"Qual o melhor tecido para um guardanapo?"
Aquela pergunta ainda martelava em sua cabeça enquanto Renata enrolava o cachecol de toque agradável em seu pescoço e saia da escola preparatória. Ouvia o som de seus passos ritmados enquanto descia a escadaria de pedra que dava acesso à entrada principal do imponente prédio onde ficava localizada sua escola. Sentiu o vento frio bater em seu rosto trazendo uma sensação boa ao contrastar com o calor de sua pele, gerado pelas bochechas rubras de nervosismo. A mesma brisa fazia flutuar levemente seus cabelos, fazendo alguns fios baterem em seu rosto. Apertou os olhos para protegê-los um pouco dos tímidos raios de sol que cobriam a rua. Colocou o gorro enquanto misturava-se com os transeuntes apressados que ziguezagueavam pelas ruas do centro de Londres. Andou até a estação de trem mais próxima, também apressada, desviando de forma automática dos mais desavisados que esperavam a escada rolante do metrô.
"Qual o melhor tecido para um guardanapo?"
Não era uma questão tão complicada, pensou enquanto passava seu passe e fazia girar as roletas da entrada da estação. Por que não conseguia se lembrar o que colocara? Maldito nervosismo. Batia os pés impaciente dois passos atrás da linha amarela de segurança da estação. Ouviu o trem chegar antes mesmo de vê-lo, o zunido alto e grave do apito avisando que as pessoas deviam preparar-se. Olhou desinteressada as janelas e os passageiros dos vagões do trem que passava velozmente a sua frente. Esperou pacientemente até que uma das portas do mesmo parasse a sua frente e se abrisse. E era uma resposta tão simples: O tecido para ser fazer um guardanapo era sempre um tecido 100% algodão, usando-se o linho apenas quando se queria transmitir a mensagem de classe, elegância e tradição. Será que tinha escrito isso em sua resposta? Questionou-se ao ver os passageiros desembarcarem. Entrou logo em seguida olhando para os lados procurando automaticamente um assento que pudesse utilizar.
Tudo bem que não era uma avaliação eliminatória de alguma entrevista de emprego, mas era sempre importante ser bem quista por seus instrutores. Nunca se sabe quando podemos precisar da recomendação de algum deles nas entrevistas de emprego.
Renata tinha 24 anos, longos e volumosos cabelos castanhos, os olhos, também da cor castanha, eram brilhantes e expressivos, tinha estatura mediana e era magra, era formada em MEM, Materials, Economics and Management pela Universidade de Oxford e estava decidida a aplicar seus conhecimentos de marketing, finanças, economia, contabilidade, e tudo o que aprendera no seu curso, na área de hotelaria. Atualmente estava fazendo esse curso de duas semanas na Bespoke Bureau, sobre butler, ou mordomo. No caso dela estava mais para governanta.
Mesmo que muito de seus amigos não entendessem e até mesmo fizessem piadas com a sua escolha, gostava do curso e acreditava que ele era essencial, pois a área estava em alta nos últimos tempos. Cada vez mais hotéis e cruzeiros cinco estrelas faziam provas de seleção para contratar pessoas que tivessem uma educação de um verdadeiro mordomo inglês para trabalhar em suas dependências e tratar os hóspedes como se eles fossem da mais alta classe, o que, levando em conta os valores pagos nesses pacotes, era a mais pura verdade. Isso sem contar com todos os benefícios! Os salários para funcionários experientes e dedicados, como ela pretendia ser, eram altos. E ela também não podia se esquecer das oportunidades de empregos em outros países, podendo assim viajar o mundo e, quem sabe, até morar fora.
Renata sentou-se entre duas senhoras miúdas, em um dos acentos disponíveis e encostou a cabeça na parede do trem, distraindo-se por um segundo ao pensar nas várias culturas e locais maravilhosos que poderia conhecer através de um emprego nesta área. Estava exausta, cada músculo de seu corpo doía como se pedisse um pouco de descanso e sua cabeça pulsava com uma dor de cabeça incômoda, fruto do estresse do dia. Respirava fundo tentando controlar as ondas de dor, queria apenas ir para seu pequeno apartamento em Bexley, deitar em sua cama e descansar antes de se preparar para os últimos 3 dias de curso intensivo. O movimento repetitivo do trem, juntamente com os zunidos do ar sendo cortado pela velocidade da corrida e do contato das rodas metalizadas com os trilhos, fez com que ela entrasse em uma espécie de transe. Não estava necessariamente dormindo, mas também não estava completamente desperta. Enxergava por trás de suas pálpebras as imagens de sua prova escrita. Analisava cada coisa que escrevera, cada linha, cada vírgula, cada ponto.
Repetiu mais uma vez a pergunta em sua mente e, surpreendentemente, lembrou-se da resposta dada.
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Efeito Morphail
RomanceO Efeito Morphail é o princípio descrito por Michael Moorcock como a viagem no tempo limitada, de modo que paradoxos não sejam possíveis. A Viagem no Tempo pode ser interessante, mas complexa quando acontece em momentos em que se torna difícil para...