[QUARENTA E QUATRO]: PONTO FINAL

2.3K 255 167
                                    

NICHOLAS

SEMANAS DEPOIS

Tenho aquela sensação de que nunca mais saberei como é respirar normalmente outra vez. Meus lábios estão entreabertos, puxando o ar que quero trazer para meus pulmões, mas mesmo assim, me sinto infinitamente sufocado e temeroso. É estranho notar como tudo mudou em poucas semanas, e é doloroso saber que não posso tirar a dor dele. Lorenzo tinha um brilho tão forte que poderia ser capaz de cegar os moradores de cidades aos redores de San Pier, e foi por esse brilho e por toda a essência que compõe a pessoa maravilhosa que ele é, que me apaixonei. Hoje ele está apagado. O que restou foram cinzas de algo que um dia pôde cintilar no céu e me mostrar que, mesmo difícil, a vida tem um grande valor. Ele perdeu a alma, seus olhos estão fundos, seus lábios já não exalam o sabor de hortelã e o seu belo sorriso com dentes brancos e alinhados sumiu como se nunca tivesse existido, nem um riso frouxo é tirado do seu rosto de maxilar desenhado. Nada sobrou. Deveríamos estar em vitória depois de termos derrotado o Adam, que mesmo tendo pago uma fiança para conseguir se livrar das grades, ainda precisará responder judicialmente e indenizar todas as garotas, além de ter perdido a chance de ingressar em qualquer faculdade da Califórnia – por esse motivo ele foi mandado para Londres, sem chances de retorno, embora isso não seja o mais adequado para as merdas que ele fez, desejaria o pior, mas tê-lo longe de mim, dos meus amigos e de San Pier já é o começo de algo que se torna um livramento de toda a tensão que antes senti. –, sujando o próprio nome e levando sua família consigo, já que seu pai estava em investigação e em breve teríamos um novo prefeito para liderar San Pier quando as eleições começassem.

Esse deveríamos nunca poderá ser real.

Seus braços me envolvem pela cintura. Estamos nos fundos, matando um dos horários de aula porque ele não se sente bem o suficiente em estar ali dentro, acompanhado de outros adolescentes que tentam justificar a sua perda ou dizer que tudo vai ficar bem. Minha cabeça está pousada contra o seu peitoral, contra aquela jaqueta de couro preta, e meus dedos estão entrelaçados em seus dedos vermelhos. Lorenzo está frio, machucado por ter socado uma das suas paredes na noite anterior. Sei que isso não é um livramento para a dor, mas não posso impedi-lo de fazer. Só ele sabe como dói, eu estou aqui apenas para prevenir que algo maior aconteça e para que ele saiba que não está sozinho, jamais estará.

Me recordo da promessa que fiz para o seu pai, Sr Lorenzo Edward Hasting. Eu prometi que cuidaria do Lorenzo, que não o deixaria afundar mais do que já está afundando. Pretendo manter isso até aonde eu conseguir suportar, as cordas estão desfiando, e às vezes é impossível carregar um peso que não deseje ser carregado. Estou com as mãos aqui, estou me entregando por completo, mas a decisão não é somente minha, ele tem que querer sair do poço que entrou por mais fundo e aconchegante que seja, não é inspirador estar assim, não traz paz, apenas a sensação de conformismo com o mal que o consome por dentro.

Tenho esperança de que as coisas vão ficar bem.

Preciso puxa-lo para fora.

— Você pensou? — ele retorna para aquele assunto dos dias anteriores.

Eu pensei e minha resposta continua sendo não. Não consigo me imaginar deixando San Pier ou toda a minha vida para trás. Ir agora significa desistir da formatura e deixar a Alison e a Kimberly antes de descobrir quem eu sou, não posso fazer isso. Eu fiz uma promessa para o Derek e uma promessa para mim mesmo, eu disse que estaria aqui quando ele voltasse, e ele prometeu que iria voltar. Eu me fiz convencido de que Los Angeles seria a minha primeira opção e de que o meu sonho importava mais do que qualquer outra coisa no universo. Sonhos sempre importam mais do que qualquer outra coisa, não posso desistir do meu.

Depois do Ritual (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora