02 A história de Constantino, o Grande

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NO INÍCIO DA DÉCIMA perseguição, Diocleciano, ao ser feito imperador, associou-se a Maximiano. Os dois, governando juntos como imperadores, escolheram dois Césares subordinados a eles, a saber, Galério e Constâncio, pai de Constantino, o Grande.

Assim Diocleciano reinou com Maximiano e no décimo nono ano do seu reinado iniciou sua violenta perseguição contra os cristãos, depois do que não durou muito tempo em seu ofício. Pois aprouve a Deus pôr tal bridão na boca do tirano que dois anos mais tarde fez os dois, ele e Maximiano, desistir de suas funções imperiais para viver não como imperadores, mas como cidadãos comuns.

Depois que eles foram desalojados, o domínio imperial ficou nas mãos de Constâncio e Galério, que dividiram entre si toda a monarquia, de modo que Galério governaria os países do leste e Constâncio as regiões ocidentais. Constâncio, porém, sendo um príncipe moderado, recusou a Itália e a África, contentando-se com a França, a Espanha e a Bretanha, por serem os outros reinos complexos e difíceis de governar.

Galério escolheu Maximiano e Severo como seus Césares. Da mesma forma, Constâncio escolheu Constantino, seu filho, como seu subordinado.

Entrementes, enquanto Galério e seus dois césares estavam na Ásia, os soldados romanos estabeleceram como seu imperador Maxêncio, o filho de Maximiano, o qual antes se demitira. Contra ele Galério, o Imperador do Leste, enviou seu filho Severo, que nessa missão foi morto por Maxêncio. Em seu lugar Galério colocou então Licínio.

Estes foram os imperadores e Césares que, sucedendo Diocleciano e Maximiano, deram prosseguimento à perseguição iniciada pelos seus antecessores pelo espaço de sete ou oito anos, isto é, até o ano de 313 de nosso Senhor, devendo-se apenas ressalvar que Constâncio e seu filho Constantino não tiveram grande participação no fato, sendo antes protetores e defensores dos cristãos.

Constâncio foi um excelente príncipe, civil, brando, gentil e liberal, que procurava fazer o bem àqueles que sob o seu domínio detinham alguma autoridade privada. Certa feita Ciro disse que ele conseguiu para si mesmo um tesouro quando enriqueceu os amigos. Da mesma forma se diz que Constâncio costumava repetir ser preferível ver a riqueza pública nas mãos dos seus súditos a tê-la nos seus próprios cofres. Ele também, por natureza, satisfazia-se com muito pouco, tanto assim que costumava comer e beber em vasilhas de barro (hábito considerado altamente recomendável pelo siciliano Agátocles); e se alguma ocasião especial exigia que sua mesa fosse embelezada, costumava pedir emprestadas as baixelas de prata e acessórios de seus amigos. Em conseqüência de suas virtudes, houve grande paz e tranqüilidade em todas as províncias.

A essas virtudes Constâncio acrescentou um ornamento ainda mais dignificante, isto é, a sua devoção, amor e afeição à Palavra de Deus. Guiado por essa Palavra, ele não promoveu guerras contra a piedade e religião cristã, nem colaborou em alguma promovida por outros, nem destruiu igrejas, mas ordenou que os cristãos deviam ser preservados, defendidos e mantidos a salvo de insolentes ofensas. E quando as igrejas foram molestadas com perseguições em outras partes do império, ele foi o único que liberou os cristãos para viver de acordo com o seu modo de vida e tradições.

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