A Brincadeira

8. Fortes pra que?

Abro os olhos com dificuldade por causa da água que insiste em cair.

"Meus pais.....morreram?"

Ao menos tenho tempo de pensar ate que a pessoa que me derrubou tivesse a chance de lançar um soco no meu queixo fazendo minha cabeça latejar e tombar levemente para trás.
Consigo finalmente abrir os olhos sem ser acertado novamente com um soco e vejo um punho se aproximando do meu rosto, meu braço automaticamente se joga na direção do punho fazendo minha mão segurar o punho que vinha até meu rosto. Pouco antes do indivíduo me acertar no rosto com a outra mão ergo os olhos para o rosto da pessoa e por um breve momento vejo quem está a minha frente.

Juan.

Ele me acerta novamente no queixo fazendo, dessa vez, minha cabeça inteira pulsar de dor, consigo juntar forças e permanecer com a cabeça no lugar para melhor visão.

Me levanto enquanto me esgueirava dele que, por sinal, ficou surpreso com minha atitude repentina, fecho o punho o jogo contra o nariz de Juan com toda a força que conseguia colocar no braço. Ele prevê meus atos e desvia do soco mas já voltando com um soco de baixo para cima com a intenção de atacar o estômago, me lanço para fora do caminho do seu soco.

"Por que estamos fazendo isso afinal?"

Me afasto dele com as mãos para cima dizendo que não farei nada, espero que ele faça o mesmo, mas ele não faz, ele segue adiante já preparando um soco seguido de joelhadas.

-Ô! Ô! Ô!....... -falo gritando enquanto ando para trás, mas ele continua. - .....Calma cara! O que está acontecendo? Por que dessa briga?

Seus olhos olham para mim mas não me vêem, seus ouvidos ouvem mas não escutam, sua boca abre mas não fala.

Seus olhos estão brancos e seu corpo está mais musculoso, só agora percebo que ele está mais forte do que....... do que na floresta.

Lembro do vídeo que passaram para nós, lembro de quando me raptaram enquanto estava indo para a festa da Manu, lembro de Kate e de como eu conheci Juan, lembro da gente entrando na sala branca, da névoa.

Isso não é real.

Ele avança em minha direção ignorando minhas palavras.

Será inútil lutar com um cara que com certeza não está normal....

Começo a correr, não sei para onde, apenas corro,vejo a vila onde moro e as pessoas não estão na rua provavelmente ainda dormem, ou isso não é minha vila ou minha casa, até por que algo dentro de mim me diz que não tinha ninguém em casa além de mim, e que aquela janela na área de serviço não existe na minha casa real, e que eu estou em alguma cidade cenográfica sei lá.

Percebo que Juan me segue junto mas com uma certa dificuldade na velocidade.

Depois de um tempo seus passos cessam e quase no mesmo instantes ouço uma voz gritando atrás de mim.

-BIEL! BIEL!..... - aquela voz.

Me viro e vejo Beatrice caída no chão.

Minha irmã.

-Eu tô cansada.....Me carrega.

Lembro de quando caminhava com ela a dois anos atrás, ela tinha 11 anos na época, ela estava cansada de caminhar comigo e estávamos voltando pra casa, passando em uma parte onde só tinha Mato e rodovia. Um carro preto para do nosso lado. O cara que sai do banco de trás agarra Bia pelos braços a qual se debatia e gritava por socorro mas ninguém estava na rua para a ouvir, bateram na minha cabeça me desacordando, três dias depois encontraram seu corpo no Rio perto da minha casa, não havia indícios de estupro ou tortura, não havia cortes, apenas um tiro na nuca, mas o vestido que ela usava estava banhado em sangue.