Parte VII- Tara

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À medida que as semanas passavam, a amenidade do outono já começara a despedir-se dando espaço a um inverno severo que rodeava a cidade de uma neve insípida e branca. Era tudo branco demais, que o solo acastanhado ficava imerso no níveo do clima. Observar o cenário era maravilhoso, com aquela nítida chuva que caìa lentamente na presença de cedros envolvidos no alvo ambiente, que somente os edifícios mais altos conseguiam transparecer a altivez  do contraste.No entanto, os pensamentos de Amandla foram interrompidos pela sonoridade das batidas na porta de madeira rudimentar pálida. A moça retirara-se imediatamente do parapeito da janela, indo em direcção á porta, de modo a que pudesse abri-la para Tara. Nos últimos tempos a menina tinha tornado-se numa companhia agradável— arriscaria dizer a mesma  era sua única amiga naquele lugar. As duas meninas passavam muito tempo conversando, inclusive Amandla já começara a habituar-se á aquele feitio nada corriqueiro de Tara. Feitio esse, que contrastava com a sua notável perspicácia observada pela mesma, sempre que ambas passavam as tardes realizando actividades escolares em conjunto. Amandla só lamentara que a moça levasse uma vida conturbada, alimentada pelo convívio com uma mãe alcoólatra, e emocionalmente instável que mal conseguira tomar conta de si muito menos de seus filhos. Tanto que, Tara já a tivera contado que por diversas vezes  faltara as aulas para dar assistência aos irmãos mais novos. Todavia, o entusiasmo de Tara era perene, aquela alegria contagiante jamais se apagara do semblante da moça em seu quotidiano, mesmo a mercê de tantas adversidades.

''Finalmente acabamos esse trabalho'', comemorou Tara. Afastando os cadernos para outra extremidade da mesinha da sala-de-estar.

Amandla assentiu com um suspiro. Esticando-se preguiçosamente no sofá gasto de napa acastanhado.

''Só espero que tenhamos boa nota, Tara'' , disse Amandla esperançosamente.

Tara deu de ombros.

'' Querida! Depois de tanto tempo perdido neste trabalho. Obviamente vamos ter boa nota, '', constatou optimista.

Amandla sorriu meigamente diante do notável optimismo da mesma.

''Como está a tua mãe?'' , perguntou Amandla de modo preocupado.

Tara soltou um suspiro frustrado.

''Está tudo na mesma. Dessa vez ela desapareceu de casa e eu não sei quando ela volta ou... se volta no mesmo estado de sempre'' , disse Tara casualmente. Estava claro que tentara não se importar, mas aqueles olhos pesarosos denunciavam sua angústia.

''Se precisares de alguma coisa. Qualquer coisa. Eu estou aqui para apoiar-te'', solidarizou-se Amandla .

Tara abriu um sorriso fraco.

''Obrigada Amandla! Mas está tudo bem'', reforçou a menina.

Amandla já tivera se apercebido, o quão orgulhosa era moça com tez de cinamomo. Tanto que, jamais se atrevera a pedir ajuda, mesmo que estivesse claro que Tara precisara de algum amparo. Talvez por ser a irmã mais velha, sentira-se responsável desde cedo por tudo— envergando sempre aquela firme postura de independência. Nem mesmo em circunstâncias   básicas como a falta de algum utensílio, ou alimento em sua casa, Tara solicitara ajuda. E Amandla sabia muito bem que sempre que a  senhora Tricia chegava à  casa èbria quebrava literalmente tudo, deixando todos em sobressaltos. Assim sendo, mesmo com a resistência de Tara. Amandla não hesitara em preparar uma merenda alimentar para que a menina pudesse levar para casa e jantar com a pequena Sharon e o menino Spencer.

''Eu estou preocupada com o teste de álgebra, Tara'', aventou Amandla agoniada. ''Até hoje, não percebi quase nada sobre aquelas matrizes'' , assumiu a moça passando a mão em seus cachos enodados.

Tara posicionara o dedo indicador nos lábios como se rememorasse alguma coisa.

'' Sabes quem é bom com os números, Amandla?'', reflectira Tara com um sorriso.''... O Curtis! Todo mundo aqui no bairro sabe que ele é um génio'' , recordou-se num tom agitado.

Amandla engolira em seco. Lembrando da conversa que tivera tido com o rapaz.

''Então fala com ele. Pergunta-lhe como pode ajudar-nos'', incitou Amandla sucintamente.

Tara abriu um sorriso matreiro. '' Saiba que entre nós duas, Amandla. Ele estaria muito mais apto a dar explicação a ti'' 

Amandla revirou os olhos.

'' Para com isso Tara. Estou a falar a sério '', pediu a moça.

Tara riu.

''Fala com ele depois das aulas, Amandla.'', aconselhou-a num tom jocoso. '' Ele costuma estar sempre no Centro a dar aulas'', sugeriu Tara. ''Infelizmente, eu não poderei ir contigo. Sabes que estou sem a minha mãe e tenho de cuidar dos meus irmãos'' , prosseguiu Tara.

Amandla condescendeu.

'' Ganhaste! Mas só porque tens um motivo plausível'' , pontuou Amandla.

Tara posicionara-se em frente à porta.

'' Depois não esquece de contar-me como foi'', disse Tara brincalhona.

Amandla abrira à porta para a menina, de forma a desvencilhar-se daquelas provocações.

'' Adeus Tara!! '', despediu-se Amandla na soleira da porta.

'' Adeus! ''


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Forever Amandla! #wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora