13° CAPITULO

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Música: Sleeping at Last - Already Gone 

Rafaela havia me ligado para avisar que teria uma festa em comemoração ao aniversário de sua avó, mas seria algo pequeno, em família no rancho da mesma, disse que queria que eu fosse, seria uma boa maneira de nós conversarmos, eu concordei com ela e confirmei minha presença. Um dia antes do dia da festa, conversei com uma de suas amigas e ela logo me disse algo que me deixou mal, porém eu não quis acreditar - "ela vai terminar com você é melhor não ir nessa festa, não se machuque mais"- apenas neguei e disse que era coisa da cabeça dela, alegando que não queria conversar mais.

Acordei apreensiva no tão esperado dia, o céu estava nublado, o dia totalmente escuro, respirei fundo e me arrumei para ir, shorts báscio e camiseta preta, como de costume e também como pedido de minha até então, namorada.

Chegando lá, observei que ela ainda não havia chegado, apenas sua avó estava lá arrumando as coisas que assim que me viu, me cumprimentou com um largo sorriso e logo entreguei as flores para ela que havia comprado mais cedo, uma lembrança simbólica. Subi as escadas para o segundo andar e observei a paisagem, por mais que o dia estivesse cinza, era de se apreciar, não reparei em quanto tempo permaneci mergulhada em minhas lembranças, quando senti uma mão em meu ombro, não precisei nem me virar para saber que era ela, seu cheiro logo preencheu toda a minha alma, e sem querer eu já traçava uma linha fina em sorriso, me virei lentamente arrumando meus óculos..

- Olá, bom dia – cumprimentei com um beijo casto no canto de sua boca

- Bom dia Laur – sorriu fraco

- Nós podemos conversar agora se você preferir, qualquer decisão que tomar, será o engate para ir embora – admiti sem fazer rodeios.

- Não quero conversar agora – falou sem demonstrar sentimentos – iremos comemorar o aniversário da minha avó e ela te adora tanto, não queremos que você vá embora agora. – confessou

Apenas acenei em concordância, eu não tinha muito o que impor quando nem sabia o rumo da conversa, ou sabia e não queria admitir ..

Horas se passaram e ela permaneceu por perto, havia um barril de chopp perto de nós que seu tio trouxera para a comemoração, e maldita foi a hora que eu aceitei começar a beber com ele, ela também bebera, porém, bem menos do que eu, eu passei o dia todo angustiada esperando por um sinal vindo dela, mas nada, era só olhares que não demonstravam nada, sorrisos fracos e distancia, conforme todo o sentimento de medo aumentava dentro de mim, mais eu bebia, mais eu tentava rir das piadas idiotas que contavam ao redor da mesa, mais eu tentava esquecer do que tudo estava acontecendo, um copo, dois, três, dez, vinte, e em algum momento eu parei de contar e também de me importar, eu só sabia beber e beber. Quando dei por mim já era madrugada, eu estava no portão da chácara, tentando em vão pensar ou organizar os pensamentos, quando senti sua presença e seu perfume ao meu lado, fechei os olhos por uns instantes apenas para apreciar aquele cheiro incrível, quando ela disse aquilo que eu mais temia ouvir

- Eu quero terminar nosso namoro – confessou, sem pausas, apenas cuspiu as palavras.

- O-oi? – gaguejei sem reação, eu não estava sóbria, eu estava longe de estar sã, mas as palavras foram como facas dentro de mim

- Isso mesmo Laura, eu quero terminar nosso namoro – cuspiu mais uma vez as palavras

- Porque? O que eu fiz? – perguntei, DROGA

- Nada, não é sua culpa, é minha e... – tentou falar, mas eu a cortei

- Cala a boca- falei alto, até mais do que imagino que tenha dito

- O que? – tentou falar

- Cala essa boca Rafaela, como você pôde? Porque não me falou no segundo que chegou aqui e me viu lá em cima? Porquê ? Queria me ver angustiar, desmoronar a cada hora que passou? Pra chegar no meu pior estado e me falar isso sem avisos?

- Não é isso, eu queria você comigo durante o dia, todos nós queríamos ... – ela continuou falando, mas depois disso é apenas borrões na minha mente, eu estava alterada, a adrenalina do momento me acertou em cheio, me lembro de andar sem direção pelas estradinhas em volta do rancho, manchas vermelhas de sangue por toda minha camiseta, que naquele momento era branca, porque eu havia trocado durante o dia por causa do calor instantâneo que fez, machucados em minha mão, e depois disso tudo é preto e vago na minha mente.

Acordei no outro dia com uma dor de cabeça terrível, como milhões de abelhas trabalhando em meus ouvidos misturados com buzinas de caminhões, eu sabia que era culpa da bebida, a primeira coisa que consigo ver é ela sentada me observando

- Eu acho que bebi demais, me desculpe ... – tentei falar

- É você bebeu demais, você fez tudo demais – falou

- Como assim? – perguntei confusa

- Voce caiu, se machucou, passou mal, brigamos feio, olha o seu estado Laur, olhe para você mesmo, você estragou a comemoração toda – confessou, foi quando senti a ardência em alguns pontos do meu corpo, observei minhas pernas sangrando um pouco, e alguns fleches acertaram minha mente, eu havia caído em algum momento da briga, tentei lembrar de onde veio as manchas de sangue da minha camiseta e passei tempo demais observando, até que ela disse

- Essas manchas foi porque você ficou nervosa demais e seu nariz começou a sangrar demais – falou cabisbaixa, fiquei a observando, foi quando ela fez o ato de se levantar, porém eu segurei seu braço, e comecei a dizer

- Por um momento quando abri meus olhos esta manhã, eu achei que eu tive um pesadelo horrível de que você tinha terminado comigo, mas não se passou nem um segundo e você já comprovou que tudo era real, não era só um pesadelo, e nesse exato momento eu estou me perguntando o porque. Porque ? eu sinto muito ter estragado a festa, mas você sabia que eu não estava bem e mesmo assim decidiu falar o que falou, decidiu acabar comigo em meu pior estado, apesar que eu acho que minha embriaguez não foi o pior estado- respirei fundo – agora, neste momento é o meu pior estado, e eu sinto como se tivesse levado um tiro Rafaela, tem noção? Bom, eu acho que não – ela tentou me interromper, mas logo eu continuei – você acabou com o que restava de mim desses últimos meses.

Seu silencio era perturbador, seus olhos me analisavam a alma e ela sabia que o que eu dizia era verdade, mas ela não voltaria atrás de sua decisão, estava claro quanto o céu naquela manhã

- Eu sinto muito Laur – ela disse

- Não, não sinta, se você não tem mais seus sentimentos por mim, pelo menos não sinta pena – meus olhos ardiam por causa das lágrimas insistentes, levantei para ir para o lado oposto que ela estava, quando percebi que seu irmão estava encolhido ao canto observando e escutando tudo, acredito que ela não tenha visto, foi quando ele abaixou a cabeça que eu não consegui suportar mais, chorei. Ela tentou me abraçar, mas eu só consegui me afastar, eu não queria aceitar este fato, por mais que isso não dependesse mais do que eu decidisse.

- Vou te deixar sozinha um pouco- avisou

- Não, não precisa – peguei em sua mão e depositei um beijo casto, logo olhando-a no fundo de seus olhos – só saiba que independente do motivo ou da pessoa que te fez mudar seus planos comigo, eu sinto muito, me desculpe, mas eu não vou ser capaz de te deixar ir, pelo menos não dentro de mim, eu vou embora agora, por favor não me procure por agora, não fale para ninguém deixar recados seus, eu só quero te manter na minha memória, eu amo você, até qualquer dia.- deixei um beijo em sua testa e fui arrumar minhas coisas para ir embora, desci as escadas e logo me desculpei pelo transtorno e avisei que iria embora, deixei para que ela avisasse sobre o término, eu não teria coragem, nem forças.

Olhei uma ultima vez para trás e a vi me observando, supliquei baixinho para que ela me pedisse para ficar, mas ela não disse, ela só me olhou por alguns segundos e voltou para o interior da casa, foi quando tudo desmoronou.

Quatro dias para te encontrar,quatro vidas para esquecer.Onde histórias criam vida. Descubra agora