[QUARENTA E DOIS]: A DESPEDIDA E A QUEDA

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NICHOLAS

O dia amanhece nublado, mas não está chovendo. Tenho a sensação de que os céus concordaram comigo sobre os acontecimentos para hoje, e enquanto me arrumo para fazer o que devo fazer, me pergunto qual é o motivo de eu não estar me sentindo feliz como eu deveria, embora eu saiba a resposta exata para essa pergunta. A peça no dia anterior foi aclamada por toda San Pier, e meus pais, que me tinham visto beijar um outro homem pela primeira vez de maneira pública, disseram que estavam mais do que orgulhosos de mim por ter recebido aquele papel e ter desempenhado ele de forma tão linda. Na verdade eles deveriam agradecer à Alison, ela foi a principal responsável por esse acontecimento, e se tudo der certo daqui pra frente, é graças à ela que estarei com um futuro mais que garantido naquilo que mais almejo fazer, e é com esse pensamento que tomo coragem para descer as escadas de casa até alcançar a sala, onde encontro a minha mãe sentada no sofá, fazendo tricô.

— Não vai chorar agora, vai? — ela arqueia uma das sobrancelhas, olhando para mim.

— Ainda não.

Mas sei que não vou conseguir aguentar até que ele vá embora.

— Boa sorte, meu amor.

É a última palavra que trocamos antes que eu saia de casa. Derek está me esperando na porta de casa, com um moletom preto e uma mochila nas costas. Está sozinho, embora o tio Fred e a tia Rouse sejam os responsáveis a nos levar para o aeroporto, a Alison e a Kimberly se despediram ontem após a peça, afirmando para mim que o momento de hoje deveria ser um momento meu e dele. Eu concordei com isso, precisamos ficar a sós pela última vez antes que ele se vá por seis meses.

— O grande dia chegou. — tento esboçar um sorriso sincero. Derek concorda com a cabeça, me encarnado de volta. — Como você está se sentindo?

— Estranho. Ainda não consigo acreditar que estou deixando San Pier para trás.

— É por uma razão maior.

— É.

O silêncio se instala por alguns minutos.

— Você mandou bem ontem. — ele elogia outra vez, fez isso durante a noite toda em nossas trocas de mensagens. — Estou orgulhoso de você, Danvers.

— Fico feliz por saber que você ficou aqui até hoje só para me assistir, acho que isso me deixou nervoso, mas determinado a dar o melhor de mim do começo ao fim. Obrigado.

— Eu sempre irei parar o tempo por você.

Me sinto estranho. As palavras soam estranhas porque agora eu sei que existe mais coisas do que existia antes, e agora ele sabe o que ele quer, para onde apontar, para onde ir.

— Posso fazer isso pela última vez? — minha mão encontra sua bochecha que aperto até que ele comece a rir e meu indicador entre no espaço da sua covinha.

— Não é como se eu fosse morrer, Danvers. — ele ainda está rindo quando dá um tapa em minha mão para me afastar. — E eu sei que prometi que terminaríamos isso juntos, então eu sinto muito por ir embora assim, desfazendo e quebrando a nossa promessa.

Sequer reclamei do tapa.

— Eu vou ficar bem, você não precisa ficar com essa preocupação.

— Posso te abraçar agora?

— Não quero começar a chorar aqui, talvez no aeroporto. — dou risada.

O momento é salvo pela chegada do tio Fred que traz consigo o resto das malas, ele está acompanhado pela tia Rouse, que reclama pelo atraso de minutos que eles estão tendo por causa do tio Fred. É dessa forma que eles se amam. Os dois me cumprimentam ao me ver, e então recebo aquele beijo na testa da tia Rouse antes que ela diga que eu fui incrível na peça.

Depois do Ritual (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora