[DEZENOVE]: EU E VOCÊ

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DEREK

Meu peito queima após a longa caminhada. Estou um pouco suado, ainda com a respiração ofegante. Queria estar assim, suado e ofegante, por um outro motivo, mas estar aqui com o Nicholas compensa toda essa falta. Agradeço aos céus por ter conseguido convencer ele, por ter conseguido contornar toda a situação para trazê-lo aqui e livra-lo de tudo o que atormenta em segredo. Enquanto eu puder, farei isso. Eu vou proteger o Nicholas custe o que custar, até o último resquício do fio, quando for impossível me controlar para não socar a cara do Bryce ou dar um sumiço no Adam. Não vou permitir que nenhum dos dois machuque ele, as consequências são minhas, o problema sempre foi meu, eu criei isso.

— Se a gente não tiver calma, ela nunca vai ficar de pé. — falo para ele que já está estressado enquanto tentamos montar aquela barraca. — Talvez devêssemos ler as instruções, você é tão cabeça dura, essa barraca é gigante. — puxo o manual da sua mão depois de limpar o suor da testa com a camisa.

— Não vai ser necessário. — ele diz enquanto eu tento entender aquele manual que parece estar escrito em chinês de tão complicado. — Acho que encontrei o problema. — levo a minha visão para ele que desencaixa e desencaixa peças, parafusando algumas delas. Tento não rir ao imaginar no que aquilo vai dar, mas Nicholas é ágil o suficiente, trabalhando enquanto o suor escorre e a barraca vai ganhando forma até se sustentar em pé.

— Cacete! Você é um gênio. — faço ele rir. — Salvador da pátria, agora não vamos precisar morrer por causa desses insetos infelizes, a tia Zalia fez bem em mandar o kit de emergência que você não queria trazer. — alfineto em brincadeira.

— Uf! — Nicholas deixa o ar escapar ao se levantar, suado. — E agora, o que precisamos fazer? — ele me encara, limpando o suor da testa com a costa das mãos.

— Logo vai anoitecer. Acho bom pegarmos alguns gravetos secos para montarmos a fogueira. — tiro dois canivetes do bolso, destravo o primeiro, fazendo a lâmina aparecer e entregando-o para o Nicholas. — A gente se encontra aqui em dez minutos, nem mais nem menos, combinado? — ele concorda.

O plano era ter chegado mais cedo para aproveitar parte da tarde, mas os ensaios do Nicholas atrapalharam isso, por sorte, ainda tínhamos mais algumas horas de sol. A intenção inicial era trazer todos os nossos amigos conosco, a Alison, a Kimberly, mas nada saiu como o planejado. Me sinto bem o suficiente para saber que fiz o principal, que trouxe o principal. Livrar o Nicholas de San Pier e sair de lá também era tudo o que eu precisava para respirar outra vez sem me sentir sufocado.

Enquanto caminho recolhendo os gravetos, meus pensamentos se alternam entre ele e a Yuna, entre a possibilidade de tudo dar positivo, na possibilidade de eu ser mesmo o grande pai do ano por um descuido que só cometi uma única vez. Eu sempre usei preservativos. Não me sinto preparado para isso, para dar atenção a alguém que sequer sei se amo de verdade.

Isso tudo não deveria acontecer. É sabotagem.

Meus pensamentos mudam. Estou pensando no vídeo outra vez, nas mãos do Justin tocando as costas do Nicholas enquanto seus lábios se tocam naquele beijo de língua. Preciso apagar essa imagem da minha mente a qualquer custo, mas ainda é difícil fazer isso. Saber que o Adam tem esse vídeo me deixa com as mãos atadas para um progresso melhor. Eu estava controlado, mas ainda queria reagir, ainda queria correr, gritar e socar tudo ao meu redor até que as coisas voltassem a funcionar tão perfeitamente quanto funcionava há um ano atrás onde não tínhamos nada para nos preocupar além da possibilidade de não passarmos em Fallwour.

Muita coisa mudou desde lá.

Nicholas não está mais no time de futebol, e eu já nem sei se a faculdade é mesmo o meu sonho. Nós crescemos em tão pouco tempo, amadurecemos também.

Depois do Ritual (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora