14 As fogueiras de Smithfield

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As fogueiras de Smithfield: Relato sobre alguns mártires

que com a vida selaram seu testemunho pela fé

protestante

POR VOLTA DO TERCEIRO ano do reinado de Henrique I foi fundado o hospital de São Bartolomeu em Smithfield, pela ação de um menestrel do rei chamado Rayer. A obra foi depois concluída por Richard Whittington, vereador e prefeito de Londres. Esse local em Smithfield era na época o palco onde os vilões e outros transgressores dos decretos do rei eram executados.

JOHN BADBY , ARTESÃO

No ano de 1410 de nosso Senhor, no dia primeiro de março, um sábado, numa casa ou sala no interior do recinto dos frades pregadores de Londres, deu-se o interrogatório de um certo John Badby, artesão, na presença de Thomas Arundel, Arcebispo de Cantuária. Esse John Badby respondeu que era impossível que qualquer sacerdote produzisse o corpo de Cristo mediante a enunciação das palavras sacramentais.

O arcebispo, percebendo que ele de modo algum mudaria de opinião e, além disso, vendo que sua atitude teimosa e coração inabalável aparentemente começavam a convencer outras pessoas, declarou que John Badby era um herege público manifesto e o entregou ao poder secular.

Tendo os bispos concluído essas atividades pela manhã, à tarde o decreto do rei não se fez esperar. John Badby foi trazido para Smithfield, onde foi colocado dentro de um barril vazio e preso a uma fogueira com uma corrente, tendo lenha seca a sua volta. Estava ele nessa situação quando o príncipe, o filho mais velho do rei, demonstrando algum sentimento do bom samaritano, procurou uma forma de salvar-lhe a vida.

Nesse ínterim o prior de São Bartolomeu em Smithfield, precedido por doze tochas acesas, trouxe, com toda a solenidade, o sacramento do corpo de Deus e o exibiu ao pobre coitado junto à fogueira. E então lhe perguntaram o que ele acreditava estar ali presente. Respondeu ele que sabia muito bem que era pão consagrado e não o corpo de Deus. Em seguida atearam-lhe fogo. Quando aquela alma inocente sentiu as chamas gritou: — Piedade! — como se invocasse ao Senhor. Comovido com aquele grito horrível, o príncipe mandou apagar o fogo. Obedecida a ordem, perguntou ao condenado se ele abandonaria a heresia, dizendo-lhe que se o fizesse teria bens suficientes e prometendo-lhe também um estipêndio anual para prover o seu sustento, a ser pago pelo tesouro do rei.

Mas esse corajoso campeão de Cristo recusou a proposta, ignorando as belas palavras do príncipe e também desprezando todos os conselhos dos circunstantes. Ele estava plenamente determinado a preferir expor-se a qualquer espécie de tortura por mais dura que fosse a abraçar tamanha idolatria e perversidade. Por isso o príncipe deu ordens para que ele fosse imediatamente recolocado na fogueira. Mas em nada o alteraram as torturas que lhe impuseram, e ele perseverou invencível até o fim.

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