As muitas Causas

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Antes de militarmos nossas Causas pessoais, precisamos todos, mesmo os que se consideram em Causas opostas, voltar-nos para a Causa da humanidade. Que é a de estar em uma condição que permita uma pessoa defender sua própria Causa, ser quem quer ser, propor o que quer propor. Um sistema de governo adequado, e dentro dele, termos habilidade de nos mexer conforme a própria consciência.
Esse sistema de governo só pode existir se todos, mesmo os que forem de Causas opostas, estiverem resolvidos a ter paciência uns com os outros. E estiverem dispostos a se submeter aos limites da lei e da influência moral de seu monarca. Os limites da lei podem ser alterados pelas Causas presentes, já a influência moral do monarca pode ser apenas influenciada.
Esses limites (de lei e de influência) precisam preservar a existência do ser humano e tudo que foi construído pelos nossos antepassados e por nós mesmos.
O monarca é Chefe de Estado, e deve ser limitado quanto ao exercício de seu poder moderador. Ainda, sua construção moral é fundamental para o exercício do cargo. Essa construção vem do passado, é influenciada pelo presente e tem o dever de influenciar o presente, porém, sem jamais ultrapassar seus poderes. Poderes esses definidos (e portanto, limitados) pelo próprio povo. Para exercer seu poder é necessário que o monarca permaneça (como qualquer pessoa) com seu arbítrio inviolável em sua esfera pessoal, para que faça sentido o limitar na esfera pública. Somente assim pode haver um poder unificador e dignificante. Se não, todos se separam para todos se julgarem dignos. É assim que é possível haver um poder neutro e ao mesmo tempo influente: livre moralmente no privado, torna-se capaz de discernimento, então limitado no exercício público.
Por fim, convidamos a todos a ter paciência uns com os outros meio a tantas Causas opostas, a ter paciência com os líderes (sejam republicanos, sejam monárquicos) quanto às suas posições morais na esfera pessoal. Mas a sermos vigilantes quanto ao seu exercício moral na esfera pública. Pois existe uma Causa à qual todos precisamos nos apegar se quisermos ser um povo com uma terra onde temos liberdade (de pensar, de possuir e de viver) e poderes para garantir essas liberdades. Essa Causa vai permitir que as outras Causas existam. É que somente dentro de uma condição adequada que as Causas podem fazer sentido de existir, porque terão voz e liberdade de pleito; e com os limites, as Causas não sobrepujarão a edificação da sociedade, nem as liberdades que a princípio propiciaram que tudo existisse.

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