O Número dois

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"Just for one night I'd promise you anything. If I close my eyes, leave the world behind... And you're here again"

Emin

Estou novamente sem sono, escutando minha música preferida da minha banda preferida.

"Forever is a long time... But I wouldn't mind spending it by your side" 

A letra toca meu coração de uma forma que eu não consigo explicar. 

Eu também não sabia explicar o que senti quando me apaixonei pela segunda vez, com 11 anos.

Ele era um dos melhores amigos do meu irmão na época. Não era lindo como o primeiro, mas me deixava de bochechas vermelhas toda vez que passava com  aquele cabelo liso preto, preto!

Estávamos em 2007, um ano depois que meu irmão caçula nasceu. Era meu segundo ano naquele colégio burguês.  Digo isso porque a maioria dos alunos era filho de magnatas, políticos e importantes empresários. No meio de tudo aquilo estava eu, assim como tantos outros, a bolsista. Não que isso mudasse meu comportamento ou meu caráter. Mas muitos deles me viam de forma inferior, e isso era difícil de aceitar. Não porque eu quisesse ser como eles, não, pelo contrário. Desde pequena tentei ser o mais humilde possível, dar graças a Deus pelas coisas que tinha e que minha mãe se esforçava ao máximo para me dar. Então eu apenas queria ser tratada bem, independente do dinheiro que minha mãe tinha na conta bancária no final do mês.

Mas dentre tantos playboyzinhos e cópias maus feitas de Meninas Malvadas, haviam as poucas exceções. Para meu irmão, minha segunda paixão era uma delas. Eles não se desgrudavam.

Não sei ao certo os motivos que me fizeram ama-lo, realmente não sei como aconteceu, até hoje não sei. Assim como também não sei como essa notícia se espalhou pela escola inteira. E naquela época eu era a nerd gordinha, bolsista e estranha. Ter uma garota assim apaixonada por você era motivo de piada na sua rodinha de amigos durante o intervalo. E foi isso que eu fui, pelos dois anos que fui apaixonada por ele: Piada.

E como eu não queria ser colocada para baixo por garotos que nem sequer me venciam em uma corrida, eu fiquei cada vez mais rápida, mais forte, pelo menos para ganhar deles na queda de braço. Assim eles não podiam me zoar, não a garota que tinha ganhado deles.

Mas mesmo assim, eles encontravam um motivo de fazer isso.

Dois anos se passaram e o sentimento não mudava. Éramos da mesma sala, e eu passava quase todas as aulas olhando para aquele cabelo liso, sorrindo sozinha. 

E então eu troquei de colégio, fui para um no centro da cidade. Eu não podia mais vê-lo, isso me entristecia. Foi por isso que, quando nos encontramos em uma festa de 15 anos de uma amiga nossa eu tomei coragem para beijá-lo.

A festa corria bem, eu estava feliz. Era a primeira vez que usava um vestido depois de ter perdido tanto peso, alisado o cabelo e começado a usar maquiagem. Era a primeira vez que me via como garota e queria que os outros vissem também.

Então lá estava ele, sentado com alguns amigos, bebendo tanto que se eu tivesse contado para o pai dele na época, com certeza ele teria levado uma surra. Vestido com um terno aberto, já amassado de tanto dançar e pular sobre seus amigos, sem gravata e sapatos sociais. 

Demorou para eu falar com ele, estava com medo. Ele nunca tinha falado comigo por livre e espontânea vontade, e naquela noite não seria diferente. E não foi. Quase na hora de ir embora, eu fui me despedir, por extrema educação, claro.

Então eu o beijei. 

Sim, eu o beijei. 

O beijei na frente dos seus amigos e da minha melhor amiga, que pulava e gritava.

Mas então... O encanto se desfez.

Ele estava bêbado, tão bêbado que com certeza não lembraria disso no outro dia.

E não lembrou. 

Mesmo que seus amigos tenham dito, ele não saberia que tinha sido eu. E até hoje não sabe.

Ainda o acompanho pelas redes sociais, ele também namora há um tempo. E mesmo que não tenhamos nos encontrado desde aquele dia, eu guardo esse segredo sem pedir nada em troca.

Ele nunca vai saber, eu também não faço questão. Mesmo que hoje eu não seja aquela garota gordinha e estranha, mesmo assim... Ele não me amaria como eu o amei um dia.

How I Didn't Meet Your FatherOnde histórias criam vida. Descubra agora