O quarto e último do colégio

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"Yeah I know that I let you down

Is it too late to say I'm sorry now"

Justin Bieber

Esse com certeza foi um dos que mais me deixou com saudade. Pelo simples fato de que nossa última conversa ter sido uma briga.

Ele era aquele tipo de garoto com jeito de galã, irresistível, sempre metido em encrenca mas com o abraço mais gostoso do mundo. Com a pele morena, parece até que irradiava calor. Desconcentrava até as mais certinhas e centradas.

E aquela mordidinha de canto? Me fazia sorrir envergonhada toda vez que via.

Nós nos beijamos apenas uma vez, no caminho de volta pra casa. E todas as outras chances que tivemos, eu desperdicei por medo.

Pra falar a verdade, a culpa de não termos namorado, foi minha. Totalmente minha.

Eu tinha medo de me envolver, não por ele ser um ano mais novo que eu, e sim porque eu ainda não me sentia madura pra isso.

E outra, minha mãe rígida como era, não deixaria.

A questão é que, quando eu me formei em 2013, a gente se afastou muito. Eu entrei na faculdade ele foi pro Terceirão.

Mas foi em 2010 que começamos a nos falar. Foi de uma amizade bonita que isso nasceu. A gente se implicava, provocava e bagunçava um com o outro. Ele era meu parceiro de palhaçadas durante o intervalo e era nos seus braços que eu encontrava conforto quando meu dia era ruim. Mas ele gostava de uma amiga minha, que por coincidência gostava do meu irmão.

Parando para pensar, não tem nenhuma dessas paixões que não esteja de alguma forma ligada ao meu irmão. Isso é no minimo curioso... E bizarro.

No entanto, a amizade entre os dois, minha amiga e ele, foi aumentando com os dias, e do nada aconteceu. Eu e ela estávamos no banheiro quando soube que eles iriam namorar. Na hora foi um choque, afinal... Eu tinha esperado o fim de semana todo para me declarar, e justo na segunda, fui pega por esse banho de água fria.

Isso que dá esperar muito, achando que ele vai estar ali para sempre.

Minha reação foi abraça-la. Não porque eu estava feliz, mas para ela não ver o quanto estava triste. Durante todo o tempo que eles namoraram, eu fui a amiga de conselhos, que os unia quando brigavam e que sabia de tudo. Doía ver ele chateado e não poder consola-lo do jeito que eu queria, e doía mais ainda assumir que eles faziam um casal bonito. Por vezes eu perdia a paciência com ciúme e nos brigávamos, mas sempre nos reencontrávamos. Numa dessas vezes eu escrevi esse texto:

Reencontro Silencioso

Ontem ele me abraçou. Assim, sem mais nem menos. Sem sorrisos, sem "ois"... Ele simplesmente me abraçou. Já estávamos quase um mês sem nos falarmos, e eu achava que ele não queria mesmo falar comigo... Por mais que eu negasse, no fundo eu sentia muito a sua falta.

Por algum motivo, ontem eu passei do seu lado. Eu já estava habituada a manter distância, não cruzar seu caminho... Mas ontem eu baixei a guarda, me distraí.

Quando ele passou, não olhou para mim, não sorriu, não disse nada.

No entanto, quando eu já estava dois passos longe, senti seu toque. Ele pegou meu braço e puxou-em contra seu corpo.

Não houveram palavras de reencontro, muito menos de saudade, só havia o silêncio. Mas aquele silêncio disse mais que qualquer palavra. ele me abraçou forte e apertado, como se falasse numa linguagem silenciosa: "Senti sua falta".

Eu quis dizer o quanto tinha sentido sua falta, o quanto eu o queria perto de mim. Mas as palavras não saíram da minha boca.

Ficamos apenas em silêncio.

Corpos colados, respirações compassadas, corações disparados.

Depois disso, voltamos a nos falar e brigamos novamente quantas vezes é impossível contar.

Mas, algo nele me deixava irada. Sempre que os dois brigavam, eu virava substitua. De conversas, de provocações, era marionete dos ciúmes que ele fazia nela. Para ele, era apenas uma amiga o ajudando, mas para mim era ter meu coração usado toda vez.

Em uma das vezes eu quase me declarei, quis sua presença ainda mais. E ele explodiu, disse para me afastar, que era ela que ele amava. Depois disso ele descobriu por um dos seus amigos sobre meus sentimentos.

No fundo fiquei feliz por você ter se sentido culpado por ter me feito chorar no banheiro o intervalo inteiro, fiquei contente por saber que se sentia culpado.

Droga... Quem quero enganar?

Eu nunca ficaria feliz por ver alguém sofrendo por minha causa. Eu só estava com raiva de ser sua segunda opção.

Então fomos nos afastamos tanto até ao ponto de não nos falarmos mais.

Hoje eu não sei como ele está, perdi o contato quando começou a faculdade, em 2015.

Às vezes me pego lembrando do passado e ele me vem à cabeça, daquele sorriso de pegador, daquele estilo bad boy... E daquele abraço que até hoje não encontrei ninguém que me abraçasse daquele jeito.

Espero um dia esbarrar com ele por aí, ver aquele sorriso de novo, e quem saber, poder abraça-lo mais uma vez.


How I Didn't Meet Your FatherOnde histórias criam vida. Descubra agora