Inglaterra, 1345.
Ouviu uma batida seca na grande porta de carvalho de seus aposentos. Levantou-se preguiçosamente, quase sem vontade, sentindo os músculos descansados repuxarem com o movimento recente e atendeu ao chamado. O servo de seu pai anunciava que era esperado no salão de baile.
- Vossa Majestade. – disse, após chegar e prestar a devida reverência.
- Isso é forma de se apresentar para sua festa de noivado? A família de sua noiva está a caminho e suas vestes estão inapropriadas e amassadas.
Henry sabia de suas responsabilidades como príncipe da Inglaterra. O futuro da Inglaterra pesava nas mãos do Príncipe Henry antes mesmo de seu nascimento, cada ato refletia na vida de todos os ingleses e devia ser bem pensado. Sabia como devia se portar, o que devia vestir, o que devia falar. Sabia que seu povo não esperava nada menos do que o melhor de seu príncipe, mas hoje, especialmente hoje, particularmente hoje, desejava poder fazer outra coisa. Desejava poder apenas montar seu cavalo e cavalgar pelos prados e colinas, sentir o vento do entardecer bater em seu rosto, sentir o sol queimando levemente sua pele. Mas esses eram luxos pertencentes apenas a nobres de níveis mais baixos e plebeus. Ele era Príncipe, ele era o futuro Rei, deveria aceitar as responsabilidades e agir como tal.
- Perdoe-me Senhor, me distrai com pensamentos aleatórios e não vi que a hora se aproximava.
- Pois vá se arrumar e retorne para que possamos recepcionar nossos convidados.
Príncipe Henry fez uma reverência, recuou alguns passos e, ao ver o rei dar-lhe as costas, voltou-se para a saída do salão e retirou-se.Ouvia seus passos ecoarem no revestimento de pedras do chão e paredes dos corredores pelos quais passava, mal notando os serviçais que arrumavam o salão para o grande baile.
Pontualidade. Precisava estar impecável e pontual. O anoitecer se aproximava lentamente e com ele, a chegada de sua noiva, prometida a ele desde o seu nascimento, a futura Rainha da Inglaterra.
O baile a pouco havia começado, mas o salão já estava lotado. Os nobres com suas vestes imponentes e seus abdomens avantajados seguravam taças de cristal, as damas com seus vestidos de seda pura, impregnando o ar com suas colônias vindas de Paris. Henry sentia também o cheiro doce do vinho, das ceras que derretiam sob as chamas trêmulas das milhares de velas que produziam sombras por todo o salão. Permanecia parado ao lado de seus pais recepcionando os convidados que chegavam. Ao fundo podiam ser ouvidos o tilintar de taças e talheres, e os burburinhos da mais alta sociedade inglesa. Porém, o príncipe prestava atenção em cada palavra dirigida a eles, reconhecia os convidados pelos seus nomes, nobreza e lembrava-se de suas famílias. Impecável. Memória impecável.
Era esse o quadro que ela viu ao chegar acompanhada de seus pais. O rei e a rainha, vestidos com as melhores peças bordadas à mão pelos mais renomados modistas, sorrindo para um dos nobres convidados. As joias refletindo as luzes do ambiente, enquanto encontravam-se parados ao final da grande escadaria de mármore que dava acesso ao salão. E o príncipe, tão bem-vestido quanto seus pais, o jovem e ruivo Henry, ria de algo que um convidado falara. Confirmou com a cabeça e levantou o rosto ainda com um sorriso. Seus olhares se encontraram.
Harry abriu os olhos subitamente. Sentiu os pulmões doerem ao puxar o ar com força, produzindo um estranho som como o de um engasgo misturado ao susto. Sua respiração acelerou-se mais enquanto sentia seu corpo aderindo ao lençol. Sentou-se, ainda puxando o ar com força, tentando organizar os pensamentos. Flashes do sonho cruzavam sua mente de forma rápida, lhe causando dores nas têmporas. Lembrava-se de tudo. Não claramente, mas lembrava do essencial.---
Caminhou lentamente até a janela desviando dos poucos móveis no caminho.Ao afastar as cortinas uma Londres iluminada surgiu, vibrando sob seu olhar desatento. Ao longe, quase como uma miniatura, o London Eye dava sua volta infinita. Respirou fundo mais uma vez, sua respiração finalmente voltando à normalidade.
- Que merda de sonho foi esse?
Encostou a testa no vidro frio enquanto fechava os olhos e se permitia lembrar do último momento de seu sonho. Um par de grandes olhos azuis.
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Efeito Morphail
RomanceO Efeito Morphail é o princípio descrito por Michael Moorcock como a viagem no tempo limitada, de modo que paradoxos não sejam possíveis. A Viagem no Tempo pode ser interessante, mas complexa quando acontece em momentos em que se torna difícil para...