Harry estava embasbacado. Aquele par de olhos castanhos, tão suaves, tão brilhantes. Nunca vira aquela mulher em sua vida, mas definitivamente aqueles olhos pediam para ser pintados, junto dos lábios cheios e a pele de porcelana. Sabia exatamente quais cores utilizar para chegar naquele tom de pele, afinal, era exatamente o mesmo tom de Lady Renée. Ouvia Arthur e a namorada ainda conversando com ele e Skippy, mas sinceramente, não conseguia se livrar da magia daqueles olhos e focar no assunto.
- Hum... Alteza? – Rachel chamou incerta. Não sabia o que o príncipe tanto olhava, mas temia muito que fosse para a pessoa congelada há alguns passos de distância, com cara de surpresa. Por sua cabeça, como um mantra, se repetia a frase "por favor que não seja a Renata."
Logo a nova musa de Harry foi tirada de sua visão e sumiu no mar de pessoas ao ser encaminhada para o outro lado do salão por um homem alto. Piscando repetidamente, ele se voltou para o grupo.
- Perdão. Vocês diziam...?
- Estávamos admirando você sem fala ao olhar para aquela dama. – Riu Skippy, bebendo do líquido âmbar em seu copo.
- A irmã de Rachel, para ser específico. – Arthur completou, dando de ombros e recebendo um leve apertar em sua mão, vindo da namorada. A olhou interrogativamente.
Harry engasgou levemente em sua bebida ao saber que elas duas eram parentes.
- Muito bonita, sua irmã. Vocês não parecem muito, apesar de serem ambas lindas.
Rachel ergueu a sobrancelha levemente, com um sorriso no rosto.
- Muito obrigada, Alteza, mas realmente, não somos muito parecidas. Entretanto, eu e meu irmão caçula somos mais parecidos, não sei se você reparou.
Arthur riu levemente ao ver a expressão confusa de Harry.
- O acompanhante da Renata... é o irmão caçula delas.
Os dois amigos sorriram astutamente ao ver a expressão no rosto de Harry mudar lentamente e disfarçadamente. "Adeus Cressida." foi o que passou na cabeça de Skippy enquanto sorvia mais um gole do drink.
Rachel apenas olhou para eles. Sabia o que provavelmente estava passando na cabeça de Harry, mas não sabia como fazer com que ele tirasse a irmã dela da cabeça. Apertou a mão de Arthur mais uma vez, recebendo um olhar interrogativo em troca. Gesticulou disfarçadamente com a cabeça até um canto do salão. O namorado entendeu na hora o que ela quis dizer e voltou-se para os amigos.
- Agora, se me desculpem, há algumas pessoas para quem quero apresentar a Rachel.
- Com licença. – disse Rachel com um sorriso e um pequeno curvar de cabeça na direção de Harry.
Se encaminharam lentamente até o canto isolado, cumprimentando as pessoas no caminho com sorrisos nos rostos. Quando chegaram no destino, voltaram-se para observar a festa enquanto conversavam disfarçadamente. A última coisa que Rachel queria era chamar atenção, e sabia que Arthur compartilhava da mesma opinião.
- Pronto. O que está te incomodando?
Ela deu um suspiro.
- Vocês são amigos, certo?
Arthur apenas concordou com a cabeça.
- Você sabe o que se passa na cabeça dele? – ela perguntou, preocupada.
Ele franziu o cenho.
- Babe, do que você está falando?
- Você acha que ele pode começar a ficar interessado nela?
- Kel, - ele disse carinhosamente, a olhando com um sorriso. – isso eu tenho certeza, só de olhar para como ele reagiu. Mas o que eu não entendo é: Por que você está preocupada? É por que ele é o Príncipe Harry? Por causa da fama dele?
Ela deu um suspiro profundo.
- Não tem nada haver com a fama dele. Mas o que pode acontecer com a minha irmã se ele for atrás dela.
Ele a olhou interrogativamente.
- Você tem que ser mais clara.
Ela apenas negou com a cabeça.
- É um assunto delicado demais para ser abordado em uma festa.
Renata se desvencilhou da mão do irmão assim que alcançaram o jardim. Matthew havia ativado o modo protetor assim que percebeu quem a olhava fixamente. Por Deus! Imagina o que aconteceria se sua família descobrisse para quem ela trabalhava.
- Rê, você quer ir para casa?
- Eu prometi para a mamãe, você sabe o que acontece se eu e você saímos da festa cedo.
- Mas ele tá aqui.
- Sim, eu notei. Mas isso não me afeta mais. Então não deveria te afetar.
- Céus Renata! Eu ouvia você acordar chorando todas as noites, tossindo, passando mal. Eu vi você indo a cada psicólogo dessa cidade para entender o que acontecia contigo! E agora você vê o objeto da sua obsessão e espera que eu acredite que está tudo tranquilo?
- SIM! – ela respondeu exasperada, se controlando para não atrair a atenção de ninguém do interior do salão para a discussão dela com o irmão. – Você disse bem, eu fui a cada psicólogo, a cada psiquiatra para tentar entender essa obsessão bizarra que eu possuía pelo Príncipe Harry na minha adolescência. A-D-O-L-E-S-C-Ê-N-C-I-A! Já passou. Eu já não tenho os sonhos estranhos, eu não imagino mais que nós nos casamos e governamos a Inglaterra em uma versão medieval da realidade. Tudo acabou quando... – ela segurou o soluço. A memória ainda era vívida e fresca em sua mente, e ela não queria relembrar o que esteve trancado em sua cabeça por tantos anos.
- Eu sei. – retrucou Matthew condescendente, a abraçando para que ela a acalmasse, e se culpando por trazer à tona um assunto que era tabu em sua família. – Eu só quero te proteger.
- Você é o caçula. Você quem deveria ser protegido.
- Por favor... Você é quem tem a mentalidade mais imatura de nós dois.
- Pelo menos concordamos que a Kel é a mais velha, definitivamente.
- Vamos voltar para a festa, então? – Matthew disse, a puxando levemente. Olhou curiosamente para o rosto da irmã enquanto entravam novamente no salão. – Me desculpa perguntar, mas o que você sentiu ao vê-lo pessoalmente pela primeira vez?
Renata deu uma risada.
- Como se estivesse vendo um ídolo? Não sei. Não pareceu real.
Ele bufou levemente, olhando enviesado para ela.
- "Não pareceu real"... eu tive que te arrastar de lá porque você parecia mesmerizada. Ficava encarando o pobre príncipe. Ele deve estar se sentindo constrangido.
- Adoro como você consegue sair do modo protetor para o modo zoeiro em dois segundos.
- Irmãos são para essas coisas. – Matt retrucou enquanto parava no meio do caminho e abraçava a irmã.
O momento foi encerrado quando alguém esbarrou levemente nas costas de Matthew.
- Nossa! – exclamou uma voz feminina, vagamente familiar. – Mil perdões, eu não vi...
A moça se calou ao olhar para a bela e alta espécime masculina que a encarava de volta. Então, para sua decepção, percebeu que o braço dele estava ao redor da cintura de uma moça igualmente bonita que...
- Srta. Shaw? – perguntou surpresa.
- Oh! Srta. Thomas! Boa noite!
- Boa noite. O que você está fazendo aqui? – Liz até pensou em perguntar se ela estava à trabalho, se o palácio havia emprestado funcionários, mas sabia que não era o caso, principalmente porque ela estava ali como convidada, se levasse em conta o vestido e as joias que ela usava. Franziu o cenho, confusa.
- Ah. É um baile. Fui convidada... – disse lentamente, sem saber o que falar.
- Sim, mas... – Liz sabia que estava sendo indelicada. Mas não conseguia entender como uma camareira da Família Real havia sido convidada para um baile beneficente. – Me perdoe, srta. Shaw, mas não é fácil ser convidada para um desses bailes. – ela que o diga. Esse era apenas o terceiro convite dela.
Renata coçou o pescoço sem graça. Olhou para o irmão, como quem pedia ajuda. Ele apenas sorriu maldosamente, esperando a irmã responder. Não sabia quem era a moça bonita que havia esbarrado nele, mas Rê com certeza a conhecia.
- Meio que... – Renata deu uma tossida sem graça. -Ah! Srta. Thomas, esse é meu irmão Matthew Shaw. Matt, essa é Liz Thomas. Ela é... responsável pelo teste do... meu local de trabalho.
- Muito prazer. – Matt cumprimentou com um sorriso. – Então você é a chefe da minha irmã?
- Não exatamente. – ela respondeu, olhando interrogativamente para Renata. Não apenas ela havia sido convidada, mas o irmão também? Ou ele era um plus one dela? – Nós trabalhamos em setores diferentes.
- Ah sim! – então ele se voltou para a irmã. – Você deveria leva-la para conhecer a mamãe. Ela ficará maravilhada em conhecer uma colega de trabalho sua.
A cada segundo Liz ficava mais confusa. A mãe dela? Quem afinal era Renata Shaw?
- Não ouse.
- Oh! Olha ela ali! – ele retrucou, visivelmente ignorando a irmã. – Se me dão licença, senhoritas, tenho uma senhora sedenta de novidades com quem devo conversar.
E então ele saiu. Indo em direção ao anfitrião da festa, que estava conversando com a namorada e um casal.
- Me desculpe pelo meu irmão... e pela minha família em geral. – Renata se desculpou o mais rápido que conseguiu. – Eles apenas gostam de pegar no meu pé porque eu não falei onde eu trabalho e...
- Quem é você? – ela foi cortada por Liz.
- Como?
- Quem é você? – Liz olhou mais atentamente para ela. – Seu vestido é de classe, suas joias são verdadeiras, sua educação, agora eu percebo, não foi aprendida no curso. Você cresceu nesse meio, não é? – ela questionou acusadoramente. – Então por que você é camareira da Família Real?
Renata deu um suspiro.
- Você tem acesso à minha ficha, não é?
- Sim. Obviamente.
- Lá tem o meu endereço. Do lado da minha casa tem um Coffee maravilhoso. Me visite amanhã, que eu te conto tudo o que você quiser saber.
Antes que Liz pudesse retrucar, mesmo sem saber o que ela iria responder, elas foram tragadas pelo furacão Rebecca Shaw, que chegou com todo o movimento de seu vestido de seda e um sorriso imenso no rosto.
- Desculpe atrapalhar a conversa, meninas. Mas eu tinha que vir conhecer pessoalmente a colega de trabalho da minha filha. Muito prazer, querida, Rebecca Shaw. Mãe da Renata.
- Muito prazer senhora Shaw. Sou Liz Thomas. Trabalho com a sua filha...
- Sim! Matthew me informou que vocês trabalham no mesmo hotel.
- Sim senhora. – confirmou Liz com um sorriso, lembrando que Renata não queria que a mãe soubesse onde ela trabalhava.
- Mamãe, não vamos atrapalhar a festa da senhorita Thomas. Tenho certeza de que ela tem outras pessoas com quem conversar.
- Ah sim, querida. Prazer em conhece-la! Se a Renata der algum trabalho para você, não tenha receio em me chamar para dar uma lição nela.
- Olha só, mamãe, acho que papai está te chamando. Tchau senhorita Thomas. – Renata se despediu com um sorriso, puxando a mão da mãe até onde o pai as aguardava. Tanto ele, quanto Matt e até mesmo Arthur, possuíam um sorriso no rosto.
- Matthew, eu te odeio.
- Também te amo irmãzinha.
- E nem mesmo para você me ajudar, papai? – ela disse indignada.
- Me desculpe, Renata, - interferiu Arthur. – mas até mesmo eu já aprendi que sua mãe é uma força incontrolável da natureza.
Todos riram com o comentário. Isso só demonstrava o quão confortável Arthur já estava com a família de Rachel. Ele olhou interrogativamente para Renata, estava curioso, já que sabia onde Liz trabalhava.
Observando a interação entre Liz e Renata, Harry se perguntava de onde elas se conheciam. Sabia que não conseguiria essa informação da boca de Liz. Ela havia ficado bem irritada quando ele começou a sair com Cressida e queria que ela continuasse se encontrando com ele secretamente. Agora ela estava o ignorando.
- Não adianta ir falar com ela. – Van, que havia chegado a pouco tempo, falou observando a moça que Harry olhava. – Você sabe que a Liz não vai falar contigo.
- Você não entende, Van. – retrucou Skippy com um sorriso maldoso. – Ela estava conversando com o novo alvo do nosso querido amigo.
- Você gostaria de me explicar melhor ou devemos brincar de adivinhar?
- Vocês podem, por favor, só ficarem quietos? – Harry falou, enquanto ouvia os amigos rindo, e observava Renata se afastando do grupo em que estava, indo em direção ao toalete.
Sem perceber, começou a ir na mesma direção.
- E lá vai ele ao ataque... - ouviu os amigos comentando entre as risadas, mas decidiu ignorá-los.
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Efeito Morphail
RomanceO Efeito Morphail é o princípio descrito por Michael Moorcock como a viagem no tempo limitada, de modo que paradoxos não sejam possíveis. A Viagem no Tempo pode ser interessante, mas complexa quando acontece em momentos em que se torna difícil para...