Capítulo 16

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Fui pra casa e encontrei um homem na cozinha com a minha tia.

- Hã, oi ? - falei desconfiado

- Olá. - o homem me estendeu a mão

- Ah, oi Ruy. Esse é Calvin Mendes, pai de Lia. - não escondi minha surpresa

- Pai da Lia ? Ela ... O senhor sabia que ela está te esperando ?

- Eu sei. - ele coçou a cabeça. - Eu não consigo encarar ela agora.

- Não consegue encarar sua filha ? O que acon ... - fiquei sério. - Ela não resistiu né ?

- Ruy! - minha tia chamou minha atenção

- Tudo bem Kelly. - ele respondeu. - Foi isso mesmo.

- Cara ... Eu sinto muito. - falei

- É, eu também. - ele levantou. - Eu preciso ir.

- Quer que eu vá com você? - minha tia perguntou

- Eu adoraria, de verdade. - ele sorriu fraco

- Tá bem, vamos.

  Quando ele passou pela porta eu segurei o braço da minha tia.

- Achei que não gostava dos Mendes. - sussurrei

- Eu não os conhecia direito. - disse ela. - Julguei errado. Não seja como eu.

- Sim senhora. - falei

-E fica aqui, eu já volto.

  Sentei nas escadinhas da casa e vi os dois entrarem na casa de Lia.

Esperei, esperei, esperei. Até que vi Lia abrir a porta e sair correndo em direção a rua.

- Lia?! - corri atrás dela

Ela só parou quando chegou a uma  praça.

- Lia ?

Ela arfava e soluçava de tanto chorar.

- Ela não resistiu. - disse ela

- Eu sinto muito. - me aproximei dela

- O que eu vou fazer agora Ruy ? - ela catarrava

- Eu sei como é isso. E estou aqui pra te ajudar a superar, vai ficar tudo bem. - me controlei pra não chorar

- O que eu faço agora ??

- Chora. - ela me fitou um pouco. - Chora mesmo, chora tudo o que tem pra chorar pra dar uma aliviada.

- Lia ?????? - Eleanor vinha correndo junto com Maggie e Laura

- Amiga, nós ficamos sabendo. Eu sinto muito! -Maggie a abraçou

- Eu sinto muito! - Laura disse, chorando junto

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No dia seguinte, quando cheguei na escola, tudo parecia triste e vazio.

Lia não ia pra escola obviamente e mesmo assim teríamos que apresentar o trabalho.

- Podem vir: Eleanor, Ruy, Ryan e Alex. - a professora chamou

- Lia não vai ficar sem nota né? - perguntei

- Mas é claro que vai. - Franzi o cenho

- O quê ?

- Ela não está aqui, Ruy.

- A mãe dela morreu!

- Eu não sou culpada disso.

- E a sensibilidade, fica aonde ?

- Ruy. - Eleanor me cutucou

- Não! - berrei. - Se a Lia vai ficar sem nota, eu vou ficar sem nota também. - saí da sala e fui pra arquibancada

Esse é o meu segundo lugar favorito.

Lembrei de Lia falando e sorri.

- É Lia, é o meu segundo lugar favorito também.

- Eae. - Alex apareceu

- O que tá fazendo aqui ?

- Tentando fazer uma coisa certa pelo menos uma vez na minha vida. - disse ele, sentando ao meu lado

- Largou o trabalho ?

- Lia era a líder do trabalho. Ela nos emprestou a casa, os livros, o computador, nos deu biscoitos e suco. Tudo para o trabalho ficar perfeito. E agora, chegar o dia de apresentar sem ela ? Que fez praticamente tudo ? Não vira. - ele soltou um riso abafado

- Foi bem isso que pensei. - falei

- Eae gente. - Ryan se juntou a nós

- Não vai apresentar? - Alex perguntou

- Não. Qual é, eu posso ser um idiota as vezes, mas sei ser um amigo. Ou pelo menos, sei ser sensato. - concordei com a cabeça

- Daqui a pouco Eleanor vem também. - sorri

- Não conte com isso, mano. - Ryan riu

- Por que ?

- Ela tá lá apresentando o trabalho sozinha.

- Como é ? - Alex perguntou

- Vai ganhar a nota sozinha. Nós todos zeramos.

- Dane-se a nota! - berrei. - Ela está apresentando ??????

- Está.

  Passei por eles furioso e fui até a sala. Abri a porta na bicuda e vi ela parada em frente a todos, pronta para terminar.

- MAS QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO ? - berrei pra ela

- Estou apresentando o trabalho. - disse ela

- VOCÊ NÃO TEM SENSIBILIDADE NÃO ???

- Sensibilidade ? - ela riu sarcástica. - O que a sensibilidade vai me trazer no futuro ? Sensibilidade vai me formar ? Sensibilidade vai me garantir boas notas ??? Olha, eu sinto muito pela morte dá mãe dela Ruy. Mas isso aqui é importante, é um trabalho! É uma nota! Uma nota importante! Que vai contar muito no futuro para um trabalho e para a faculdade.

  Eu ouvia as palavras não acreditando que estavam saindo da boca dela. Da menina mais legal e simpática que eu já conheci.

- Você não presta. - balancei a cabeça e saí da sala

- Ruy, volta aqui! - ouvi a professora gritar

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Eu estava anestesiado novamente. Tomei as dores de Lia, e toda aquela onda gigantesca da morte dos meus pais me anundou de novo. Me fazendo fraquejar mais uma vez.

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