4.Pra qualquer lugar longe dali...

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*Kate*

Mesmo sabendo que aquilo subia rápido demais, olhei para Gabriel que olhava fixamente aquilo que subia pelo tronco, preparado para tudo, segurando sua faquinha pela lâmina e não pelo cabo, mirando com apenas um olho, fechando o outro.

Aquele ser chega em uma parte da árvore onde a copa permitia a entrada do sol, iluminando seu rosto e corpo, me permitindo ver e analisar aquilo. Era um corpo humano mas com os olhos completamente brancos , da cor de névoa, com um olhar raivoso mas ao mesmo tempo sem vida, sua pele estava intacta como uma pessoa normal, nos fazendo perceber que aquilo era uma mulher, seu cabelo arrancado pela raiz recentemente começava a anunciar a chegada de hematomas roxos no couro cabeludo, mas ainda deu pra perceber seus poucos fios loiros arrebentados, suas mãos revelavam cortes recentes, alguns fundos mas outros não, "como aquela menina que ia pegar o arco no meu lugar."  Pensei, por um instante, que poderia ser aquela mesma menina, "mas o que teria acontecido a ela?"  Penso enquanto aquilo se aproxima bufando e cuspindo no caule da árvore enquanto suas unhas curtas agarravam a mesma para dar mais impulso e chegar até nós.

Gabriel lança a faca que acerta em cheio o seu olho esquerdo, soltando as mãos, por um curto tempo, e se desequilibrando um pouco, aquilo que uma vez era uma menina agarra a faca e a puxa um pouco esitante, e aos gritos frenéticos e agudos ela continua a subir, mas agora com sangue escorrendo pelo seu olho atrapalhando seu caminho, fico com medo de errar e acabar com nossas chances de vida,mas tenho que tentar....solto a flecha que vai direto em seu peito atravessando a "menina" fazendo seus olhos de névoa se abrirem e olharem para a flecha em si enquanto caía da árvore.

-Áh! Já ia me esquecendo, tem algumas pessoas com...com injeções "especiais" por aí, só para eu ter certeza de que serão apenas QUATRO a sobreviver....bom beijinhos e...Até amanhã....ou não. - aquela mulher interrompe de novo. "Agora faz sentido! Mas nem tanto, provavelmente ela tinha sido pega e injetaram algo nela" pensei ao fim daquele aviso.

Gabriel me olhava com pavor nos olhos, naqueles olhos cinzas exageradamente lindos e excepcionalmente fofos, mas que agora estava com medo. Retribuo o olhar.

"lugar e situação estranha para ficar encarando o "Crush" não é mesmo?"

A "kate rude" do meu subconsciente aparece me lembrando da realidade, queria estar na escola de novo, meus pais provavelmente nem ligaram que eu sumi, afinal estão num cruzeiro sei lá onde com uns amigos que nem faço idéia de quem sejam, "como será que Lia estava?" Ela tinha que estar bem, mesmo que ela tenha ficado quase três dias emburrada comigo sei lá por que, ela ainda era minha melhor amiga desde que cheguei aqui, e ver ela sendo machucada daquele jeito me matava, ela provavelmente quebrou um nariz ou costela com aqueles socos e tapas.

¤¤¤

Anoitecia quando olho pro Gabriel, que olhava as estrelas admirando elas, com um sorriso fofo e carinhoso nos lábios.

-Você acha que vamos morrer? -pergunto sem saber ao certo aonde quero chegar, talvez só fazer o tempo passar mais rápido.

-Provavelmente. - ele diz sem tirar os olhos do céu, mas tranformando o sorriso lindo em uma linha reta no seu rosto moreno.

-Mas...por que? Ainda tenho esperanças de que conseguiremos. -falo me deitando em cima de um tronco grande e grosso, o mesmo que ele estava deitado.

-Cara...a única arma que eu tenho pode estar em qualquer lugar lá em baixo, e você só tinha uma flecha, que por sinal já foi usada. -ele fala agora olhando para mim.

-Verdade...mas por que exatamente você pegou aquilo minúsculo? -falei me referenciando a faca que ele tinha pego.

-por que sou ótimo em lançar facas e aquela era perfeita para isso!  - ele falou agora sorrindo um pouco de novo.

-Aaah entendi -disse rindo enquanto percebo o ar de orgulho que ele sentia pelo seu "feito". Ele riu de volta chegando mais perto de mim.

-Acho você muito legal, não esperava isso de você. Achava que você era mais uma garota metida e arrogante que só falava comigo por pena. -"Nossa quem pensa isso de mim ta muito enganado!" Pensei me lembrando das quase dez pessoas que já me falaram isso.

-E eu achava que você era um garoto nariz em pé e grosso que achava que sabia mais do que todos. -falei enquanto ria alto, ele retribuiu olhando nos meus olhos castanhos.

Agora só a luz da lua e das estrelas iluminava, um silêncio ao som de grilos e cigarras me incomodavam um pouco, como se isso fosse sinônimo de perigo, me encolho perto de Gabriel sentindo um pouco de frio e sono, o qual levanta o braço e bota atrás de mim me fazendo chegar mais perto o abraçando.

Durmo com a cabeça em seu peito ouvindo seu coração calmo e sereno, acordo com o sol no rosto, Gabriel ainda dormia, com os lábios levemente curvados em um sorriso como se tivesse um sonho bom, tento levantar sem acordar ele e mexer seu braço que me envolvia, mas é em vão.

-Ei...aonde vai -ele diz sonolento ficando ainda mais fofo com aquela voz rouca de quem acabou de acordar.

-Vou descer ué! - disse como se fosse óbvio. -...áh Bom dia! -disse sorrindo pra quebrar um pouco a tensão que eu poderia ter criado.

-Vai fazer o que lá? Podem te ver e ir atrás de você! E com apenas uma flecha não tem muita vantagem! -ele diz preocupado quase como meu pai quando eu era pequena e insistia em ver filme de terror a noite, hoje ele nem liga mais, mesmo se eu participasse de um filme com exorcismo e possessões.

-Relaxa só vou ir pegar a flecha e voltar...vai ser rápido! - disse com um sorriso carismático no rosto percebendo que não o convenci muito. -Eu prometo! - digo com a mão no peito como um soldado do exército. Ele ri.

Eu desso a árvore com o arco preso em meu braço caso algo aconteça, vou devagar com um certo medo de cair. Chego lá em baixo e só o que vejo é a "menina" de ontem caída perto da árvore com a flecha em seu peito ensanguentado, puxo a flecha com medo se ela se levantar e ir até mim, mas nada acontece.

Escuto alguém falando aqui perto.

-É! Eles estão aqui perto! - escuto uma voz masculina e áspera, vou para trás da árvore levando a menina morta junto "se virem ela vão perceber o movimento e ficaram alerta!" Penso enquanto puxo aquele corpo franzino e pesado até a árvore.

-É o plano deu certo, acho que a menina os matou, mas mesmo assim to indo conferir. -alguém falava ao telefone um pouco longe dali,  mas pelo silêncio conseguia ouvir.

Subo a árvore correndo, em uma mão a flecha, no outro o arco.

-O que foi?....eles te viram? -Gabriel pergunta reparando minha cara de assustada.

-N-não, não me viram, mas estão vindo aqui! -digo ofegante sem conseguir falar muito bem. -Temos que sair daqui!

- Tá Tá! -ele fala enquanto se levanta carregando nossas bolsas beges se certificando que tudo estava ali, dessemos quase caindo com medo de chegarem e nos ver.

Chegamos ao chão e ninguém estava ali ainda, andamos com medo de fazer qualquer barulho...

-EI!.... - o homem do telefone  grita em nossa direção "droga ele nos viu!" -Encontrei eles vivos saindo da árvore em direção ao setor B F do lado Sul do ponto de partida! -ele falava no telefone enquanto corria em nossa direção, ofegante por ter que pular e desviar de troncos e galhos.

Corremos freneticamente um do lado do outro,  as vezes entrando um na frente do outro quando o caminho se estreitava, mas fugindo sem parar....para qualquer lugar longe dali!






















[...] Pra qualquer lugar longe dali...
E pra onde os pombinhos vão ein?

Até o próximo capítulo
Bombons....♡

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