Primeiro amor

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Lembro de quando eu tinha sete anos. Os dias eram resumidos em cumprir obrigações, fazer o dever de casa, não implicar muito com meu irmão e pedir a Deus que meus pais não brigassem. Meu primeiro exemplo de amor perfeito tinha se espatifado antes mesmo de eu completar dez anos, quando eles se separaram. 

Naquela época eu amava brincar na rua, correr com meus amigos e voltar para casa no final da tarde cheia de machucados que com certeza virariam cicatrizes, mas que trariam com elas, as melhores lembranças da minha infância.

Foi com sete anos que eu me tive minha primeira paixão. Ele tinha lindas sardinhas nas bochechas que combinavam perfeitamente com seus olhos esverdeados em contraste com sua pele mais branca que a neve.

Eu o achava fofo. Mas no fundo, eu o admirava na verdade. Eu era a única menina da rua, praticamente. Era mais forte e mais rápida. E querendo ou não, os meninos aceitavam isso. Menos ele. Ele era o único que me derrotava em tudo. O único que me achava no esconde esconde, embora eu nunca conseguisse acha-lo; o único que me alcançava no polícia e ladrão, mesmo que eu nunca tenha conseguido pega-lo; ele era o único que ficava a minha frente em uma corrida. E eu sempre me esforçava ao máximo, não para supera-lo, e sim para estar ao seu nível, correr ao seu lado.

Quando eu percebi, já estava escrevendo seu nome nas bordas do meu caderno durante minha aula preferida.Ele não saía da cabeça. Para uma garota de sete anos, isso era confuso e estranho. Mas eu não podia ficar escondendo. Então ousei dizer pela primeira vez que gostava dele. E como uma doença, a notícia se espalhou rápido até chegar em seus ouvidos. 

Na hora H, quando as cartas foram colocadas sobre a mesa, e ele me perguntou sobre meus sentimentos, eu amarelei.

Neguei, fui covarde.

Nada aconteceu, e as coisas continuaram como eram. Éramos crianças, para nós não tinha problema em recuar. Não perderíamos nada. 

Pelo menos eu achei assim.

Alguns anos depois, quando eu já estava no ensino médio, acabei descobrindo que ele gostava de mim.

E então, fiquei imaginando o quanto de coragem ele tinha reunido para me perguntar sobre meus sentimentos. E o que teria sentido quando eu o rejeitei. Por todos aqueles anos eu tinha apenas me importado com o sentimentos guardados no meu peito, mas sequer me importei com os dele.

Hoje ele ainda continua branco como a neve, com seus lindos olhos esverdeados e aquelas sardinhas que eu tanto acho fofas. Mas ele não é meu. Outra garota ocupa seu coração. 

Não nos falamos, não trocamos nada além de cumprimentos normais nas raras vezes que eu ainda o vejo passeando com sua cadela na rua da minha avó, onde costumávamos brincar. 

E toda vez que eu o olho, sempre de costas para mim, eu percebo que nunca consegui alcança-lo. Nem sequer me aproximei, uma grande distância nos separa. 

Mas toda vez que nossos olhos se cruzam por uma fração de segundo, eu sinto como se ele guardasse meu segredo em silêncio, e sabe no fundo, que eu guardo o seu também.

De quando nos amávamos sem saber.

How I Didn't Meet Your FatherOnde histórias criam vida. Descubra agora