Capítulo 1 - Clara

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Era sexta-feira E eu estava ansiosa, há cinco anos eu não saia com minhas amigas a uma balada, na verdade não é bem uma balada, é a inauguração de um novo restaurante de um amigo de infância da Michele, minha melhor amiga.

Conheci Michele em uma feira internacional de livros ela é Agente Literária e foi ela quem nos apresentou uma autora americana que foi o primeiro romance que a nossa editora lançou. Identificamos-nos na primeira reunião e desde então nunca mais nos separamos, ela foi meu alicerce quando fiquei viúva. Ela é linda, morena, alta, fala alto, é divertida e muito sociável.

Tenho 36 anos e fiquei viúva, tenho dois filhos, uma menina de 10 anos e um pré-adolescente de 17 anos, além disso, precisei assumir a direção da empresa em que nós éramos sócios. São cinco anos que vivo desta forma, e agora as minhas amigas decidiram que eu preciso voltar à realidade, conhecer novas pessoas, novos lugares, conhecer os homens... Essa parte me assusta um pouco, conheci apenas um homem na minha vida e ele me satisfazia plenamente em todos os sentidos pessoais e sexuais, com ele eu não tinha vergonha do meu corpo, afinal sou cheia de curvas, quadril largo e seios fartos, ele me aceitava desse jeito, e eu não tinha vergonha de ser quem eu sou, mas tudo acabou.

Tudo aconteceu numa tarde de julho, estávamos preparando todo o material de lançamento para Bienal do Livro de SP, a planta do nosso estande ficou linda, e com títulos que estamos preparando para lançar que são de uma nova leva de autores infanto-juvenis, tudo indicava que seriam um sucesso.

Com toda a expectativa da Bienal, percebi que Julio, meu marido, estava distante. Não dormia direito, e até mesmo ficava sem se alimentar, mas o que eu mais estranhava era a falta de atenção a mim e as crianças, isso não era comum. Não era a nossa primeira Bienal, tinha alguma coisa errada e ele não queria que eu soubesse.

Por diversas vezes tentei perguntar, e ele sempre me dizia que estava com dor de cabeça, que não era nada que era para eu relaxar. Mas como não me preocupar?

Naquela tarde, tínhamos uma reunião com a Assessoria de Imprensa e com o Designer das capas, para finalizarmos e começarmos a campanha nas mídias. Percebi que durante a reunião ele ficou calado, fazendo uma pergunta ou outra, peguei varias vezes ele massageando as têmporas coloquei a mão na perna dele para mostrar que estava ali, mas ele não demonstrava nenhuma reação. Conduzi a reunião até o final e percebi que ele já não estava mais presente, apenas seu corpo estava ali.

Acompanhei as visitas até a recepção e pedi a minha secretaria que providenciasse um Advil para ele tomar. Quando voltei a sala de reuniões ele estava encostado na cadeira com os olhos fechados, pálido, a respiração ofegante, corri ao seu encontro e comecei a gritar para que alguém me ajudasse.

- Julio, fala comigo amor, o que você está sentindo? Estou preocupada – coloquei a mão em seu ombro, e ele apenas abriu os olhos e não disse nada.

- Amor, eu vou chamar um médico, não estou gostando do seu estado.

Neste momento ele abriu novamente os olhos, agora sem brilho, e com a voz tremula me fitou e disse:

- Linda, cuida de tudo, eu amo você infinitamente. Perdoa-me. – E foi neste momento que seus olhos se fecharam, para sempre.

E foi neste momento que me vi no fundo do poço, Ele teve um AVC, fulminante, sem chance, alí naquela cadeira ele se foi. Quando os paramédicos chegaram, eles ainda tentaram reanimá-lo, mas não tinha mais nada a fazer.

Pouco tempo depois eu descobri que ele já estava fazendo um tratamento para dor de cabeça, pois vinha tendo crises de enxaqueca, mas nunca me contou ou permitiu que a secretaria me contasse.

O que eu faria agora, ele era o meu centro, meu universo, pai dedicado, marido exemplar meu melhor amigo e um ótimo empresário, o que seria de nós?

Cinco anos se passaram a nossa editora prosperou muito após aquela Bienal da qual eu precisei reinventar a minha vida sem Julio. Hoje nossos livros sempre estão na lista dos mais vendidos. Nossos filhos crescendo e precisando cada vez menos de mim, então só me resta seguir em frente.

Como as crianças vão passar o final de semana na casa da minha mãe, aproveitei o dia para me cuidar, fui ao salão de cabeleireiro, após muito conversa, fui convencida a mudar o corte de cabelo que estava muito cumprido e sem corte, minha única exigência foi que mantivesse um pouco do cumprimento, o restante podia mudar. Fiz as unhas e uma mega depilação, que há muito tempo eu não fazia, um dia só para mim, foi muito relaxante me senti uma mulher pronta para conhecer novos caminhos.

Cheguei em casa, fui até a sala, coloquei minha playlist para tocar, afinal hoje eu estou sozinha e posso ouvir as musicas que gosto.

Tomei um banho demorado, passei creme pelo corpo, e fiquei analisando meu lingerie e o vestido preto que eu havia comprado para aquela ocasião. Ele tem um corpete em renda no colo dos seios um tecido transparente, desce da cintura para baixo uma saia godê que vai até a altura do joelho, lindo, simples e elegante. A Sandália salto 15 de tiras finas e delicadas na cor prata.

Tudo estava perfeito para aquela noite, acredito que após cinco anos de luto o grande dia havia chegado, estava pronta para sair e conhecer novas pessoas e aproveitar um pouco mais a vida.

Quando me vesti e olhei no espelho, vi uma mulher diferente, mais bonita, mais madura, com alguns traços de uma mulher que já foi muito feliz e que amou muito o mesmo homem. Chegou o momento que eu tanto tinha medo, o de sair e ver o mundo novamente, só que agora com outros olhos.

Quando eu estava para sair de casa, passei pelo corredor que leva em direção a porta da sala, lá ficam várias fotos penduradas, fotos antigas, recentes de bons momentos, parei diante de uma foto minha e de Julio, uma em que ainda éramos recém-casados e cheios de planos, quanta saudades... Beijei a foto e sai.

É hora de encontrar as minhas amigas e ver como eu me saio neste jantar.

Sabor do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora