Capítulo 2 - Chris Ducker

91 11 7
                                    

Eu estava ali, há quase seis horas em pé, encarando as lápides de meus familiares. Uma vez ou outra, eu resmungava palavras. O vestido preto que eu havia escolhido para está ocasião era um pouco curto demais. Conseguia ouvir as reclamações de Dom Ducker, de longe. Ele com certeza estava reprovando minha roupa.

Os familiares mais próximos estavam sentados no parque em frente ao lago, me esperando. Eles sabiam o como era difícil para mim. Ninguém teria coragem de me chamar para irmos embora, pelo contrário, esperariam a eternidade se fosse preciso.

Senti uma mãozinha pequena segurar a minha mão. Sabia quem era, e sorri sentindo uma pontinha de esperança.

— Tia Vio... – falou, tristonho, Christopher Ducker, o bisneto mais novo de Dom. — O vovô vai encontrar a vovó lá no céu?

Eu me abaixei para ficarmos no mesmo tamanho, senti meus olhos brilharem de lágrimas.

— Sim, Chris... o vovô foi lá pra encontrar a vovó. Ele pediu para não ficar chateado com ele, por não poder se despedir. – falei na minha voz, mais delicada.

Chris parecia pensar em tudo que eu havia dito. Ele tem em torno de seis anos e meio como ele gosta de dizer, mas é bem mais esperto que a maioria das crianças. Lembro que a primeira palavra dele foi meu nome.

— O vovô me disse que quando ele fosse encontrar a vovô novamente, eu deveria segurar sua mão com força, porque você se sentiria muito triste tia. – ele apertou sua mãozinha contra a minha, fazendo meu queixo tremer.

Eu estava prestes a chorar novamente na frente de Chris, que grande adulta estava sendo.

— Você pode chorar tia... Eu vou estar aqui pra te abraçar. – ele envolveu seus bracinhos curtos em torno de meu pescoço, e me senti uma completa desolação, meu peito subia e descia, enquanto as mãos dele afagavam meu cabelo com todo carinho.

— O vovô disse algo a mais a você, Chris? – perguntei, após soar meu nariz no lenço que ele me ofereceu.

— Ele disse que terá momentos que precisarei ser o homem da família. Que terei que cuidar em todos os momentos da tia. Que não posso deixar a tia chorar sozinha. – ele enumerava com os dedos. — Acho que estou esquecendo algo...

— E que você se tornará para mim: um sobrinho, um irmão, um papai, e algum momento meu vovô. – eu enumerei, ajudando. Ele levantou o indicador para cima, confirmando.

— Isso! Isso! Foi isso mesmo! Mas eu acho que não posso ser seu pai agora tia... Eu só tenho seis anos e seis meses. Teremos que esperar... – ele começou a contar nos dedos, os anos, e isso me fez sorrir — Um... dois... três... quatro... Me perdi. – ele deu de ombros, envergonhado.

Afaguei seus cabelos com a mão, e ele sorri tímido. Mostrando as covinhas herdadas da família.

— Acho que podemos ir embora... E passar num fastfood que você goste e nos empanturrar de batatinhas fritas, o que acha? – disse, e os olhinhos dele brilharam, aprovando.

— Sem ketchup. – ele disse determinado. Fiz a minha melhor cara de ofendida.

— Não acredito que você é da minha família.

— Ketchup faz mal, foi o que minha professora disse. – ele falou daquela forma que só os homens de minha família eram capazes de falar, como se soubessem de tudo. Isso era fofo. Um mini-Ducker.

— Acredite em mim. Seus professores não sabem do que falam. Escute sua tia. – apontei pra mim. Isso era um péssimo conselho. Mas eu sabia bem que tinha razão em colocar as palavras da professora em duvida.

Violet - único amor da minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora