Capítulo 5

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Pedi que o taxista desse algumas voltas pelas ruas da cidade antiga. Não queria correr o risco de ser seguida, ainda estou pensando por que diabos não vim com meu próprio carro. Desço à alguns quarteirões do ponto de encontro, isso me da tempo pra me acalmar e ter 100% de certeza de que não tem ninguém atrás de mim.

Não posso deixar de ficar maravilhada com Ulus, tantas coisas aconteceram aqui e ainda assim essa parte da cidade conserva uma beleza única, as ruas estão um pouco movimentadas, alguns comerciantes vendendo suas mercadorias, pessoas voltando do trabalho, vejo também um grupo de garotas da minha idade mais ou menos passeando.

Decido cortar caminho pela Mesquita, procuro meu lenço na bolsa e o coloco rapidamente, aqui não temos regras restritas do que vestir, mais quando nós mulheres entramos em alguma mesquita ou templo temos de colocar um lenço sobre nossos cabelos. Abe sempre me dá vários desses, sempre espalhafatosos é claro, o qual eu estava hoje era simples apenas algumas rosas bordadas em ouro no tecido preto.

Aproveito e compro algo para comer e continuo olhando tudo o que se passa a minha volta. Eu tinha uma "paranóia", talvez depois de tantos ataques eu tenha ficado mais cautelosa em relação ao ambiente à minha volta, não gosto de multidões. Até então tudo estava tranquilo. Apenas pessoas comuns passando, todas alheias ao fato de que uma reunião com os dois mafiosos mais influentes e perigosos dos últimos tempos está pra acontecer em algumas horas, e que se tudo der errado a vida que eles conhecem está por um fio.

Me dirijo para um pequeno restaurante que foi fechado a alguns meses, falência eles disseram, pobres inocentes. Comprei esse imóvel e todos a sua volta há um ano. Eles são de valor inestimável, não tem nada de atrativo, apenas o pequeno restaurante, alguns armazéns e uns prédios abandonados, resumindo uma parte decadente da cidade, ninguém vem muito ali. O que é perfeito pra nós.

Há dois anos quando Abe me disse que precisava de mim aqui na Turquia para ficar à par dos negócios ele me avisou que se eu fosse mesmo assumir tudo o que ele construiu até agora minha vida seria muito perigosa, pois ao longo dos anos ele foi acumulando muitos inimigos e alguns deles estavam dispostos a tudo para conseguir acabar com ele e eu era o meio mais rápido de conseguir isso. Alguns já mandaram seus homens atrás de mim, posso garantir que nenhum voltou. É claro que nenhum deles sequer imagina que eu a "filhinha indefesa" sou a assassina mais conhecida do submundo, o braço direito do tão temido Zmey.

A três quarteirões do restaurante já começo a avistar uma movimentação sutil, nada que quem não saiba o que procurar perceba. Homens estrategicamente posicionados no topo dos prédios e armazéns, dentro de alguns apartamentos e dos depósitos também haviam mais seguranças, assim como ao redor do restaurante. Como eu sabia disso? Simples. Passei os últimos 3 meses organizando a segurança dessa noite, eu mesma escolhi cada homem presente aqui hoje, apenas os melhores.

Coloco o rádio comunicador que Eddie me deu mais cedo e aviso que estou chegando. Sigo diretamente para o restaurante, tudo está silencioso, ninguém tem autorização pra entrar aqui. Decido ouvir o que se passa lá fora, coloco o fone do rádio e o arrumo por dentro de minha roupa de maneira que eu possa ficar atenta à segurança mesmo no decorrer da reunião. Me sento em uma mesa de frente para a rua do restaurante, ali tem uma janela panorâmica a qual eu mandei colocar vidro espelhado, assim eu posso acompanhar tudo aqui de dentro sem o risco de alguém me ver. E começo a ouvir o que os rapazes estão falando.

- Setor Oeste está limpo. - não consigo saber quem é quem por isso fico atenta apenas às informações.

- Armazém 2 tudo limpo.

- Setor Norte com movimentação de pessoas, vou dar uma olhada.

- Parte Sul tudo certo, Rick como tá ai?

- Setor Leste tudo ok. Apenas a Kurt Gölge - era assim que eles me chamavam pelas costas, loba das sombras, eles sabiam quem eu era e do que eu era capaz, só não sabiam meu verdadeiro nome, é claro que nenhum deles se atrevia a me chamar assim pessoalmente. - chegou à alguns minutos.

- Atualizando: setor Norte tudo limpo, eram apenas comerciantes indo pra casa.

- Pessoal à partir de agora estamos em alerta máximo, faltam duas horas para a reunião. Os Russos devem dar sinal a qualquer momento. - disse Eddie - Gölge você está ouvindo?

- Estou aqui. - digo, há um silêncio súbito dos outros rapazes, aposto 100 dólares que eles não esperavam que eu estivesse ouvindo.

- Astoria está indo ao seu encontro antes dos Russos chegarem, você à autoriza a entrar? - pergunta ele.

- Claro, acredito que temos alguns minutos até que mandem alguém. - digo com um suspiro - Astoria seja rápida.

- Ok Rose. - diz ela. Cara é muito útil ficar com isso, à partir de agora vou usar em toda reunião, normalmente apenas Eddie ou Rafael, meu segurança, ficam com o comunicador. Mais agora que vi o quão interessante é ficar ouvindo os relatórios (e o que os rapazes falam de mim pelas costas principalmente) de imediato não vou mais ficar no escuro.

Menos de dois minutos depois Astoria entra pelos fundos já me adiantando os últimos detalhes. Coloco o rádio para ouvir os rapazes apenas.

- Está tudo certo, seu esquema de segurança é muito bom. - diz ela com orgulho - Muito sábio de sua parte fortificar não só o restaurante mais também todo o complexo ao seu arredor num raio de três quarteirões.

- Quando se trata da minha segurança e da de Abe todo cuidado é pouco. - ainda mais envolvendo um dos países dos quais já tivemos muitos desentendimentos, a possibilidade de algo dar errado e estarmos indefesos é inconcebível pra mim. - Algum conselho de última hora?

- Exercite seu autocontrole, tome isso como uma lição extra. - diz ela piscando pra mim, sim Alberta além de uma ótima segurança é muito boa em lutas ela me ajuda nos treinos junto com Eddie e minha mãe. - Tenha calma. E muito, mas muito cuidado com o que fala, por favor. Segure sua língua!

Com essa eu tenho que rir. Rose Mazur não é conhecida por sua paciência. E sim por falar o que pensa e ser ótima em quebrar regras.

- Tentarei me lembrar disso. - digo com um meio sorriso.

- Tem certeza que quer fazer isso sozinha mesmo? - pergunta ela apreensiva.

- Absoluta. Agora vá, diga a Abe que irei me atrasar, mais em hipótese alguma diga que estou levando os Russos. Para todo e qualquer fim eles já receberam as instruções necessárias e estão indo para lá junto com Eddie e alguns outros rapazes. - eu com certeza iria ter de aguentar a fúria de meu Baba mais tarde, Eddie com certeza teria problemas também. Droga Rose, não pense nisso agora! Foco. Isso é algo que você terá que resolver depois.

- Tudo bem, até logo. Cuide-se menina Rose. - ela me da um leve abraço e sai. Ouço uma agitação da parte dos rapazes, mais pego apenas o final da conversa:

- ... Dobrando o segundo quarteirão a Oeste, interceptamos? Carter, suas ordens. - Está começando. Eles chegaram.

Herdeira Da Máfia (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora