estendeu-a na direção de Juan que fez um encantamento, transformando a poção em algo viscoso e escuro. Juan, então, com um gesto das mãos, fez com que o elixir fosse parar na mão de cada um, que ingeriram em um gole.

Janda também preparou um bálsamo com odor terrivelmente fétido e jogou em um canto da masmorra, estilhaçando o vidro e empesteando o lugar. Aspergiu algumas gotas sobre eles próprios. Em questão de poucos minutos, os três prisioneiros ficaram com os corpos repletos de pústulas da peste negra e pararam de respirar.

Klaus desceu à masmorra, atraído pelo cheiro que se espalhava pelo castelo. Junto a ele, o fantasma replicante, que acabou se deparando com os corpos cheirando mal, sem vida, atacados pela doença. Klaus, ao se defrontar com aquilo, ordenou imediatamente que o Doppelgänger os levasse para o cemitério de Florença. Com os dedos cobrindo o seu nariz disse:

— A peste acabou com a vida destes moribundos. Como fedem! Você por ser um espírito não corre risco de pegar essa doença maldita. Eu agora sou imortal, mas não desejo em hipótese alguma ser contagiado. Quero que os leve daqui o mais rápido possível e queime seus pertences. Que pena! Ainda tinha planos para o mago Juan. Quanto a Janda e Peter, ia deixá-los apodrecer nesta masmorra.

Assim foi feito e quando eles foram levados ao necrotério, os coveiros os colocaram com outros corpos que sucumbiram pela doença para que todos fossem queimados juntos. A grande fogueira consumiria todos os mortos no próximo dia.

À noite, quando restavam ali só os corpos vazios dos mortos, os três acordaram.

— Janda, você está acordada? — Perguntou Juan.

— Sim, estou bem. Se é que podemos nos considerar sãos no meio de tantos corpos fedidos com a peste. Mas, não se preocupem! Coloquei uma magia na poção que bebemos que não deixará que fiquemos doentes mesmo em contato com a doença.

— Espero que funcione — retrucou Juan apreensivo.

— Estou fraco, mas estou vivo. — Disse Peter com a voz trêmula.

— Vamos sair daqui, imediatamente — Juan esbravejou.

Eles se levantaram, sentindo aquele cheiro horrível que os corpos exalavam ao se decomporem, junto ao próprio aroma fétido da poção que Janda havia jogado em seus corpos. Andaram por um corredor no meio de uma espécie de necrotério e abriram a porta ganhando a liberdade. O único guarda noturno estava dormindo e não os viu sair.

— Enfim, livres! — Comemorou Janda.

— Fedidos, mas com liberdade — sorriu Juan abanando o nariz com a mão.

— A partir daqui, vamos até a casa de uma sobrinha minha que mora na cidade. Ela nos dará comida, água, roupas e o banho que precisamos — disse Peter.

Eles foram para a casa da sobrinha do vidente, que se chamava Francesca. Ela e o marido os acolheram com hospitalidade e receberam os devidos cuidados. Depois dormiram limpos, com boas roupas e alimentados. Peter resolveu que passaria uns dias com a sobrinha até se recuperar. Ele começou a comer como nunca fizera antes, pelo tanto de tempo que permanecera privado de se alimentar. Janda resolveu ir embora na manhã seguinte e Juan sabia que precisava procurar o garoto Phillip, pois ele já estava com a idade apropriada para aprender a magia. Pela manhã se despediram:

— Passamos muitos anos juntos naquela prisão e eu considero vocês como meus amigos. Caso precisem de mim já sabem onde me encontrar. Estarei nas montanhas da Boêmia, perto da Floresta Sombria.

— Também gostei de conhecer vocês, pena que sob circunstâncias tão adversas, mas o que importa é que estamos vivos. Se quiserem alguma poção ou ajuda estarei em Madri. Chegando lá basta procurar o armazém da família Cerinez. Poderemos tomar um chá. Até mais, amigos; sentirei saudades.

E por fim, o vidente Peter se despediu. Embora estivesse fraco ainda, começava a se recuperar com o bom tratamento na casa dos parentes.

— Consigo ver um bom futuro para você, Janda. Em breve você terá seu próprio comércio de ervas em Madri e prosperará. Cuide de sua saúde e não se esqueça de mudar sua identidade. Será mais fácil viver se nós nos mantivermos anônimos.

Ela sorriu com a previsão do amigo.

— Quanto a você, Juan, muitas coisas mudaram. Seu amigo lobo das montanhas já se foi do nosso mundo, sem deixar descendentes. Mas os filhos das aves que o acompanharam já o esperam. Há alguém que precisará muito de sua ajuda, vivendo em uma Corte distante. Você será como um pai para ele e isso fará a você um grande bem. Mas tempos difíceis se aproximam e, em breve, você deverá tomar uma decisão muito importante, da qual dependerá a sua vida.

— Obrigado, amigo Peter. Se alimente bem e cuide-se. — Juan se despediu, dando um abraço em seus amigos, a cabeça cheia de pensamentos — Quanto a se manter anônimo, tenho alguns truques para que a minha existência passe desapercebida.

Finalmente, a jornada estava começando a cumprir o seu destino.

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O Homem FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora