Quinto

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"We're a thousand miles from comfort

We have traveled land and sea

But as long as you are with me

There's no place I'd rather be"

Clean Bandit

Acho que de todos, esse é o mais complicado de escrever. Mesmo que tenha durado menos de cinco meses, eu sinto as dores até hoje, três anos depois.

Uma vez me disseram que não importa o tempo que um relacionamento durou, e sim quanto tempo ele permanece em nós depois que ele termina. E nossa, ele ainda permanece depois de todo esse tempo. Isso, no fundo, mostra o quanto ele foi importante na minha vida.

Era meu primeiro ano de faculdade. Mas sentia feliz, realizada, pela primeira vez na vida, me via como uma garota. Lá eu não encontraria filhinhos de papai me botando para baixo, nem patricinhas dizendo que eu não me encaixava na "moda" delas, muito menos os olhos de minha mãe me vigiando sempre.

Era um novo lugar, uma nova eu, um novo começo. E eu queria fazer diferente. Tirar aquela fama de menina "moleque" que me acompanhava desde a escola e ser mais feminina. Eu não era mais a  "filha da professora"... Era apenas eu, a garota que procurou por todos os aprovados para conhece-los antes mesmo das aulas começarem, a garota que animava o grupo e que pretendia fazer diferente dessa vez. Não viveria sob a fama da minha mãe. Poderia ser conhecida por meu próprio nome.

Meus dias "depressivos" tinham ficado para trás em 2010, quando eu decidi que não me machucaria mais. E sim, estou falando fisicamente. Claro que eu não fazia para dar um fim naquilo, eu só tentava distorcer a dor. 

Sei o que está pensando: "Se machucar por causa de amor não correspondido?" 

Não, não era só isso. Algumas coisas que já falei nunca foram ditas, mas agora eu não tenho mais medo de dizê-las. 

Na época, como já disse, meus pais estavam se separando, meu irmão tinha acabado de nascer, eu tive que me tornar o homem da casa com 14 anos quando meu pai arranjou outra. Ainda tinha a pressão na escola, a falta de confiança, bullying... 

Hoje sei que meus motivos não eram suficientemente ruins para me machucar. Eu só não tinha o que fazer. Sozinha em casa, esperando todo mundo chegar... Eu não tinha muito o que pensar.

Eu tinha largado essa vida, me sentia mais confiante, mais alegre. Descobri no terceiro ano que tinha um belo sorriso e passei a não escondê-lo mais. Sempre sorrindo, sempre de bom humor, simpática e maluca. Eu era assim. Mesmo quando as coisas não estavam bem.

Mas enfim.

Em 2014 eu comecei a faculdade. Era um sonho, uma realização, um alívio depois de ficar o ano todo estudando para isso, caindo algumas vezes, levantando sempre. Era merecido sabe?

Aquele seria meu ano.

Foi no segundo dia de aula que eu o conheci. Sentado na mesma direção, do outro lado da sala. Um dos poucos meninos que havia aparecido. Eu não lembrava de ter encontrado algum garoto assim quando procurei pela lista de aprovados no Facebook

Dias depois notamos que eu havia mandado sim mensagem para ele!

Fui puxar papo, pedir o número para colocar no grupo do whatsapp. E não demorou muito para começarmos a conversar. Ele com aquele jeitinho tímido e fofo foi ocupando espaço na minha vida. Eu adorava o jeito despreocupado que ele via o mundo. Não era como se o mundo não tivesse problemas, mas como se tudo tivesse solução. Era fácil ficar ao seu lado. Muito fácil. 

Passávamos as manhãs conversando, morávamos perto e íamos juntos. Parecia romance de cinema, que tudo conspira para dar certo.

Eu gostava do seu sorriso. Ele, dos meus olhos, que de acordo com ele "Se fechavam toda vez que eu sorria, como personagens de Anime".

Não demorou muito para o resto da sala notar nossa aproximação e começar a torcer por um futuro namoro. Éramos "shippados", resumindo.

Nosso primeiro beijo foi dentro do ônibus, na volta para casa. Eu encostei minha cabeça em seu ombro e rolou. E foi perfeito.

Depois disso as coisas só melhoraram. Raramente brigávamos, éramos parceiros em tudo!

E então... Acabou.

Não vou entrar em detalhes. Aconteceram coisas que não envolvem somente a mim. E comentar isso seria falta de respeito, visto que a pessoa não está mais aqui para se defender.

Não, ele não morreu. Está vivo, feliz... E amando, de novo.

Mas até hoje eu não sei ao certo como acabou, por quê acabou.

O problema não foi ele ter terminado depois de um dia normal, e sim o fato de ter levado todo o meu mundo junto.

E não, não estou sendo dramática.

Quando ele saiu da minha vida, nossos amigos foram junto, meus motivos de ir para faculdade também, minha disposição. Vieram as ameaças, o medo, olhares e julgamentos. 

Não, não vou contar o motivo.

Mas imagina sofrer por gostar de alguém e ter que aguentar todas as consequências sozinha?

Tinha construído naquela faculdade meu novo refúgio, o lugar onde eu poderia ser uma nova pessoa. Mas ele foi levado de mim como um golpe de faca.

Nem ali eu encontrava descanso.

Ir para faculdade se tornou um sacrifício, ficar na mesma sala que ele, uma frustração.

E quando dei por mim, meus dias depressivos haviam voltado.

Eu tinha voltado a me sentir excluída, sozinha e rejeitada. Me sentindo culpada por tudo que aconteceu, carregar esse peso era ruim demais.

Tudo voltou.

As tardes sozinha em casa chorando, me machucando. Tendo que acordar de manhã com um sorriso enorme no rosto mas saber que por dentro você não tinha mais para onde correr, e nem poderia contar para minha mãe. Eu não queira deixa-la preocupada.

O estresse aumentava, os gritos, a pressão, as coisas ruins voltavam. 

Já não aguentava mais!

Estava pra cometer o mesmo erro que tinha ocasionado todo aquele meu sofrimento.

E foi numa quinta feira, dia 08 de setembro, que eu resolvi parar com aquilo.

Sentada sobre a cama, com um copo de remédios na mão, eu decidi que pararia com aquilo.

E vocês não imaginam o quanto eu estava certa daquilo.




How I Didn't Meet Your FatherOnde histórias criam vida. Descubra agora