De volta pra casa.

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Cheguei em casa exausta, achando que meu dia já havia sido tenso demais. Abri meu apartamento e me joguei no sofá, apanhei aquele pingente e comecei a  observa-lo, até que ouço a voz de Liza.

-Já chegou Gabi? Tão cedo? 

Rapidamente guardei o pingente na mochila e fingi que estava tudo bem. 

-É... A aula foi puxada. E seu treino? 

-Não fui hoje. 

-Por que? 

-Fiquei com o Ryan. -Disse envergonhada. 

-Claro, como não imaginei? -Fui irônica indo até a cozinha pegar uma maçã.

-Gabi, eu quero te pedir desculpas, sério. Eu não devia ter mentido sobre quem eu era, muito menos te meter naquela confusão, mas já passou, na verdade eu descobri que ele me ama do jeito que sou. E eu quero que me perdoe também. 

Olhei-a de cima a baixo, respirei fundo e respondi. 

-Olha, foi errado, mas eu fico muito feliz de você ter reconhecido, afinal, uma amizade se estabelece entre puxões de orelha, amor, confiança, e perdão. Então, eu te perdoo. Fica tranquila. -Sorri por fim deixando a maçã na fruteira e indo a abraçar. 

-Ah que bom, você não sabe como eu fiquei feliz. -Me abraçou mais forte. 

-Eu também, e como foi com o Ryan? 

Demos algumas risadas e nos jogamos no sofá para conversar, eu amo tanto aquela esquentadinha, que não sei o que seria de mim sem a amizade dela. Após um tempo de conversa, contei a ela sobe a minha viagem a Nova Iorque. 

-Você vai voltar pra lá? Mas e as aulas? E a sua apresentação? 

-Calma, eu vou ficar só esse feriado, ai vou voltar, e depois vou pra lá nas férias. 

-E o apartamento? 

-Ué, eu vou levar minha chave e você fica com a sua. Simples. 

-Vou ficar com o apartamento só pra mim?-Seus olhos pareciam brilhar. 

-Vai, mas não quero você trazendo seus namorados aqui. -Mostrei a língua. 

-O Ryan me respeita ok, ele nunca tentou nada comigo. 

-Então vocês não... 

-Não! A gente foi pra um parque, e ficamos lá, acabei dormindo nos ombros dele, acordamos no dia seguinte, e voltamos pra casa. 

-Nossa Liza... Desculpa... 

-Tá tudo bem, eu não devia ter saído de noite, qualquer um teria pensado a mesma coisa que você. Mas olha, eu sou cristã, e mesmo que eu tenha dito que posso curtir mesmo assim, eu sei dar limite e ter também. 

-Eu sei... Te julguei mal, talvez porque eu esteja distante de Deus, imaginava que você também estivesse. 

-Olha Gabi, você se afastou de Deus, mas nunca pediu ajuda. 

-Nunca, eu quero fazer isso sozinha. 

-Isso é uma escolha sua. Mas ta tudo bem, e... Conta comigo tá? 

Assenti, ela beijou minha testa e foi para o banheiro, nesse intervalo de tempo eu apanhei meu notebook e fechei as passagens, chequei meu passaporte e organizei minhas malas, eu sairia de Mentrial durante a madrugada. Sim, eu sou um pouco desorganizada.

Terminando de fechar tudo, fui jantar, e a Liza caprichou muito bem.

-Liza? O que é tudo isso? -Disse aparecendo na cozinha.

-Comida mexicana. Quis cozinhar coisas mais apimentadas. 

-Percebi. -Ri enquanto olhava a comida alaranjada de pimenta. 

-Mas nem ficou tão forte, pode provar. Só vou lavar aqui. 

-Não, a louça é minha, vem, odeio comer sozinha. -Sorri e ela se sentou comigo, admito que fiquei com medo de queimar minha língua, mas Liza comia tudo com tanta naturalidade que parecia comer um doce, então dei a primeira garfada, e me apaixonei. -Você devia cozinhar isso mais vezes. -Ri.

-Pode deixar. -Riu.- Que horas você sai?

-As quatro. 

-Da tarde? 

-Não, desta madrugada. 

-Mas Gabi, tão já? Você avisou o estúdio e a escola? 

-Não, a escola e o estúdio vão estar fechados durante o feriado. -Falei de forma óbvia. 

-Bom, ok... Vou sentir saudades. 

-Eu também, mas são só quatro dias, e espero que você não se esqueça de limpar esse apartamento. -Ri. 

-Pode deixar. -Riu.- Gabi, posso te pedi uma coisa? 

-Pode... 

-Nas férias, eu posso ir com você pra Nova Iorque? 

-Por que? Não vai visitar seus avós? 

-Meus avós só vão estar na cidade deles duas semanas antes das aulas, e eu não quero esperar sozinha, eu banco tudo, só queria ir com você, e conhecer seus pais, todas as vezes que eles vem eu durmo fora. 

-Por mim você pode Liza, vou ver com meus pais, mas se eles deixarem, você dorme no meu quarto. -Riu. 

-E aliás, eu ouvi falar que seu irmão é um gato. -Engasguei, a fazendo rir. -Ciúmes? 

-Claro, eu to muito jovem pra pensar em ser cunhada da minha melhor amiga. -Rimos.- Sem contar que eu tenho ciúmes de todo mundo que simplesmente respira o mesmo ar que ele.

-Nossa Gabi. 

-Esse é o preço de ter um irmão bonito. -Mostrei a língua e voltamos a comer, acabando, lavei a louça e preparei os últimos detalhes da minha bolsa, guardei meus documentos e ajustei o despertador, fiquei assistindo televisão com a Liza e depois disso fomos dormir. Mas para não esquecer, guardei o tal pingente na minha bolsa de mão, e por fim, adormeci. 

Acordei as três e quinze da madrugada, esfreguei meus olhos e pela primeira vez em muito tempo, me ajoelhei e orei, foi uma oração curta, mas fora o máximo que consegui.

Após orar e me arrumar, tomei meu café e me despedi da Liza, mandei mensagem a minha mãe dizendo que estava indo ao aeroporto, fechei minha bolsa e chamei um táxi. Ao chegar no aeroporto, fiz check in e me sentei a espera do anúncio de vôo.

Passaram-se trinta minutos, fizeram a primeira chamada, já me direcionei a entrada para o avião e embarquei, tomei meu assento e por volta de vinte e cinco minutos depois, todos estavam a bordo, assim, o avião começou a decolar, nesse meio tempo, eu apenas observava a vista de Mentrial, logo depois coloquei meus fones de ouvido e fiquei observando a bela imagem do céu visto a cima das nuvens, certa de que aquela era uma das melhores sensações do mundo, sentir estar voando.

Passaram-se algumas horas, e finalmente o avião pousou, chamei um táxi e preferi fazer uma surpresa aos meus pais. Apanhei uma agenda e consultei o endereço da casa, mostrei ao taxista e por volta de vinte minutos, cheguei ao local e toquei a campainha, tive uma fração de segundos para respirar, e então a porta é aberta, revelando uma mulher elegante, loira por natureza, com os olhos um pouco fundos, provavelmente por chorar várias noites, e mesmo assim, continuava linda como sempre, ao me ver, abriu um largo sorriso esperançoso.

-Gabi...

-Mãe... -Sorri em meio algumas lágrimas e a abracei forte. Era ótimo estar em casa.

P.S Sinto sua falta [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora